Fotos na Ary Coelho foram a vida de Roque e legado segue vivo pelas lentes do sobrinho

Profissões que foram sucesso no passado hoje foram ultrapassadas pela tecnologia que, por sua vez, cria novas oportunidades

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Máquina do lambe-lambe (Foto: Divulgação/MIS-MS)

Os mais de 100 anos da Praça Ary Coelho carregam na bagagem a história de inúmeras pessoas que diariamente passam pelo local que é ponto de referência em Campo Grande e personagem central da série do Jornal Midiamax sobre o Dia do Trabalhador, celebrado na última segunda-feira (1º).

O vai e vem de pessoas que passaram pela Ary Coelho foi o cenário e a vida do saudoso Roque, famoso lambe-lambe que atuou durante anos no local. No ano passado, aos 82 anos, Roque descansou, mas deixou o legado e as câmeras analógicas como sua maior herança para o sobrinho-neto, Roniton Luiz Mendes, de 24 anos.

Fotógrafo e profissional do audiovisual em 100% do tempo, Roniton cresceu no meio do maquinário do tio-avô Roque e imaginando que mágica acontecia dentro daqueles equipamentos.

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Câmeras foram herdadas por Roniton (Fotos: Arquivo pessoal)

“Ele me instruiu, ele me contou e ensinou o básico da fotografia e nisso ele me mostrou algumas câmeras antigas dele e me contou que existia a profissão chamada lambe-lambe, que chama assim pela mania de, para poder selar o rolinho de filme, ele dava uma ‘lambidinha’ para poder fixar”, conta ele ao Jornal Midiamax.

Roque era muito reservado e dificilmente contava sobre a vivência diária na Ary Coelho e, como um fotógrafo tradicional, dificilmente deixava-se fotografar. “Uma das únicas pessoas que ele conversou sobre [lambe-lambe] foi eu mesmo. Quando eu demonstrei interesse e fui atrás, ele me convidou pra ir na praça Ary Coelho”, diz.

Passada de bastão

A Praça Ary Coelho foi palco do início da história de Roniton na fotografia. Ao lado do tio, fez suas primeiras fotos lá na praça, durante suas férias, aos 14 anos. Roque passou anos fotografando as pessoas naquele local, mas, naquele dia, permitiu que o sobrinho fizesse seu próprio retrato.

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Lente que Roque usava para fazer as fotografias (Foto: Arquivo pessoal)

Roniton ainda guarda as fotos, assim como parte do equipamento do seu tio. “Eu acabei ficando meio que de herança com alguns dos equipamentos, algumas câmeras analógicas. Então, eu não tenho a máquina lambe-lambe inteira, mas eu tenho a peça que é a lente. Eu não sei se acabou perdendo com o tempo, quando ele faleceu foi distribuindo as coisas, então não sei com quem foi parar”, relata à reportagem.

Roque foi grande inspiração de Roniton e única influência dentro da família. “Na minha família a única pessoa que eu tive como referência foi ele, porque ninguém da minha família é fotógrafo”, explica.

“Foi só meu tio que viveu a vida inteira da fotografia, então foi uma inspiração, eu vi que dava para ser fotógrafo. Hoje eu trabalho com fotografia, com vídeo, foto, com marketing. A parte audiovisual praticamente dominou a minha vida, é essencial para mim”, conta Roniton, que tem uma produtora audiovisual.

Lambe-lambes em extinção

O ganha-pão desses trabalhadores em extinção é uma invenção analógica curiosa: um caixote sustentado por um tripé, que tinha à frente um obturador e atrás um pano escuro, onde eles se escondiam por alguns segundos para tirar a foto. A revelação era feita em poucos minutos, ali mesmo.

Até pouco antes do início da pandemia de covid-19, era possível encontrar lambe-lambes que resistiram ao tempo na Capital sul-mato-grossense. Hoje, dificilmente. A cineasta Marinete Pinheiro, que estuda os lambe-lambes, inclusive, tirou sua foto para a primeira carteira de trabalho com esses profissionais.

“Fiz a foto da minha primeira carteira de trabalho com um lambe quando tinha 15 anos”, contou ela ao MidiaMAIS, em janeiro.

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Fotógrafo Maximiliano Martin Martin, em 1973, em São Paulo/SP (Marcio Mazza/Acervo fotográfico do MIS-SP)

Do tripé para as alturas

Enquanto o caixote de madeira e o tripé foram guardados, um equipamento tecnológico ganhou os céus com o mesmo fim: capturar momentos. Os drones surgiram há pouco tempo, mas representam uma grande evolução na captura de imagens.

E com um equipamento complexo e de alto valor, surgiu a necessidade de pessoas capacitadas para lidar com eles. Foi justamente dessa necessidade que a empresária Juliana Sakai, de 36 anos, e o marido decidiram investir nesse nicho.

“Quando começou a lançar os drones, não havia ninguém aqui em Campo Grande que fizesse assistência técnica nessa área e o Gilmar [marido] começou a se especializar, olhar vídeo, ir em palestras, ir a eventos e crescer nessa área. Ele viu que poderia dar retorno e começou a atender em casa. Como foi aumentando os clientes, a gente resolveu abrir a loja”, lembra ao Jornal Midiamax

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Empresária Juliana Sakai (Foto: Kísie Ainoã/ Jornal Midiamax)

Com a loja Drone Storm Hobby surgindo do crescimento desse mercado em Mato Grosso do Sul, Juliana vislumbra ainda muito a se explorar, principalmente na área rural. “Hoje a gente tem drones de pulverização, mas ainda, por conta do alto valor do equipamento, os produtores ainda se assustam e têm receio de usar”, explica ao Jornal Midiamax.

Engenheiro ambiental de formação, o piloto de drones Nathan Bulhões, de 32 anos, conheceu esse mercado em crescimento durante o final da faculdade.

“Eu trabalhava com imagem de satélite e foi nessa época que eu vi que os drones também poderiam fornecer uma imagem, na mesma perspectiva que uma imagem de satélite, mas com uma resolução muito melhor e esse foi o ‘start’ inicial para eu ir atrás dos drones, que é a utilização dele dentro da frente de trabalho que a gente tinha de mapeamento aéreo”, esclarece.

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Drone (Foto: Kísie Ainoã/ Jornal Midiamax)

Atualmente, Nathan usa os drones na medição de áreas de propriedades rurais através do mapeamento, mas também faz a captura de imagens por hobby. “Eu comecei a usar o drone dentro da área da engenharia, mas com o passar do tempo eu vi que o drone poderia me fornecer algo a mais no dia a dia”, começa.

“Eu também comecei a usar ele como uma ferramenta de hobby, para lazer na parte da fotografia e filmagem. Eu vi que ali também tinha um mercado para eu atuar, tanto na área urbana, quando na rural”, explica Nathan, que também empreende na área de eventos, mercados imobiliários e outros.

O piloto engenheiro aplica treinamento para futuros operadores de drones – com direito a certificado e carteira de piloto – e avalia o mercado como um ofício em expansão. “O drone é uma ferramenta relativamente nova para algumas pessoas, mas já está atuando em alguns pontos de forma corriqueira em propriedades rurais e a tendência é aumentar cada vez mais”, opina Nathan.

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Engenheiro ambiental e piloto de drones Nathan Bulhões (Foto: Kísie Ainoã/ Jornal Midiamax)

Curso de piloto de drone

Segundo o engenheiro, a legislação não pede um curso ou certificado para operar um drone, mas devido à complexidade e ao valor do equipamento, estar capacitado é de extrema importância.

“O drone é um equipamento relativamente caro, então é muito importante fazer um treinamento inicial para saber como manusear o equipamento, para ter uma segurança maior para você, para seu equipamento e para as pessoas que estão próximas com seu drone”, ressalta Nathan, que oferece esse treinamento.

O curso depende do nível de conhecimento técnico prévio do aluno, assim como seus objetivos ao usar um drone, que podem ser pequenos até os maiores, de pulverização.

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Drones de diversos tamanhos (Foto: Kísie Ainoã/ Jornal Midiamax)

Atento às mudanças

Com as novas tecnologias, algumas profissões perdem a funcionalidade, como o caso dos lambe-lambes e dos datilógrafos, e segundo especialista em Recursos Humanos, Ana Lia Coletto, é preciso sempre estar atento às mudanças nas profissões.

“As profissões mudam constantemente, passam a utilizar a tecnologia e, por isso, o profissional precisa acompanhar o que há de novo no mercado, tendências e novas práticas. O profissional atualizado consegue obter melhores resultados individuais e coletivos”, diz Ana ao Jornal Midiamax.

Para ela, a ‘reinvenção’ precisa ser uma constante, já que o ser humano é, muitas vezes, motivado pelos desafios. “É preciso aprender algo novo todos os dias, realizar atividades diferentes, trabalhar de forma ativa naquilo que o mercado necessita, propor soluções inovadoras para as empresas que trabalham ou prestam serviço”, explica.

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Ana Lia é especialista em RH (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo Ana Lia, o profissional precisa estar reavaliando a trajetória e buscar entender onde é possível crescer e onde pode acabar ficando sem função.

“A mudança não necessita ser, necessariamente, de profissão, mas pode ser a evolução de vários, migração para uma nova área, um novo conhecimento ou atuação em uma área similar”, cita a profissional.

Confira as matérias publicadas na série especial do Jornal Midiamax sobre o Dia do Trabalhador, que contou histórias de pessoas que se cruzam na Praça Ary Coelho:

1 -Vendedores ambulantes

2 – Do estudante ao aposentado

3 – ‘Ponto’ central de Campo Grande

4 – Empregados e desempregados andam lado a lado

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