Por memória afetiva, professora de MS não vende relíquia que vale ouro: ‘quero guardar’
As lembranças da época estão na memória e nos ‘tipos’ da máquina de escrever
Fábio Oruê –
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Anos atrás, a impressora, o teclado e o computador eram um equipamento só. A descrição pode ser confundida com um notebook ou algo até mais futurístico, mas é de algo que ficou preso no passado, que a ex-datilógrafa e hoje professora Roberta de Lima, de 50 anos, guarda consigo há 34 anos.
Nesta terça-feira (24), em que se comemora o Dia do Datilógrafo, não se tem mais profissionais para parabenizar, já o datilógrafo caiu em desuso há anos e é até desconhecido das novas gerações. A tecnologia tornou até sem sentido a data, que já teve muita importância, mas ficou na memória.
O datilógrafo era usado para redigir textos, cartas, ofícios e petições em escritórios e repartições até os anos 1990, quando os computadores pessoais começaram a se popularizar. Foi quando o equipamento, comprado em 1988, foi guardado e nunca mais usado por Roberta.
O diploma do curso de datilografia feito ano de 1987 era uma necessidade na época e exigência para desempenho na função, relembra ela ao Jornal Midiamax. “Era um diferencial ao ingresso o mercado de trabalho, sobretudo para trabalhar em escritórios, bancos, entre outros, na época”, conta.
Atualmente na área da educação, Roberta ainda guarda na memória os anos com sua “xodó”. “No período pandêmico, exigiu-se muito dos professores terem conhecimentos tecnológicos. Em reunião pedagógica, disse que fiz meus trabalhos acadêmicos em uma ‘olivetti’ — que era uma das melhores marcas de máquina de escrever. Quando disse ‘olivetti’ ninguém sabia do que eu estava falando”, lembra.
O adeus ao datilógrafo
Mesmo “saindo” da profissão, o equipamento a acompanhou. “Trabalhei como datilógrafa em duas agências bancárias e como secretária durante 6 anos em uma concessionária, onde usei um bom tempo a máquina de datilografia. Eu vendia consórcio, mas mexia com toda burocracia dos cadastros para financiamento de veículos; tinha uma papelada para enviar para administradora e eu que elaborava todo o processo”, diz.
“E na época de 1994 a 1997 era a máquina de datilografia que era usada. Na empresa havia 1 computador para parte financeira apenas”, complementa ela, que trabalhou com o datilógrafo até 1998 quando engravidou do primeiro filho.
Ainda depois da gravidez e ingressando no magistério, Roberta continuou usando o datilógrafo. “Quando me tornei professora, ainda usei a máquina no início, pois em 1999, já existiam os computadores, e o uso da máquina de datilografia ficou obsoleto”, relembra.
Memória afetiva
Com a chegada e popularização dos computadores, o datilógrafo caiu em desuso e o que um dia foi de extrema importância, acabou sendo substituído. “O curso de datilografia era importante, como na atualidade ter curso básico de informática, ou seja, ter noção de tecnologia”, compara Roberta.
Atualmente, a máquina de escrever virou artigo de decoração e colecionador, podendo ser encontrado na faixa de preço de R$ 120 à R$ 2 mil. Mas qual o preço de uma memória?
O equipamento que Roberta guarda é uma Olivetti Underwood 298, que custa cerca de R$ 1,2 mil — mas nem a bolada a faz vender. “Minha máquina faz parte da minha memória afetiva, do início da minha vida acadêmica e profissional, quero guardar como uma relíquia”, explica.
Nenhuma empresa mais fabrica máquinas de escrever no mundo, mas os equipamentos continuarão sendo relíquias, que há tempos ajudaram a criar clássicos da literatura eternizados até hoje.
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