De passageiros a motoristas, Praça Ary Coelho é ponto central entre trabalhadores de Campo Grande
Local conhecido por concentração de moradores, Praça Ary Coelho é ponto de apoio entre moradores de Campo Grande
Nathália Rabelo –
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Situada no coração de Campo Grande, entre duas principais vias da Capital – Avenida Afonso Pena e Rua 15 de Novembro – a Praça Ary Coelho é ponto estratégico para quem trafega pela cidade, seja sentido bairro-centro ou o oposto. Não é à toa que o quadrilátero é rodeado por pontos de ônibus e de mototáxis, afinal, num espaço onde se pulsa a vida, o constante movimento é necessário.
Nesta reportagem em homenagem ao Dia do Trabalhador, o Jornal Midiamax te convida a conhecer a realidade dessas pessoas que possuem a Praça Ary Coelho como ponto central para ir ao trabalho ou descansar em meio à vida urbana. Além dos trabalhadores que usam transportes coletivos ou alternativos na rotina, existem aqueles que igualmente se concentram na praça e tornam todo o tráfego possível: os motoristas e mototaxistas.
A equipe de reportagem passeou no local por dois dias, onde encontrou várias histórias diferentes, mas que se assemelhavam em uma característica. Todos os entrevistados têm a Praça Ary Coelho como ‘ponte’ para se locomover na Capital ou trabalham nas imediações.
É o caso de Darci Ferreira Gomes, de 54 anos. Ele trabalha há mais de duas décadas como mototaxista no ponto rotativo localizado em frente à Praça Ary Coelho, na esquina da Afonso Pena com a 14 de Julho. Durante todo esse tempo, conseguiu fazer o seu nome e tem passageiros fiéis diariamente na sua agenda. Ao Jornal Midiamax, ele afirma que atende cerca de 20 pessoas por dia.
Assim, Darci divide sua rotina entre levar passageiros do centro aos bairros, dos bairros ao centro e, de quebra, ainda ajuda o pessoal do comércio com a entrega de produtos. Por ser um ponto estratégico, ele nunca cogitou trocar de espaço.
“Como aqui é concentrado o ponto de ônibus, o pessoal desce para ir aos consultórios, escritórios, então a gente transporta muito esse pessoal”.
Mesmo apaixonado pelo seu ofício, Darci explica que muita coisa mudou ao longo do tempo, especialmente quando se trata da popularidade dos aplicativos de transporte.
“O trânsito de campo grande está complicado e depois que entraram os aplicativos, de carro e de moto, ficou ainda mais. Atrapalhou o trânsito, o fluxo de carro é maior, param em qualquer lugar para pegar passageiro e acabam atrapalhando”, explica.
Apesar do aumento do tráfego de Campo Grande, os motoristas de aplicativo também sempre rondam a Praça Ary Coelho por ser ponto de partida e chegada de muita gente. Para quem acaba de se mudar, o meio alternativo de locomoção é imprescindível.
Em busca de novos horizontes
Vindo do Amapá, Daylan do Nascimento Miranda se aventurou por terras sul-mato-grossenses em busca de crescimento profissional. Sentado na Praça Ary Coelho à espera de ir ao dentista, ele reservou um momento para compartilhar sua história com a equipe de reportagem.
Daylan mora há um mês em Campo Grande, mas já passou por Três Lagoas e Água Clara. Ele trabalha como operador de máquina de empresa especializada em colheita de eucalipto e encontrou no Estado uma oportunidade de crescimento. “A área que eu trabalho é bem grande aqui”, comenta.
Recém-chegado à Capital, ele afirma que está se habituando à cidade e que tem a Praça Ary Coelho como espaço para relaxar e apreciar a nova vida. Além disso, o único transporte utilizado, até o momento, foram os aplicativos.
“Eu uso Uber e já passei pela praça várias vezes. Hoje estou aqui aguardando para ir ao dentista aqui no centro, depois vou ao Mercadão”, diz ele, afirmando que espaço é um ponto de ligação entre os seus compromissos.
Um pouco mais à frente, Luiz Carlos de Oliveira aguardava o transporte coletivo na Rua Treze de Maio. Era fim de tarde e, enquanto muitas pessoas iam para suas casas, ele se preparava para ir ao trabalho.
Nunca é tarde para se reinventar
Aos 59 anos, o sorriso no rosto e a disposição de Luiz Carlos de Oliveira revelaram sua gratidão pelo ofício de vigilante noturno. Ele subiu na linha 053, em frente à praça na 13 de Maio, por volta das 17h. Estava na hora de ir ao trabalho e ele convidou nossa equipe para acompanhá-lo até o Terminal Hércules Maymone.
A bordo do coletivo, Luiz revelou que é barman formado e atuou por muitos anos na profissão. No entanto, uma doença congênita nos quadris impediu ele de desempenhar sua função. Porém, ele não podia ficar parado e conseguiu mudar de ramo. Atualmente, ele completa cinco anos na área da vigilância e afirma: “gosto do que faço”.
Natural de Bauru (SP), veio a Campo Grande há cerca de nove anos. Morador do Bairro Aero Rancho, o trabalhador precisa pegar quatro ônibus para ir e voltar do trabalho. Todos os dias, sua rota para na Praça Ary Coelho, espaço que já é considerado de grande importância na sua vida.
“A Praça Ary Coelho é um espaço cultural, de descanso e lazer, para todas as idades. Eu acho que esses espaços deveriam ser bem mais conservados. Precisa de mais atenção dos órgãos responsáveis”, comenta.
Dentre conversas sobre a vida e o trabalho, Luiz ainda confessou que, como um bom barman, tem um drink autoral intitulado ‘Superfície’, um coquetel refrescante muito requisitado por mulheres. Apesar da saudade da profissão passada, tem gratidão pelas oportunidades de hoje e ainda incentiva os mais jovens a irem atrás dos sonhos.
“Tenha foco naquilo que almeja na sua vida. Quem é jovem, tente se profissionalizar, terminar o seu estudo, fazer um curso profissionalizante, aumentar o currículo porque aqui fora é muito concorrido […] se eu fosse um pouco mais jovem, partia para a área de TI”, brinca.
Encontro de Gerações
Histórias que vêm e vão, mas ficam guardadas na eternidade. Situada no centro da Capital, a Praça Ary Coelho recebeu o nome em homenagem ao médico mineiro Ari Coelho e, desde os primórdios de sua criação, desempenha um grande papel social. Uma delas, inclusive, é o encontro de gerações.
Aos 18 anos, Thalita dos Santos Silva, divide a rotina entre a faculdade de Direito e trabalho de mirim em empresa de transporte. Passeando pelo local durante a nossa visita, contou que tem uma rotina bem puxada, especialmente agora que está fazendo curso.
Questionada sobre uma das maiores dificuldades, ela explica ser a inconsistência de horário por ser usuária de transporte coletivo.
“A desvantagem é o horário porque tem vezes que o horário não bate pra mim, tenho que ficar mais de uma hora esperando no terminal ou aqui no ponto”, comenta.
Assim, o jogo de ‘malabarismo’ para conciliar tudo já faz parte da sua rotina, mas tudo em busca de um sonho.
“Como jovem aprendiz, a gente também tem um dia do trabalhador porque a gente trabalha como todo mundo. Meu sonho é trabalhar na área da promotoria”.
Enquanto isso, Juan Junior Pereira Leal, de 25 anos, já conseguiu se estabilizar na profissão como auxiliar de manutenção predial. Vindo de cidade interiorana, mora na Capital há três anos.
“Eu saí de uma cidade pequena e aqui tem várias oportunidades de emprego para a pessoa crescer, até agora estou achando bom”.
Usuário de transporte coletivo, alega que sempre ‘bate ponto’ na Praça Ary Coelho para fugir da correria do dia a dia.
“Sempre quando eu passo aqui na praça eu paro para tomar um ar, uma água de coco porque é sempre bom, como eu passo aqui, dar um tempo. É um lugar pra gente passear, acho bem tranquilo. Toda vez que eu passo aqui eu dou uma respirada”, conclui Juan.
Dia do Trabalhador: ofício permitiu concretização de sonhos
Durante o nosso passeio à praça central, ainda tivemos o privilégio de conhecer o Ademir Vicente. Aos 60 anos, está aposentado e recorda com muito orgulho dos anos de trabalho suado como servente de obras. Foi com o seu ofício que conseguiu concretizar sonhos e conquistar sua independência.
“Era uma vida boa, a gente [serventes de obra] torcia para chegar sexta-feira para receber, mas graças a Deus deu tudo certinho. Hoje estou aposentado, estou em paz”, diz ele feliz, enquanto aguardava o seu ônibus rumo à sua casa.
Vicente ainda alega que gostava muito de trabalhar, mas a visão foi sendo comprometida com o avançar da idade. Hoje, tem uma vida mais tranquila e grata por todo o trabalho já realizado.
“Eu fazia as coisas com boa vontade, nada com preguiça, chegava sempre no horário certo, era uma vida boa, maravilhosa”, recorda ele, emocionado. A conversa, então, encerra com uma boa despedida.
Enquanto Ademir ia embora da Praça Ary Coelho após anos de trabalho, muitas outras pessoas chegavam em busca de oportunidades. Gerações que encontraram ali um ponto de apoio para conquistar sonhos.
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