Criticada por negligência, Santa Casa defende que ‘medidas foram tomadas’ antes de morte de bebê

Hospital defende que todas as medidas de atendimento foram tomadas, porém óbito foi inevitável devido à gravidade da doença

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(Foto: Leonardo de França/Jornal Midiamax)

Após Gabrielle de Souza Montalvão, de 23 anos, registrar boletim de ocorrência contra a Santa Casa e denunciar hospital por negligência em atendimento ao seu filho de três meses, Caleb Montalvão Milano, falecido no dia 9 de maio, hospital se manifestou e disse que todas as medidas para assegurar o atendimento e saúde da criança foram tomadas.

Em comunicado oficial enviado na manhã desta sexta-feira (16), a Santa Casa pontua que Caleb nasceu com diagnóstico de cardiopatia complexa gravíssima e que as taxas de morte da doença alcançam mais de 90% nos primeiros meses de vida. Assim, uma das opções para a melhora da sobrevida é a cirurgia de Fontan, que pode ser feita entre 4-6 meses de idade. Segundo o hospital, a cirurgia estava programada para paciente.

“Porém, o isomerismo atrial direito geralmente vem acompanhado da ausência do baço, o que expõe o indivíduo ao risco elevado de contrair infecções ameaçadoras à vida. Infelizmente, desde o 1º mês de vida, o pequeno enfrentou internações relacionadas a problemas respiratórios virais e pneumonias que só pioram o prognóstico de alguém já muito debilitado”.

Ainda em nota, a Santa Casa alega que Caleb deu entrada na unidade hospitalar em 7 de maio e que foi prontamente atendido pela equipe da área vermelha da pediatria e identificado o estado grave de insuficiência respiratória.

“Após estabilização inicial, a internação em UTI foi solicitada, assim como o preenchimento de papelada e o acionamento da médica cardiologista de sobreaviso. O paciente foi subsequentemente encaminhado ao leito de UTI e o ecocardiograma foi solicitado. A médica cardiologista posteriormente realizou o exame, constando no laudo “Ventrículo Direito com dilatação de Grau Moderado”, o que em geral configura sinal de insuficiência cardíaca. Vale ressaltar que devido à doença de base, Caleb não tinha os dois ventrículos cardíacos, sendo apenas o direito, mais fraco, o que funcionava”.

Segundo o laudo da médica, o mesmo estava sobrecarregado. O Hospital ainda alega que foram tomadas diversas medidas, como melhora do suporte de oxigênio, redução de aporte de líquidos e infusão de diuréticos em mais alta dose, a fim de diminuir a sobrecarga cardíaca.

“Todavia, mesmo após contínuas medidas de otimização, na madrugada do dia 8/5 para o dia 9/5, o pequeno mostrou sinais de que seu coração não conseguiria mais suportar, apresentando piora do padrão cardiorrespiratório e evoluindo para intubação orotraqueal. No transcorrer do dia, para o pesar de todos, o quadro não melhorou. Nosso apoio psicológico deu suporte à família na sua angústia pela piora do bebê, e às 20:38 daquele dia 9/5, infelizmente Caleb faleceu”.

Hospital afirma ter dado suporte

O hospital também defende que todas as medidas foram tomadas para dar suporte ao paciente, mas apesar disso a doença se agravou sobremaneira. Além disso, pontua que está analisando o caso e buscando os envolvidos na assistência ao paciente. Porém, diz que não foi possível evitar o óbito do bebê pelo fato de ser uma doença grave.

“A Santa Casa se mantém consciente de seu dever para com a população e não se furta em empreender todos os esforços em favor da vida, mesmo que, por vezes, não tenhamos sucesso diante da inevitabilidade da morte”, conclui a nota.

Relembre o caso

Gabrielle de Souza Montalvão, de 23 anos, registrou boletim de ocorrência na última terça-feira (16) contra a Santa Casa de Campo Grande. No documento policial, a mulher alegou omissão do hospital e demora em atendimento especializado por falta de cardiologista pediátrico, o que teria culminado na morte de seu filho de três meses, Caleb Montalvão Milano, falecido no dia 9 de maio.

Conforme a denúncia da mãe, o bebê chegou na Santa Casa por volta de 9h do último domingo com saturação em 45% e outros sintomas, o que representava alto risco à sua saúde. No entanto, a primeira medicação e suporte médico só teriam sido oferecidos ao paciente após quatro horas desde a sua entrada na unidade de saúde. “Após implorar muito a equipe médica plantonista, pois a cianose piorou muito, a criança estava toda roxa”.

Mas foi às 13h do mesmo dia que o bebê foi para a área vermelha do hospital e a Santa Casa teria solicitado a presença imediata da médica cardiologista pediátrica. No entanto, nenhum médico especialista teria avaliado o paciente.

“As 22:00 do dia 07/05/2023, o quadro foi se agravando, e a criança foi encaminhada para a UTI, sem qualquer avaliação de cardiologista pediatra. Tampouco, realizaram o exame de ecocardiograma, ou seja, o básico nesses casos mesmo com inúmeras ligações e tentativas de acionar o SAC, inclusive foi informando que não havia cardiologista pediátrica no hospital”, alega a defesa da mãe de Caleb.

O óbito de Caleb foi registrado no dia 9 de maio à noite. Pela manhã, criança ficou instável e precisou ser entubada, aponta a denúncia.

“Importante informar que, ao longo do dia 09/05/2013, a criança teve várias paradas cardiorrespiratórias e foi ressuscitada por diversas vezes, porém, sem qualquer socorro de um especialista em cardiologista pediatria. Quando a especialista chegou para realizar o ecocardiograma, o coração já tinha parado”, conclui a denúncia contra o hospital.

Onde estão os cardiologistas pediátricos do SUS?

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou à equipe de reportagem que as consultas com cardiologistas pediátricos são ofertadas no HU, Santa Casa, HRMS, CEM e Cemed.

“Por mês, são 383 vagas disponibilizadas pelo SUS para consulta. Hoje, na fila, há apenas 84 pacientes aguardando consulta, sendo que destes, 90% são para retorno. Desta forma, a demanda atual está sendo absorvida não havendo, portanto, falta de acesso”, informa.

Em relação aos horários, a secretaria afirma que cada unidade hospitalar ou prestador é responsável por organizar as agendas, mas reforça que há atendimento sendo realizado durante a semana e fim de semana. “Ao município, cabe fazer a gestão da fila e a contratualização do serviço”, diz, por meio de nota.

O Jornal Midiamax também questionou a Santa Casa sobre a quantidade de cardiologistas pediátricos no quadro e a disponibilidade de atendimento, especialmente aos fins de semana, mas não houve retorno até o momento sobre esse tema. Espaço segue aberto para manifestações.

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