Os recentes ocorridos envolvendo pessoas em situação de rua, que vivem na região central de fez com que o assunto se alongasse em debates envolvendo o poder público. Para aqueles que trabalham diretamente na assistência dessas pessoas, a falta de preparo dos agentes de segurança é um dos principais problemas que geram a migração das ‘cracolândias' da Capital.

Na última semana, o Jornal Midiamax publicou uma série de reportagens sobre as pessoas que vivem nas ruas da Capital. O aumento de ‘minicracolândias', tráfico doméstico, bocas-de-fumo e a segurança de moradores de rua foram temas abordados pelas equipes de reportagens.

Entre os casos recentes envolvendo pessoas em situação de rua e a ação dos agentes de segurança, está o de Cauby de Freitas Moraes, de 56 anos, morto após ser espancado por um guarda civil metropolitano em Campo Grande.

Segundo a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Maria Auxiliadora Fortunato, é necessário um trabalho de humanização com aqueles que atuam na segurança pública e lidam com moradores de ruas e usuários de entorpecentes.

“Não seria eliminar a GCM (Guarda Civil Metropolitana) na atuação com moradores de rua, mas trabalhar na humanização. Não repreendendo, batendo, expulsando, como uma espécie de higienização grosseira, porque eles são seres humanos”, comentou.

Presidente do Conselho Municipal de Saúde, Maria Auxiliadora Fortunato. (Foto: Kísie Ainoã, Midiamax)

Segundo ela, o comandante da GCM teria admitido a falta de preparo de alguns agentes para lidar com o problema. “Muitas pessoas não têm perfil, chega batendo, chutando. Entendemos que muitos trazem problemas, mas a maioria não é assim”.

O ponto levantado por Fortunato ocorreu durante audiência pública realizada nesta segunda-feira (15), na Câmara Municipal de Campo Grande. A Comissão Permanente de Política e Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos, presidida pela vereadora Ribeiro (PT), convocou o debate.

Durante o debate, pessoas que atuam no atendimento de moradores de rua citaram a falta de preparo de agentes de segurança para lidar com a situação. Para a vereadora, o problema envolve diversas políticas do poder público.

“Temos alguns conhecimentos técnicos sobre o que motiva as pessoas morarem na rua é a situação de pobreza. É preciso que a gente melhore um conjunto de políticas, a economia precisa melhorar, a oferta de habitação e trabalharmos na reconquista dessas pessoas com seu espaço privado”, comentou a vereadora.

Vereadora (PT). (Foto: Kísie Ainoã, Midiamax)

Além disso, Luiza Ribeiro destacou a falta de políticas públicas oferecidas pelo Executivo Municipal atualmente, considerando necessária a ampliação do “núcleo de atendimento de pessoas nas ruas, ampliação o CAPs e criação um serviço específico de pessoas nas ruas que fazem o abuso de álcool e drogas”.

Internação pode não ser a única solução para moradores de rua

Também presente na audiência, a Edna Flores de Araújo, presidente da Associação Águia Morena, afirmou ser necessário criação de políticas públicas mais efetivas, para atender essas pessoas.

“Em primeiro momento precisamos entender que as pessoas em situação de rua precisam de cuidado, precisamos de uma força tarefa para conseguirmos implementar políticas de cuidados e trabalhar a cidadania com essas pessoas”, comentou.

Para ela, um dos principais pontos para a resolução do problema é o trabalho de conscientização da sociedade, que carrega preconceitos relacionados a pessoas que vivem nas ruas.

“A sociedade tem dificuldade para debater essas políticas. Nós precisamos ampliar a rede de cuidado, que é pautada não só na assistência, na educação, na segurança pública, cidadania, inclusão dessas pessoas”.

Segundo Kedney Graico, redutor de danos Associação Águia Morena, as unidades de acolhimentos e unidades terapêuticas não são as únicas saídas para pessoas que vivem nas ruas.

“Temos que pensar em políticas para aqueles que optaram por ficar na rua. Onde ele pode se alimentar, onde ela pode tomar um banho, onde poderá buscar um apoio jurídico ou psicológico”, comentou.

Edna Flores de Araújo e Kedney Graico. (Foto: Kísie Ainoã, Midiamax)

Moradores pedem mais segurança

A briga entre usuários de droga resultou em um acidente grave com uma criança, de 10 anos, nos arredores da Igreja Perpétuo Socorro expôs um problema crítico da região. Há anos, a antiga rodoviária de Campo Grande se tornou uma espécie de “cracolândia”.

Moradores da região relatam, que convivem com a insegurança causada pela aglomeração dos usuários, principalmente em dias de maior movimento na igreja. Diante da situação, o santuário afirma que vai pedir reforço no policiamento.

Em nota, o Santuário Estadual afirma que entende a complexidade da realidade social e reforça a importância dos poderes executivo estadual e municipal desenvolverem políticas públicas de assistência social e de segurança mais eficazes, a fim de que essas pessoas em situação de vulnerabilidade social sejam reinseridas na sociedade.

Moradores do entorno da igreja, afirmam que há anos convivem com o aumento do fluxo de usuários de na região, reflexo da situação da antiga rodoviária. Eles pedem reforço no policiamento e atendimento aos moradores em situação de rua.