Com 16 ambulâncias e surto de doenças, espera por atendimento pode chegar a 21 horas em Campo Grande

Com uma ambulância a cada 56 mil habitantes, 16 viaturas do Samu e Bombeiros se dividem para atender 7 mil ocorrências por mês
| 12/07/2023
- 08:19
samu
Samu e Corpo de Bombeiros (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Baixo número de ambulâncias, surto de doenças e retenção de macas fazem com que o tempo de espera por atendimento chegue a 21 horas em Campo Grande.

Leitores do Midiamax relatam que, desde o começo de julho, há uma demora para atendimento seja do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ou do Corpo de Militar de , especialmente quando se trata de transferência de um paciente de uma unidade de saúde para um hospital. 

A demora, nesses casos, pode chegar a 21 horas como foi para a saladeira Luciana Brandão, de 44 anos, que esperou das 23h de domingo (9) até às 21h de segunda-feira (10) para ser transferida da UPA Moreninhas para a Santa Casa, mesmo com a vaga liberada já no hospital. A mulher hipertensa caiu em casa e bateu a cabeça, o que gerou um grave sangramento. 

 

Conforme conta a filha, Stephanie Brandão, de 21 anos, a família precisou desembolsar R$ 1.026,00 para que uma ambulância particular fizesse a transferência da mulher que chegou em estado grave na Santa Casa e foi internada no CTI (Centro de Terapia Intensiva). 

“Ela tem pressão alta, desmaiou, bateu a cabeça e ficou desnorteada, não fala coisa com coisa. Isso foi negligência porque liguei em tudo quanto é lugar, até para deputados, e ninguém fez nada. A minha mãe estava toda mijada, vomitando sangue e sangrando”, recorda a filha. 

Campo Grande tem apenas uma viatura Ursa (para atendimento avançado) em circulação. (Nathalia Alcântara/Midiamax)

Poucas ambulâncias para muitas ocorrências

Campo Grande tem 897,93 mil habitantes, de acordo com o Censo Demográfico 2022. São 16 viaturas para atender toda cidade com quase 900 mil moradores, sendo 5 do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul e 11 do Samu. 

 

Contudo, Campo Grande já chegou a ter 13 viaturas do Samu em 2019.

No CBMMS, as ambulâncias são denominadas viaturas URs (Unidades de Resgate). Na Capital, dos cinco veículos, quatro são para suporte básico e um é Ursa (Unidade de Resgate e Suporte Avançado).

As ambulâncias do Samu e do Corpo de Bombeiros fazem atendimento de vítimas de acidentes de trânsito, emergências clínicas e no transporte inter-hospitalar de pacientes. 

 

A prioridade das duas entidades é o atendimento de casos de urgências e emergências, como acidentes graves de trânsito, paradas cardiorrespiratórias, obstrução das vias aéreas e incêndios. O tempo de atendimento varia de acordo com a complexidade e gravidade da ocorrência. 

Casos 'menos graves' esperam mais tempo

A classificação de prioridades é um dos pontos para a demora no atendimento na Capital, como foi o caso da idosa que esperou 40 minutos por uma ambulância depois de cair de um carro de aplicativo, do idoso que sofreu e esperou por horas para ser transferido de uma UPA para a Santa Casa e de um jovem de 15 anos que esperou uma ambulância sentido muita dor com o joelho deslocado.

“Há sempre a ponderação das ocorrências mais graves primeiro. Considerando esses fatores, aquelas ocorrências não consideradas de urgência ou emergência serão atendidas posteriormente, conforme disponibilidade”, afirma o CBMMS. 

Já a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), responsável pelo Samu, afirma que as prioridades são os atendimentos de rua, como são chamadas as ocorrências em que o paciente precisa de socorro, em detrimento aos transportes de pacientes às unidades hospitalares. 

“Uma vez que estes já estão com quadros estabilizados e possuem acompanhamento médico”, afirmou a Sesau em nota. 

Surto de doenças aumenta demanda

Balanço do Samu e do CBMMS mostram que a demanda na Capital é alta, visto que mensalmente o Samu recebe 20 mil ligações e faz 4 mil atendimentos por mês de diferentes complexidades. 

Já o CBMMS diz que cada UR chega a atender até 20 ocorrências por dia, o que representa uma média mensal de 3.100 atendimentos. 

Contudo, a rede pública em Campo Grande também encara nesta época do ano um aumento de atendimentos devido à oscilação de tempo entre quente e calor e baixa umidade do ar. 

O levantamento da Sesau aponta uma alta demanda nas duas últimas semanas e, principalmente, nos dois últimos dias.

Segundo o coordenador de Urgência da Sesau, Yama Higa, a mudança brusca de temperaturas penaliza especialmente os idosos que são acometidos por doenças cardiovasculares como infarto, derrame e AVC. 

“A atualização da última semana mostrou aumento de atendimento geral, principalmente, em mais idosos com doenças cardiovasculares e doenças respiratórias”, afirma.

Conforme o coordenador da Sesau, doenças cardiovasculares precisam ser tratadas em hospitais, o que explica o aumento da demanda de transferência de pacientes de unidades de saúde para hospitais. 

“20 minutos”

Não é difícil encontrar um campo-grandense que não tenha esperado por mais de uma hora para ser atendido por uma ambulância. 

De acordo com a Sesau, o tempo médio de espera para atendimento de casos de urgência é de 20 minutos, contudo há relatos de que a demora seja maior. 

“Sofri acidente em junho do ano passado e tive que aguardar 1h e 40min. Veio SAMU e precisou de apoio da URSA. Tive múltiplas fraturas”, comentou uma leitora nas redes sociais. 

“Essa cidade tem acidentes a todo minuto. Tem que aumentar a frota dos bombeiros e do Samu”, comentou outro. 

Na terça-feira (11), uma idosa que ia para uma consulta médica passou mal e bateu a cabeça antes de entrar em um carro de aplicativo, em Campo Grande. A mulher precisou esperar o atendimento caída no chão por 40 minutos.

Já o CBMMS explicou que, em média, cada ocorrência demora de uma a duas horas, conforme a demanda: desde o recebimento de chamado, triagem, despacho, deslocamento, atendimento propriamente dito, regulação médica, transporte até unidade de saúde até a limpeza e desinfecção da viatura para o próximo chamado.

O Midiamax perguntou ao Corpo de Bombeiros e ao Samu quantas ambulâncias estão em manutenção e qual a previsão para a normalização dos atendimentos, mas não recebeu resposta. O espaço continua aberto para futuras manifestações.

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