Não demorou muito para Tauan Corrêa Gonçalves, de 23 anos, perceber o quanto a comunidade indígena está “ligada na ”. Estudante de Agronomia, atualmente ele mora na cidade de Aquidauana, região oeste do Estado, mas sempre que pode fica com a família e os amigos na Aldeia Limão Verde, onde decidiu criar um perfil nas e de lá disseminar sua língua mãe — o idioma terena. 

“A rede social está muito forte na comunidade. Todo mundo ali tem um celular na mão e acesso à internet. Isso não só na minha comunidade indígena, mas em todas as outras do Estado. E aí o perfil para ensinar terena veio com o intuito de ensinar os nossos amigos patrícios e todos aqueles que têm curiosidade sobre a nossa cultura”, contou Tauan ao Jornal Midiamax. 

De acordo com o jovem, o perfil na internet, de nome Vemó'u, que significa a “nossa língua/ nosso idioma”, também é usado para as pessoas saberem de fatos curiosos da etnia, religião e o dia a dia dos indígenas. 

 
 
 
 
 
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“A ideia é falar da língua e também fazer esse resgate, principalmente porque a maioria dos parentes, aqueles que se mudaram para a área urbana, já perderam um pouco do dialeto da língua terena. E aqueles que já nasceram na cidade então, como, por exemplo, em Campo Grande, Sidrolândia e Dourados, sabem muito pouco e aí acabam falando somente a língua não indígena e não a nossa língua materna”, disse Gonçalves. 

Desde que criou o perfil, Tauan fala que tem recebido muitas mensagens de pessoas que possuem o sonho de aprender o idioma. “Os mais novos, por exemplo, falam que possuem o sonho de falar a nossa língua, de entender o que os mais velhos falam e, desta forma, entender um pouco mais da nossa história, de onde viemos, qual o percurso que fizemos até chegar aqui”, comentou.

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Estudante se identifica como Tauan Terena

Entre as curiosidades, o estudante fala que também posta sobre o envolvimento dos indígenas com a Guerra do Paraguai.

“Muita gente não sabe, só que lá eu explico o motivo de ‘pertencer' ao Brasil. Isso ocorreu por conta dos terenas, então, falo da nossa cultura também, da nossa vivência e até da nossa resistência em dias atuais. E, assim como os filósofos dizem, quando a língua morre, morre toda a marca registrada de um povo, de uma determinada sociedade, por isso a luta para perpetuar a nossa língua”, argumentou. 

Em outras aldeias do Estado, Tauan fala que ouviu de pessoas mais velhas sobre o medo do ‘bullying'.

“Algumas famílias me disseram que ficaram com medo de disseminar a língua materna com receio dos filhos sofrerem algum tipo de preconceito. Esta inclusive foi uma das principais justificativas para não disseminarem o terena como a primeira língua. Só que tem locais que, a partir dos 3 anos, já tem gente aprendendo, como em Miranda, na região da aldeia cachoeirinha e bananal, por exemplo”, ressaltou. 

Já na faculdade, Tauan fala que atua com resgate cultural e ensina sempre palavras aos colegas. “Eu motivei muitos a aprenderem e até criei um grupo, onde trocamos ideia de palavras novas. Meus projetos sempre incluem diversidade, cultura e também mostram os terenas dentro da sociedade. Quero que as pessoas não nos vejam como mostram nas histórias dos livros, como personagens do passado. Estamos vivos e cada vez mais presentes”, finalizou. 

Língua terena

No Brasil, especialistas falam que o idioma é falado por cerca de 15 mil indivíduos. Dos falantes, apenas 20% são alfabetizados no próprio idioma e 80% no português. A língua é falada, principalmente, em Mato Grosso do Sul, nos municípios de Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Miranda, e Sidrolândia.

É possível também encontrar falantes de terena em Porto Murtinho, onde está a aldeia Kadiwéu. Já em Dourados, região sul do Estado, está a terra indígena dos Guarani Kaiowá. Em São Paulo, também há registros de praticantes nas cidades de Bauru e Avaí. 

Outro idioma

No mês anterior, o Jornal Midiamax esteve em Porto Murtinho, na fronteira do Brasil com o Paraguai, onde falou do idioma Guarani.

Segundo os moradores da região, o idioma lá é falado “da porta de casa pra dentro”, tanto entre casais como pelas crianças, que observam e, por mais que elas não interagem, passam a entender alguns comandos e são a única esperança para que o guarani seja preservado.