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Cotidiano

Guarani é ‘idioma oficial’ dentro de casa na fronteira e jeito de preservar a cultura em MS

Casais falam que praticam a língua indígena e filhos entendem e reproduzem comandos
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Da porta de casa para dentro, o idioma que predomina é o guarani. Falado o tempo todo entre casais em , na fronteira do Brasil com o Paraguai, a língua de origem indígena é também observada pelas crianças e adolescentes. E, por mais que elas não interagem, passam a entender alguns comandos e são a única esperança para que o guarani seja preservado. Veja abaixo vídeos de murtinhenses falando em guarani.

A dona de casa Angélica Sanches Benitez, de 29 anos, diz que nasceu e cresceu no Paraguai. No entanto, após o falecimento dos pais, ela se casou com um paraguaio e mudou para o Brasil. Atualmente, mãe de três crianças, de 4, 8 e 11 anos, diz que “mantém a tradição” conversando com o marido, em casa, em guarani.

Dona de casa diz que pratica guarani com o esposo o tempo todo dentro de casa em MS. Foto: Marcos Ermínio/Midiamax

 

“Eu nasci e cresci do outro lado da ilha, no Paraguai. Desde muito cedo aprendi a falar em guarani. Já tem uns 5 a 6 anos que estamos aqui e assim que chegamos em casa começamos a falar. Meu esposo sabe mais do que eu ainda, nós falamos sempre em guarani aqui. As crianças não falam, mas, acredito que entendem tudo o que a gente está conversando”, comentou ao Jornal Midiamax a dona de casa. 

Da mesma forma, o garçom Lírio Ramirez, de 55 anos, conversa em guarani com a esposa. Ele conta que nasceu na área rural de Porto Murtinho e após um tempo foi com a mãe para a cidade em busca de oportunidades de emprego. 

“Ela veio para trabalhar em um e depois veio o meu pai e irmãos. Meus pais falavam em guarani o tempo todo. O guarani mesmo, aquele que é bem difícil. O que eu converso com a minha esposa já teve algumas adaptações, algumas mudanças. No meu caso, com 7 anos eu já entendia bem o que eles estavam conversando”, argumentou. 

Seo Lírio diz que, desde muito pequeno, presenciou os pais falando em guarani e agora pratica com a esposa e ensina clientes. Foto: Marcos Ermínio

 

Conforme Ramirez, os filhos também não praticam o idioma em casa, mas, observam os pais o tempo todo e reproduzem “alguns comandos”. “Aqui na região de fronteira muita gente que mora na cidade quer aprender. Eu também sou garçom e direto os clientes pedem para aprender algumas palavras”, explicou. 

Entre algumas curiosidades, seo Lírio fala os rapazes mais jovens querem saber como se pergunta para uma moça paraguaia se ela é solteira, como a elogia, dizendo que ela é uma moça bonita, entre outras coisas. Já no restaurante, os clientes pedem para aprender frases curtas. 

“Eles me perguntam como dizer que estão com fome, como pede o cardápio, como diz obrigado, essas coisas. É bem legal essa curiosidade com o guarani e eu estou sempre disposto a ensinar também. Isso tudo é a minha cultura, faz parte da minha vida”, ponderou. 

A vendedora de uma loja de roupas na cidade, de 38 anos, disse que todo mundo a identifica como “a paraguaia” na cidade. “Eu falo misturado às vezes. Tenho um sotaque muito forte ainda. E estou sempre sorrindo, sempre tentando alegrar as pessoas, então, elas gostam de me ver falando em guarani e em português. É o meu jeito de seguir a minha tradição”, disse. 

Pandemia ‘atrapalhou’ projetos, diz prefeito

Sobre os projetos que envolvem a disseminação e preservação do guarani na região, o prefeito de Porto Murtinho, (PSDB), fala que a questão cultural ficou muito prejudicada com a pandemia. 

“Nós estávamos com projetos em andamento, de preservação e disseminação do guarani. Ocorre que a pandemia atrapalhou e agora é que vamos retomar tudo isso. Eu fiz dois mandatos na cidade e inclusive tivemos um de nossos projetos culturais reconhecidos nacionalmente. Agora, vamos tentar resgatar tudo isso”, alegou. 

Quer aprender algumas frases?

Guarani Paraguái ñe’ẽ: Guarani é língua paraguaia.

Tupã yvága jára: Deus é o dono do céu.

Che mitã’i marangatu: Sou um menino esperto.

Amo amomeve: Às vezes sim, às vezes não. 

Ahase ógape: Quero ir para casa.

Quer aprender algumas palavras?

Abaetê: pessoa boa – pessoa de palavra – pessoa honrada – abaeté

Abaité: gente ruim – gente repulsiva – gente estranha

Abanheém: awañene – língua de gente – a língua que as pessoas falam

Aisó: formosa

Aiyra: filha

Cari: o homem branco – a raça branca

Curumim: menino (kurumí)Guariní: guerreiro, lutador

I: água – pequeno – fino – delgado – magro

Iandê: você

Membira: filho ou filha (v. raira)Oca: cabana ou palhoça, casa de índio (v. ocara, manioca)

Yamí (tucano): noiteYapira: mel (japira)

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