Após ameaças, rede pública prepara plano de ação em casos de massacres reais em escolas de Campo Grande

Ao menos seis casos foram registrados nos últimos três anos

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escola aluna massacres
Secretaria afirma criação de plano de ação em casos de atentados reais

As ameaças de massacres em escolas públicas de Campo Grande e Mato Grosso do Sul se intensificaram nos últimos anos, ao menos seis casos foram registrados nos últimos três anos. As formas de anunciar são diversas: bilhetes, mensagens em redes sociais, pichações e até mesmo mudanças na rede de internet. Os atos geram pânico e confusão entre os que estudam, ministram e administram.

Os casos não só chamaram atenção da população, mas também das secretarias de educação que buscam formas de prevenir um futuro ataque às unidades de ensino. De acordo com uma das responsáveis pela Egeprev (Equipe de Gerenciamento de Conflitos contra a Violência e Evasão Escolar), Mônica Silvano, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) está construindo um manual de instruções para que professores e alunos saibam como agir em caso de um suposto atentado.

“Nós já realizamos ações preventivas e também orientações aos profissionais da educação sobre como agir em casos de ameaça”, comenta Silvano. “Agora estamos criando um protocolo para trabalhar com as escolas um treinamento de como agir caso um atentado ocorra realmente”, explicou.

Para a responsável pela Egeprev o retorno às aulas na Reme (Rede Municipal de Ensino) após o fim das restrições pandêmicas foi conturbado, “acima do que esperávamos”, exprimindo necessidade de criação desse protocolo. “Já temos outros sobre violência doméstica e sexual, mas vimos ser necessário formalizar um novo para atentados, mas precisamos fazer isso de forma que não cause pânico”, finalizou.

A SED (Secretaria de Estado de Educação) afirmou prevenir ações que resultem em brigas e/ou agressões no ambiente escolar, bem como situações de ameaças e supostas ameaças, por intermédio da Coordenadoria de Psicologia Educacional, que disponibiliza um conjunto de orientações, manuais e ações pontuais, sobre procedimentos e encaminhamentos.

Conforme os protocolos disponibilizados pela pasta, é possível observar a ausência de medidas de ação em casos de um atentado como os já insinuados em escolas da REE (Rede Estadual de Ensino). Vale lembrar que o caso mais recente ocorreu na Escola Estadual Ada Teixeira, onde mensagens anônimas sugeriram um massacre.

Ameaça na Escola Estadual Ada Teixeira

Mensagem foi enviada de forma anônima. (Foto: Reprodução)

O alerta de massacre no horário do intervalo em escola de Campo Grande causou pânico nos pais de alunos na tarde desta quinta-feira (26). A Polícia Militar foi acionada para acompanhar a saída dos estudantes, que deixaram a escola na presença dos responsáveis.

Os alunos foram liberados das atividades mediante presença de pais ou responsáveis. Com filho matriculado no colégio, uma mãe de 42 anos disse que foi alertada por uma funcionária da escola. “Ela me ligou e disse sobre esse aviso que fizeram nas redes sociais. Na hora eu saí correndo para buscar meu filho. Foi avisado que seria por volta do horário do intervalo”, disse.

Ameaça na parede

Há poucas semanas, no dia 11 de maio, alunos e pais sentiram receio após um aviso de massacre ser colocado no banheiro de uma escola estadual de Campo Grande, na saída para Sidrolândia.

Na data, as aulas não foram suspensas, mas o policiamento na escola foi reforçado, como medida de segurança. Segundo a SED, na ocasião, todos os protocolos de segurança foram adotados para a tranquilidade dos alunos.

Recado foi escrito no banheiro da escola. (Foto: Reprodução)

Aluno com simulacro

No dia 6 deste mês, um aluno de uma escola estadual no Bairro Recanto dos Rouxinóis foi levado para a delegacia após relatar a colegas que estava com um simulacro de arma na mochila. A avó do garoto, responsável por ele, foi chamada na escola e, segundo os militares, o ocorrido foi registrado em ata e também foi pedida a transferência do aluno.

O estudante teria alegado que estaria guardando o simulacro a pedido de um amigo, para que a mãe dele não visse. Ele foi encaminhado para a Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude). Segundo os policiais, também devem ser feitas buscas na casa do aluno, para verificar a possível existência de outros objetos.

Bilhete em sala

No dia 28 de março, um suposto bilhete deixado em uma sala de aula de uma escola estadual, no bairro Vila Vilas Boas, também deixou os alunos em pânico. O bilhete dizia que haveria um massacre às 14h40, horário da saída dos estudantes. Também foi criada uma rede wi-fi com o nome ‘Massacre14h40’.

No mesmo dia, uma segunda ameaça de ataque a uma escola pública de Campo Grande mobilizou equipes policiais. A escola acionou os pais, que buscaram os alunos na Escola Estadual José Barbosa Rodrigues, no bairro Universitário.

A diretora adjunta da unidade, Célia Ferreira, informou que foi encontrada uma rede wi-fi, denominada ‘massacre14h40’.

Wi-fi ‘Massacre L.M.C 14:22’

Em março de 2019, a diretora da Escola Estadual Lucia Martins Coelho procurou a Delegacia Civil após alunos e professores detectarem uma rede wi-fi com o nome “Massacre L.M.C 14:22” durante as aulas pela manhã.

De acordo com o boletim de ocorrência, a diretora contou que o colégio estava em aula normal quando foi informada por dois professores que, na busca por wi-fi, estava aparecendo uma rede com o nome Massacre L.M.C 14:22.

Um dos docentes explicou que, conforme andava pelos corredores, o sinal da rede ficava mais intenso. Alguns alunos ficaram assustados com a possibilidade de um ataque idêntico ao que aconteceu em Suzano, ocorrido no mesmo mês daquele ano, onde 10 pessoas morreram.

A diretora relatou aos agentes que tranquilizou os estudantes, mas não conseguiu identificar o dono da rede.

Falsa ameaça de massacres é ato infracional

Em entrevista ao Jornal Midiamax, em 2019, a delegada Fernanda Félix, na época titular da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), alertou que caso a polícia identifique que autores das ameaças de ataques são estudantes, eles podem responder pelo ato infracional.

Na prática, caso os autores sejam menores de idade, eles podem ser internados em uma Unei (Unidade Educacional de Internação) pelo cometimento de ato infracional, que pode até configurar outros crimes.

“Pode parecer brincadeira, mas essa brincadeira se torna um ato infracional passível de apreensão em flagrante delito, pode configurar ameaça, apologia ao crime e instigação ao crime, se não caracterizar outro crime mais grave”, acrescentou a delegada.

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