Alvos de críticas e até de xenofobia, indígenas sempre foram prioridades em vacinações
A chegada da CoronaVac a MS na última segunda-feira (18) proporcionará a imunização prioritária de cerca de 80 mil indígenas aldeados que vivem em MS. Das mais de 158 mil doses entregues pelo Ministério da Saúde, 97 mil serão destinadas a esta população, que amargou mais de 3,6 mil casos confirmados de coronavírus em Mato […]
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A chegada da CoronaVac a MS na última segunda-feira (18) proporcionará a imunização prioritária de cerca de 80 mil indígenas aldeados que vivem em MS. Das mais de 158 mil doses entregues pelo Ministério da Saúde, 97 mil serão destinadas a esta população, que amargou mais de 3,6 mil casos confirmados de coronavírus em Mato Grosso do Sul.
Justamente por priorizar esse grupo, o plano de imunização do Ministério da Saúde foi alvo de críticas, que questionam o porquê deste grupo ser “privilegiado”. A situação piorou quando foi confirmada a informação de que mais da metade das doses de CoronaVac enviadas ao Estado seriam para indígenas.
Nas redes sociais, desde piadas sem graça até mesmo a palavra de ódio foram direcionadas ao grupo. A situação escancara o descaso e indiferença com indígenas e obriga a relembrar porque, afinal, indígenas estarão à frente na imunização contra a Covid-19.
A médica infectologista, Mariana Croda, explica que os povos indígenas sempre foram prioridades nos planos de imunização do país. Diante de uma pandemia, portanto, a situação não seria diferente. Isso porque os indígenas são historicamente mais vulneráveis que os não-indígenas e, inclusive, compreendem campanhas de vacinação próprias.
“Eles são considerados uma população vulnerável a doenças respiratórias. São mais propensos a morte por doenças respiratórias do que os não-indígenas. Eles não têm muito contato com os não-indígenas e, quando têm, qualquer vírus se espalha rapidamente entre eles”, comentou a médica.
“Diante da pandemia da Covid-19, os moradores das aldeias acabaram sendo expostos até três vezes mais que a população não-indígena”, explicou. A infectologista também pontua que, desde que o SUS (Sistema Único de Saúde) existe, o Programa Nacional de Imunização sempre priorizou os indígenas nas campanhas de vacinação.
“Inclusive, eles devem tomar a vacina pneumocócica [23 valente], que não tem para o restante da população”, disse. Vale lembrar que, na primeira campanha de vacinação contra a Influenza H1N1, os povos de terras indígenas também foram prioridade. O primeiro caso de coronavírus nas aldeias foi registrado no dia 13 de maio de 2020, em Dourados.
Talvez por isso o simbolismo presente no ato que deu início à vacinação de Covid-19 em MS, na tarde da segunda-feira, tenha tanta importância: quem primeiro recebeu a imunização foi a indígena Domingas da Silva, de 91 anos, moradora da Aldeia Tereré em Sidrolândia. Ela representa a comunidade que supera 80 mil indivíduos e que, doa a quem doer, seguirão prioritários nesta e em outras campanhas de vacinação.
Imunização esbarra em logística
Com a segunda maior população indígena do Brasil, Mato Grosso do Sul já distribuiu as doses do imunizante para iniciar a vacinação nas comunidades indígenas. No entanto, muitos municípios sofrem com a dificuldade na logística para conseguir efetivar a imunização.
Os prefeitos de Aquidauana, Dourados, Amambai e Miranda, afirmaram que já planejam a logística para garantir que os moradores das aldeias sejam vacinados.
Mais cedo, em Dourados, cidade que concentra a maior população indígena de MS, a imunização deveria começar nesta terça-feira (19), com a chegada das primeiras 29 mil doses e que são suficientes para atender somente 14,5 mil pessoas. As primeiras doses seriam aplicadas em indígenas da Aldeia Jaguapiru, mas devido aos problemas logísticos e da burocracia, o Município precisou alterar o cronograma.
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