Afetadas pela quarentena, corridas em aplicativos caem 70% e motoristas migram para delivery

Motoristas de aplicativo em Campo Grande seguem rodando nas ruas, mesmo com quantidade parca de clientes. No início da quarentena na Capital, o setor viu o movimento diminuir em cerca de 40%. Passados 15 dias da estratégia de contenção no novo coronavírus, a queda é muito maior: cerca de 70% das corridas desapareceram. Com isso, […]

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Motoristas de aplicativo em Campo Grande seguem rodando nas ruas, mesmo com quantidade parca de clientes. No início da quarentena na Capital, o setor viu o movimento diminuir em cerca de 40%. Passados 15 dias da estratégia de contenção no novo coronavírus, a queda é muito maior: cerca de 70% das corridas desapareceram.

Com isso, quem tinha carro próprio ou insistiu em seguir no ramo precisou usar a criatividade. Muitos deles migraram para os aplicativos de delivery, até mesmo de carro.

Isso porque estimava-se que 70% dos veículos cadastrados nos aplicativos fossem locados. O aluguel variava de R$ 450 a R$ 900, a depender da empresa e da negociação. Com a queda dos clientes, locadoras até diminuíram os preços. Mesmo assim, muitos devolveram os veículos.

“Nunca mais apareceu tarifa dinâmica. Eu usei a criatividade e faço algumas viagens com preço combinado, por fora, indo buscar e deixar em supermercado, por exemplo. Mesmo com as orientações de higienizar os veículos, as pessoas não saem de casa. Por um lado é bom porque respeita a quarentena, por outro a gente não consegue mais se manter”, conta Rodrigo Ocampos, que tirou a moto da garagem e passou também a fazer entregas.

“Eu tenho feito corridas próximo ao toque de recolher, tem uma movimentação melhor. Mas, as ruas em si são desertas nesse horário. É desesperador”, comenda David Fernandes, que roda em dois aplicativos.

Luiz Couto, que rodava também em dois aplicativos, trocou o carro pela moto nas últimas semanas. “O lucro é bem menor, eu acho que a gente se expõe bem mais, mas foi a solução que encontramos. Pelo menos está tendo muita corrida de delivery”, conta.

Insegurança

O presidente da Applic (Associação dos Parceiros de Aplicativos de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul), Paulo Pinheiro, detalhou que a queda no número de corridas e a migração para o delivery trouxe insegurança ao setor.

“Estamos sem suporte por parte das plataformas. Motoristas estavam à mercê da situação. Como a grande maioria paga locação de veículos, e alguns pagam parcelas de financiamento, além da manutenção diária, que é obrigatória, muitos estão migrando para o sistema de delivery, que teve um aumento muito grande na frota”, detalha.

Segundo Paulo, o auxílio emergencial de R$ 600, em fase de implantação, trará alívio à categoria. “A Applic-MS está vendo a possibilidade de sentar com representantes de locadoras e bancos que financiaram os veículos para dar um prazo para que eles possam continuar honrando seus compromissos”, complementa.

Termômetro

Nesta quarta-feira (1º), a movimentação de veículos pela cidade parece diferente, segundo depoimentos de motoristas colhidos pelo Jornal Midiamax. O número de carros estacionados, por exemplo, é próximo ao dos dias normais. Só os clientes que continuam em falta.

Em meio a pandemia, motoristas de aplicativo que seguem “na fé” acabam se tornando uma espécie de termômetro. Hoje, eles relatam que parece haver um ensaio para um eventual retorno da normalidade, apesar da quarentena e do isolamento social seguirem em recomendação pelas autoridades sanitárias em MS.

O número maior de carros nas ruas está relacionado à flexibilização das restrições ao comércio. Bancos, lotéricas, restaurantes, indústrias e construção civil voltaram a atender na Capital e os ônibus passaram a transportar mais segmentos de trabalhadores além de quem trabalha na saúde. Até a última terça-feira (31 de março), ao menos 9 municípios dos 79 de MS já sinalizaram a flexibilização.

“Hoje mesmo parece dia normal. Trânsito, carros estacionados. As pessoas estão arriscando, talvez porque os pagamentos comecem a sair e algumas compras precisem ser feitas. Acho que a tendência é o pessoal ir pra rua”, avalia Fernandes.

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