Sepulturas destruídas deixam caixões e até restos mortais expostos em cemitério da Capital

O estado de má conservação de túmulos e sepulturas chegou ao limite no Cemitério São Sebastião, mais conhecido como Cemitério do Cruzeiro, em Campo Grande. De tão destruídos e sem receber qualquer manutenção por parte das famílias, alguns jazigos chegam a expor de caixões a restos mortais. O problema é o mais grave reflexo do […]

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O estado de má conservação de túmulos e sepulturas chegou ao limite no Cemitério São Sebastião, mais conhecido como Cemitério do Cruzeiro, em Campo Grande. De tão destruídos e sem receber qualquer manutenção por parte das famílias, alguns jazigos chegam a expor de caixões a restos mortais.

O problema é o mais grave reflexo do abandono pelo qual passam algumas sepulturas de cemitérios municipais, sendo observado nos três espaços mantidos pela Prefeitura de Campo Grande, que somam cerca de 87 mil jazigos.

Assim, os cerca de 23 trabalhadores fixos para os serviços de manutenção, administração, sepultamento e limpeza fazem malabarismos nas três unidades. Segundo eles, a situação seria bem mais fácil se as famílias colaborassem.

Sepulturas destruídas deixam caixões e até restos mortais expostos em cemitério da Capital
Jazigo reformado contrasta com dezenas de abandonados (Foto: Guilherme Cavalcante | Midiamax)

“Infelizmente muitas famílias sepultam os falecidos e nunca mais voltam. Com isso, as lápides vão se deteriorando e acontece isso. Aqui alguém pisou e a tampa afundou”, explica Celso Lopes, há um ano à frente da administração do Cemitério do Cruzeiro.

Segundo ele, o mais recente levantamento identificou 45 túmulos sem tampa ou com grave deterioração, nos quais restos mortais podem estar expostos.

“A grande dificuldade é localizar as famílias, pois são túmulos muito antigos e as pessoas não atualizam os contatos. Muitos já se mudaram ou têm outros números de telefone. Mas houve casos que conseguimos contato e as famílias reformaram”, explica.

A dificuldade de contato com as famílias, porém, não é encarada como desculpa para deixar os túmulos desprotegido – 12 jazigos esquecidos já foram minimamente restaurados, com a construção de tampas que protegem o interior do jazigo.

“Apesar de ser uma responsabilidade da família, não ficamos de braços cruzados. Como nosso cemitério tem um pedreiro, nós solicitamos à Prefeitura o material de construção e vamos fazendo as tampas conforme nossas possibilidades”, explica o encarregado.

Sepulturas destruídas deixam caixões e até restos mortais expostos em cemitério da Capital
Túmulo vazio em processo de restauro, feito pelo próprio cemitério. Ao todo, são 45 sepulturas sem tampa ou com grave deterioração (Foto: Guilherme Cavalcante | Midiamax)

Manutenção

Nesta terça-feira (19), uma equipe da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) com cerca de 50 homens iniciou força-tarefa que deverá durar de três a quatro semanas, nos três cemitérios da Capital. Os serviços contemplam terraplanagem, retirada de entulhos, corte de grama, conservação das áreas comuns e demais manutenções pontuais.

“Este tipo de trabalho mais intenso é feito uma vez ao ano e depois a cada 60 dias a gente faz as manutenções. É um trabalho importante, mas difícil de fazer, já que muitas famílias, infelizmente, abandonaram as sepulturas”, considera Lopes.

De fato, o contraste entre o zelo e o abandono à memória dos mortos é de fácil constatação no Cemitério do Cruzeiro, onde há quase 30 mil sepulturas, numa área de 143,7 m². Reportagem especial do Jornal Midiamax de novembro de 2018 apresentou esta realidade, na qual o abandono e esquecimento contrastam com zelo e respeito à memória de quem já se foi.

“Tem muito túmulo que não recebe manutenção há muito tempo, que nasce árvore dentro, mato, quando a gente percebe, o túmulo está rachado e depois vai ser destruído. Os zeladores têm muito trabalho para a limpeza, mas se cada um cuidasse do jazigo da família seria mais fácil”, contou o coveiro Valtecir Ari Paredes, do Cemitério Santo Amaro.

“O abandono de sepulturas é um problema, é o que mais tem aí. Não é só de gente desleixada, mas de gente que mora fora ou de famílias que todo mundo já morreu. A gente faz a parte mais da limpeza e também tem as equipes da Prefeitura, mas no geral, se todo mundo conservasse, seria mais bonito aqui”, explicou a zeladora Lindinalva Bezerra, também do Santo Amaro.

Reparos

Além de olhar pelos túmulos abandonados, Celso e sua colega de trabalho, Simone de Oliveira, usam e abusam da criatividade para manter a conservação do Cemitério Cruzeiro. O acesso a veículos à área das sepulturas foi vetado, por exemplo.

“A grama que havia aqui morreu porque os carros entravam. Agora somente carros fúnebres e a kombi da manutenção pode passar. Aqui queremos voltar a gramar e colocar um isolamento com tocos de eucalipto”, explica Celso.

As duas salas da Capela Municipal, onde os corpos são velados, também passaram por reforma e foram inaugurado em dezembro, após um grande mutirão envolvendo o vereador Carlão (PSB), Prefeitura, familiares de sepultados e comerciantes locais.

“É uma prova de que o carinho pelas pessoas que descansam aqui pode ter bons resultados. Essas pessoas se uniram e reformaram a Capela. Se cada família cuidasse dos jazigos a situação seria menos complicada”, conclui.

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