O ano de 2019 vai ficar na memória dos usuários de ônibus de . Contrastes caracterizados por privilégios aos empresários e até dor física para usuários marcaram as centenas de reportagem que ganharam as páginas do Jornal Midiamax. A maioria dos relatos chegaram à redação por meio de denúncias de quem diariamente deparou-se com dificuldades que começam antes mesmo do embarque.

#Retrospectiva: Passagem cara, veículos quebrados, atrasos e até protesto marcaram o 2019 de usuários de ônibus
Protesto de usuárias de ônibus em novembro | Foto: Marcos Ermínio | Midiamax

No dia 15 de novembro, a propósito, cerca de 100 passageiros, a maioria mulheres, decidiram dar um “basta” e iniciaram protesto espontâneo no Terminal Morenão após o Consórcio Guaicurus alterar o fluxo de veículos durante o feriado, o que fez com que muita gente perdesse compromissos. A reação dos passageiros indignados foi combatida com reação desproporcional da GCM (Guarda Civil Municipal). Toda a celeuma revelou que quem depende de ônibus na Capital está com os nervos à flor da pele.

Teve de tudo: além dos atrasos, houve reclamação por passagem com preço exorbitante, veículos que quebram e deixam passageiros no meio do caminho, superlotação nas linhas, veículos velhos que continuam circulando, falta de transparência nas informações e desconforto durante os trajetos. Confira a seguir a retrospectiva do Jornal Midiamax com os destaques.

Dor e sofrimento

Freadas bruscas, passagem por cima de buracos, acidentes de trânsito, quebra-molas ignorados e demais ocorrências que trazem consequências físicas aos passageiros chegaram até a motivar ações de reparações contra o Consórcio Guaicurus, e que somam mais de R$ 10 milhões em pedidos de indenização devido a acidentes causados durante as viagens.

São denúncias como a do estoquista Paulo Sérgio Espíndola, que sofreu as dores de uma “rampada” da linha 076 (Aero Rancho – Hercules Maymone) sobre um quebra-molas. “Ele bateu com tanta força no chão que todo mundo gritou de dor na hora, ainda arrastou a traseira no asfalto por alguns metros. Todo mundo ficou sentindo dor na coluna e no pescoço. Trabalho como repositor e estou sentindo muita dor, à tarde vou ter que ir ao médico, porque não estou aguentando”, declarou o estoquista Paulo Sérgio Espíndola, de 48 anos. Em outra situação, uma mulher grávida chegou até a sentir contrações e a se machucar quando outro veículo freou bruscamente, em fevereiro deste ano. Segundo os relatos, naquela ocasião, foi necessário acionar o Samu para socorrer a mulher gestante e outra jovem que sofreu corte no queixo.

#Retrospectiva: Passagem cara, veículos quebrados, atrasos e até protesto marcaram o 2019 de usuários de ônibus
Foto: Arquivo Midiamax

Ônibus quebrado

A maior parte das reclamações que chegaram à redação descreviam uma rotina de ônibus quebrados, o que acendeu sinal de alerta de que os veículos não receberiam a devida manutenção, seja porta, assoalho, janelas, pneus ou até mesmo assentos. Além disso, no início do ano, o Consórcio Guaicurus precisava trocar veículos “vencidos”, conforme estipulado no contrato firmado em 2012.

Mesmo sob risco de uma multa milionária, a substituição só foi ocorrer em outubro e, ainda assim, parcialmente. Um fato importante é que somente no mês de novembro, pelo menos 8 veículos quebraram e interromperam a viagem dos passageiros. E até um veículo da frota renovada chegou a sofrer pane, deixando mais uma vez usuários “na mão”.

Veículos que não param

#Retrospectiva: Passagem cara, veículos quebrados, atrasos e até protesto marcaram o 2019 de usuários de ônibus
Foto: Leonardo de | Midiamax

Outra denúncia frequente refere-se a motoristas que não param os veículos em alguns pontos de embarque, como foi o caso da  051B (Bandeirantes/Shopping Campo Grande), uma das campeãs de reclamações nos fóruns de discussão na internet. Durante as reportagens, o Consórcio Guaicurus ignorou os pedidos de notas.

A pontuou uma das solicitações, e destacou que os motoristas devem respeitar as tabelas de horário e o itinerário divulgadas no site da agência ou Consórcio Guaicurus. “Em casos de problemas como os relatados, o usuário do transporte coletivo deve informar à Agetran, por meio do 156 ou pessoalmente. Assim, a agência de transporte identificará o possível descumprimento e tomará as providências necessárias”.

No calor

Quem anda de ônibus em Campo grande sabe que a possibilidade de passar calor dentro dos veículos é grande, principalmente no horário de pico, quando a lotação costuma ser maior. Por isso, a instalação de aparelhos de ar condicionado nos veículos chegou a ser promessa de campanha do prefeito (PSD). Mas, nenhum dos novos veículos adquiridos em outubro contam com o benefício.

Denúncias contra veículos de padrão executivo – que seriam mais confortáveis (com ar condicionado) e têm tarifa mais cara, a R$ 4,80 – também estiveram na lista. Isso porque os ônibus executivos não estavam fornecendo o que prometiam. Para exemplificar, em setembro, uma denúncia de usuário revelou que a linha executiva 391 (Tarumã – Shopping Campo Grande) realizou seu trajeto sem ar condicionado funcional por pelo menos duas semanas. O Consórcio Guaicurus não retornou pedido de posicionamento solicitado pela reportagem, na época.

Atraso e lentidão

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Foto: Marcos Ermínio | Midiamax

Uma pesquisa realizada pelo Ibrape entre 18 e 25 de março deste ano ouviu mais de 500 usuários do transporte público de Campo Grande. Entre os resultados, o quesito de “pontualidade e frequência dos ônibus” protagonizou as reclamações de usuários: 69% consideraram ruim ou péssimo. Os horários e intervalo da passagem dos ônibus no ponto também foram reprovadas: 53% considera ruim ou péssimo.

O tempo de deslocamento do bairro do morador até o centro da cidade também foi um problema no transporte público da Capital: mais da metade, 51% do total, reclama da demora, considerando-a no nível ruim ou péssimo. Vale lembrar que a demora não é um problema isolado e é acentuada por outras complicações, como o atraso dos ônibus nos pontos, poucos veículos nas ruas e a falta de rotas mais rápidas.

Sob chuva e sol

Além de longo tempo até os veículos chegarem, a espera pode ser ainda pior caso os pontos de embarque não tenham infraestrutura. Mas, o que fazer quando um ponto de embarque coberto é substituído apenas pela sinalização? Foi o que aconteceu nos pontos de ônibus cobertos nas avenidas Florestal e Presidente Vargas em agosto, quando os espaços foram substituídos pelos postes laranjas.

A situação causou indignação generalizada. “Eles tiraram rapidinho, não levou nem 20 minutos. Eu só não entendo o porquê, o ponto estava bom. Os vizinhos já reclamaram porque ninguém sabe quando os novos serão instalados”, relatou o professor Breidyson Santos ao Jornal Midiamax.

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Foto: Leonardo de França | Midiamax

O pedreiro Vicente Vargas também ficou revoltado com a troca do ponto pelo poste laranja. “Estão retirando tudo e colocaram esse poste laranja sendo que o ponto estava ótimo. Isso é ruim porque as pessoas precisam de um lugar para se abrigar da chuva ou do sol. O ponto ainda tinha um banco, para as pessoas esperarem sentadas pelo ônibus que demora tanto”, disse. A Agetran também não respondeu esta solicitação de posicionamento da reportagem.

Cadê a segurança?

Se a má qualidade do serviço, o preço alto e a lotação nos ônibus não eram suficientes, os passageiros do transporte coletivo enfrentaram uma onda de furtos ao longo de 2019. Foram pelo menos seis casos reportados em apenas dois dias do mês de julho, quando os criminosos aproveitam o tumulto para abrir a bolsa ou mochila dos usuários. Os principais alvos são idosos, em linhas de maior movimento e em horários que costumam lotar os veículos.

#Retrospectiva: Passagem cara, veículos quebrados, atrasos e até protesto marcaram o 2019 de usuários de ônibus
Foto: Arquivo Midiamax

“A gente também pede mais segurança, porque não basta pagar muito caro, a gente ainda fica muito vulnerável lá. O ônibus estava superlotado e eu lembro de ter fechado bem a mochila quando entrei. Quando desci dele, senti a mochila leve e percebi que estavam abertos dois bolsos”, relatou, na época, a estudante Gabrielly Pereira Pires, ao Jornal Midiamax.

O relato das vítimas mostra que os criminosos têm praticado os furtos no período da tarde e sempre da mesma maneira: aproveitando a confusão do veículo lotado e a distração e cansaço do passageiro. Uma das solicitações é a instalação de câmeras de segurança nos veículos, que inibiriam as ações criminosas.