Igrejinha: burocracia emperra reforma e ameaça templo mais antigo de Campo Grande
Uma estrutura pequena, mas repleta de tesouros e de histórias. A Igrejinha é uma espécie de relicário com o que sobrou de material da ancestralidade de sua fundadora, Maria Eva de Jesus – Tia Eva – a escrava liberta que veio de Goiás para Mato Grosso do Sul e fundou uma comunidade quilombola. E justamente […]
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Uma estrutura pequena, mas repleta de tesouros e de histórias. A Igrejinha é uma espécie de relicário com o que sobrou de material da ancestralidade de sua fundadora, Maria Eva de Jesus – Tia Eva – a escrava liberta que veio de Goiás para Mato Grosso do Sul e fundou uma comunidade quilombola.
E justamente esse pequeno tesouro segue em risco. Além do significado indizível para a comunidade, o prédio também é o templo religioso mais antigo da cidade, atualmente, cuja construção foi concluída em 1919. Porém, sem manutenção, o prédio centenário sofre avarias estruturais decorrentes de infiltrações. E por ser um bem tombado, tanto pelo município como pelo Estado, moradores da comunidade Tia Eva não sabem como proceder.
“A gente não sabe se pode mexer, é tombado. A gente tem respeito a esse prédio, é o que guarda nossa história, então acionamos o poder público para fazer algo. A gente teme que a estrutura não aguente e esse teto ceda. É perigoso, até porque continuamos a utilizar a igrejinha para as novenas às sextas-feiras”, conta o atual presidente da Comunidade Tia Eva, Eurides Antonio da Silva, também conhecido como Bolinho.
É no interior da Igrejinha que descansam os restos mortais de Tia Eva, que é apontada pela comunidade que leva seu nome como a cofundadora de Campo Grande. Segundo relatos orais, passados de pai para filho, ela estaria na região antes mesmo do fundador oficial da cidade, José Antônio Pereira, montar acampamento e fundar o que, mais para frente, viria a ser Campo Grande.
Contam seus descendentes que o prédio foi a construção definitiva de uma promessa feita por Tia Eva a São benedito, a quem era devota, caso ela se curasse de uma ferida que não sarava. Quando alcançou a graça, Tia Eva mandou construir a igreja, em 1912. Em 1919, a estrutura foi demolida e substituída por uma de alvenaria.
“Não é falta de aviso. Já formalizamos diversas vezes tanto pára a Sectur como para a Fundação de Cultura como está a situação da Igrejinha. Nunca recebemos um posicionamento formal. Já falaram que faltava recurso, já falaram que era burocracia, enfim. Enquanto isso, a gente fica sem saber o que fazer”, conta o atual presidente da Comunidade Tia Eva, Eurides Antonio da Silva, também conhecido como Bolinho.
A reportagem procurou tanto a Sectur como a Fundação de Cultura acerca das intervenções necessárias na Igrejinha. Até a publicação desta matéria, apenas a Sectur retornou com um posicionamento, na qual destaca que a pasta esbarra em um procedimento burocrático para que o bem tombado possa receber intervenções em sua estrutura.
“Sendo um bem de propriedade particular, para que o poder público possa agir, é preciso seguir um rito documental que inclui comprovações de posse, hipossuficiência dos proprietários, entre outros”, traz a nota.
A Sectur também destacou que “tanto município quanto Estado já estão alinhados para atuar na reforma do espaço tombado e tem contado com o Ministério Público para a cobrança das documentações necessárias envolvendo a esfera federal, relativo a titularidade de posse, para desatravancar o auxílio à comunidade”.
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