Diferente da ‘Mansão da Dani Gaúcha’, prostíbulos antigos ostentam números enormes
Os números são grandes, vistosos e chamativos. Os imóveis têm aparência simples, sem fachadas decoradas, sem pintura nova e com movimentação discreta. Praticamente em nada as casas de prostituição de bairros residenciais menos nobres da Capital assemelham-se com a “Mansão da Dani Gaúcha”, prostíbulo de luxo comandado por uma mulher que foi presa nesta semana […]
Guilherme Cavalcante –
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Os números são grandes, vistosos e chamativos. Os imóveis têm aparência simples, sem fachadas decoradas, sem pintura nova e com movimentação discreta. Praticamente em nada as casas de prostituição de bairros residenciais menos nobres da Capital assemelham-se com a “Mansão da Dani Gaúcha”, prostíbulo de luxo comandado por uma mulher que foi presa nesta semana por suspeita de exploração sexual.
O local despertou a atenção após o MPMS (Ministério Público Estadual) ser acionado pelos vizinhos insatisfeitos com as frequentes perturbações que clientes promoviam em frente ao local, localizado no bairro Itanhangá Park, um dos metros quadrados mais caros da cidade. Mas, as casas similares não provocam grandes incômodos aos vizinhos.
Os prostíbulos estão há anos nos mesmos imóveis, em bairros residenciais como Vila Carvalho e Vila Glória, ainda no perímetro central de Campo Grande. Nessas regiões, vizinhos nem sequer sabem recordar da última ocorrência policial na rua. A dinâmica de funcionamento também aparenta ser substancialmente diferente da ‘Mansão’ no Itanhangá.
Mais humildes, elas ostentam números grandes, que evitam confusão de clientes desavisados, como os que confundiram a ‘Mansão’ com a casa de uma vizinha, em plena madrugada. O horário de funcionamento também é limitado – operam principalmente em horário comercial e aos sábados. À noite e aos domingos, o movimento é incomum.
“Moro aqui há muitas décadas, nunca tivemos problemas. [Elas] não incomodam, a movimentação é mais de dia e a gente nunca vê algazarra. Dá umas 16h e não tem mais ninguém. As meninas nem moram aí, é só um local, mesmo, pelo que a gente sabe”, conta uma moradora da Rua Olavo Billac, na Vila Carvalho. Assim como as outras personagens, ela não terá nome revelado.
Segundo a mulher, são três casas de prostituição nas imediações, bem próximas umas das outras, e todas estampam números grandes na fachada. “Antigamente a gente sabia que tinha uma luz vermelha, né? Chamavam de casa de tolerância, de rendez-vouz. Hoje o pessoal identifica pelo número grandão”, aponta.
Talvez tenha sido o “erro” de Dani Gaúcha: a mulher anunciava o local na internet como espaço diferenciado e discreto. Porém, a ausência do número em destaque pode ter possibilitado que clientes perturbassem vizinhos por engano. O horário de funcionamento, das 13h às 3h da manhã, também ia de encontro ao praticado nos locais tradicionais. “Residência de LUXO particular…. Em Campo Grande-MS”, traz um dos anúncios on-line, que também apresenta aos clientes as fotos de garotas de programa disponíveis.
“O que posso te dizer é que não é agradável. A gente vê movimento na rua de pessoas que não sabemos quem são. E por mais que o bairro seja tranquilo, tem essa insegurança. Para te falar a verdade, não há um incômodo, uma algazarra, baixaria na rua. É tudo muito discreto, talvez porque a maioria dos clientes seja casada”, conta outra moradora da mesma rua. “A gente convive bem pacificamente”, completa.
Perfil
Dani Gaúcha tem apenas 29 anos e teve o esquema de exploração sexual confirmado, segundo o delegado Paulo Sá, da Deops (Delegacia Especializada de Ordem Política e Social), devido à extrema organização que fazia das finanças.
As proprietárias da maioria dos prostíbulos, contudo, apresentam outro perfil. Em geral, segundo os vizinhos que as conhecem, são mulheres com mais de 50 anos, casadas ou divorciadas, e com filhos adultos.
“A dona dessa aqui eu conheço bem, uma senhora muito gentil. Tem um filho que trabalha em hospital e outro que é engenheiro. São pessoas normais, não é gente perigosa”, comenta o vizinho de outra casa de prostituição na Vila Carvalho.
Nesses locais, as profissionais do sexo também arcam com o pagamento de taxas pelo uso das dependências. De acordo com o apurado pela reportagem, o programa pode variar de R$ 80 a R$ 150 e um valor de aproximadamente R$ 50 é cobrado de cada cliente pelo uso do quarto.
“A gente realmente não ouve confusão. É claro que o movimento de carros atrapalha, param tudo na minha calçada e a gente não tem onde estacionar. Uma vez só eu vi uma confusão, porque parece que a mulher do cliente apareceu. Mas é tão tranquilo…”, relata uma moradora da Rua Belizário Lima, na Vila Glória.
Internet e Classificados
Por serem antigos – alguns dos prostíbulos têm cerca de 20 anos de funcionamento no mesmo local – as casas têm clientela certa. Mas, anúncios em classificados para o agenciamento de novas garotas de programa são comuns e renovam o quadro de profissionais.
“Eu tenho uma vida além daqui. Não moro na casa, trabalho em horário comercial. Eu não teria como manter uma casa só para eu atender, então para mim é negócio trabalhar numa casa e pagar taxa. É tudo tranquilo, não tem perturbação e a gente se entende bem. Cada um faz o seu e segue a vida”, destacou uma prostituta que aceitou falar com a reportagem por telefone, publicado num dos classificados da cidade.
Segundo ela, os sites na internet também possibilitam uma divulgação melhor dos serviços sexuais. “O cliente vê o anúncio e manda WhatsApp. A gente manda fotos, acerta detalhes, marca o programa… Ou eles vem aqui. É rápido, não tem programa muito demorado. Já trabalhei em duas casas e as donas são tranquilas. Ta todo mundo preocupado com a própria vida”, disse.
Já Dani Gaúcha, de acordo com as investigações, comandava o negócio com mãos de ferro. Na quarta-feira (8), uma operação da Deops resultou na apreensão de vasto material que comprovariam, segundo a polícia, a atuação da mulher como chefe do estabelecimento.
Ela mantinha cadernos com anotações dos horários, disponibilidade dos quartos e o controle das prostitutas, bem como os clientes que com elas estavam. Cronômetros garantiam que os clientes não se excedessem no tempo de programa, pago com antecedência, que custava ao menos R$ 200,00, chegando a R$ 300, dependendo da garota escolhida.
Os policiais apreenderam anotações detalhadas, por exemplo, sobre quem estava usando sauna, piscina e as bebidas servidas nos quartos. Dani era tão rígida no controle que mantinha calculadoras, cronômetros, fichas das portas e carimbo para comprovar o pagamento.
E há relatos de que a dona da mansão também seria uma mulher violenta. Em meados de julho, o companheiro de Dani registrou um boletim de ocorrência relatando ter sofrido agressões. Disse, na ocasião, que foi agredido com tapas, chutes e socos e que teria sido ameaçado de morte.
Menos de 10 dias depois, uma das prostitutas que afirma ter trabalhado com Dani relatou, na internet, agressões na ‘Mansão’.
“Quero relatar aqui o que eu e uma amiga de São Paulo passamos na mão dessa mulher. (…) Na verdade, a cafetina explora as meninas que fazem serviço até de recepcionista, faxineira. Coitadas das pobres iludidas que se iludem com a casa bonita. Aos clientes, cuidado, pois a mulher que se diz dona da casa é agressiva, exibindo ela e seu marido seus carros de luxos. Ela simplesmente nos vigiou com uma câmera, quando fizemos um comentário que não a agradou”, traz o relato postado em um site.
A denúncia também afirma que Dani teria agredido as jovens. “Ela invadiu nosso quarto de madrugada nos expulsando com uma faca, atacou uma de nós que saiu com o olho roxo e machucado. Além disso, ela ficou com todo nosso dinheiro e queria nossos celulares. Uma louca que não tem estrutura mental nem pra ser cafetina. Fica o aviso aqui pra todas”, traz a postagem.
A reportagem buscou contato com as prostitutas, mas não conseguiu estabelecer contato. Também não foi localizado registro policial da violência.
Desfecho
Solta na manhã desta sexta (10) após pagar fiança e colocar tornozeleira eletrônica, Dani Gaúcha deverá responder pelo artigo 229, por ‘manter estabelecimento onde ocorre exploração sexual’.
O titular da Deops, Paulo Sá, afirma que o lucro de Dani acontecia por meio dos alugueis das dependências. Porém, além de cobrar dos clientes, ela também cobrava das prostitutas pelos serviços utilizados. Na avaliação do policial, isso configuraria a exploração.
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