Acordo judicial proíbe terceirização dos serviços

Um acordo celebrado na terça-feira (26), durante audiência conciliatória na 6ª Vara Cível de , a 228 quilômetros de Campo Grande, estabeleceu prazo de 60 dias para a prefeitura licitar a contratação de uma empresa médica que atenda os pacientes com câncer do município e região. Não será permitida a terceirização do serviço, como ocorre atualmente, no modelo que gerou a crise responsável por interromper atendimentos e tratamentos oncológicos.

Conforme os termos aos quais o Jornal Midiamax teve acesso, em 60 dias a Prefeitura de Dourados deve instaurar um processo licitatório para contratar “estabelecimento de saúde que preste atendimento às pessoas com câncer munida de infraestrutura adequada, recursos humanos capacitados e qualificados, recursos materiais, equipamentos e insumos suficientes, de maneira a garantir o cuidado necessário em toda as espécies de tratamento oncológico, no caso, quimioterapia, radioterapia, intercorrências clínicas, cirurgias e internação”.

Intervenção judicial

Ainda segundo o acordo firmado a partir de proposta feita pelo MPE (Ministério Público Estadual), esse processo licitatório que visa a “readequação da rede complementar de alta complexidade em oncologia” em Dourados deve ser finalizado, com a contratação e o credenciamento do vencedor, num prazo de até 180 dias a contar da data da audiência, iniciada às 15h de terça-feira com a presença das partes envolvidas nesse setor atualmente.

Essa intervenção judicial aconteceu depois que o MPE acionou o juiz José Domingues Filho pedindo uma determinação que estabelecesse a retomada dos atendimentos a pacientes com câncer na cidade. O motivo foi a suspensão dos serviços pelo CTCD (Centro de Tratamento de Câncer de Dourados), empresa contratada em 1999 pela Associação Beneficente Douradense, administradora do , para atuar nessa área por 20 anos.

Terceirização vedada

No entanto, é o Hospital Evangélico a entidade credenciada pelo município para receber os custeios do SUS (Sistema Único de Saúde) relativos aos atendimentos oncológicos. Como não dispunha de equipe para isso, terceirizou os serviços ao CTCD, a quem pagava 90% de tudo o que recebia, retendo 10%. Atrasos nesses pagamentos foram os motivos alegados pelo Centro de Tratamento de Câncer de Dourados para insuficiência financeira que impediu a compra de medicamentos e insumos, ocasionando o colapso do setor.

Para evitar que crise semelhante se repita, o acordo conciliatório estabelece que no contrato a ser licitado pela prefeitura “deve haver cláusula expressa vedando quaisquer espécies de terceirização, seja ela parcial ou total”. Além disso, os termos propostos pelo MPE e homologados judicialmente estabelecem que “as   verbas para o pagamento da oncologia devem ser classificadas como específicas para este serviço, sendo vedada a utilização das mesmas para finalidades distintas; consequentemente deve o prestador apresentar nota única com valor total do serviço prestado, para posterior adimplemento da produção”.

Protesto de pacientes

Por enquanto, os atendimentos oncológicos seguem a ser prestados mediante “parceria excepcional” entre o CTCD e o Hospital Evangélico, conforme já havia determinado o magistrado da 6ª Vara Cível no dia 12 deste mês, após o ingresso de ação civil pública por parte dos promotores de Justiça que atuam em Dourados.

Apesar disso, na manhã de quarta-feira (27) familiares e pacientes com câncer fizeram um protesto na frente do HC () de Dourados, que na verdade é um prédio que, embora tenha sido construído ao custo de R$ 5 milhões, sobretudo de doações da população, pertence ao Hospital Evangélico. A manifestação pede a retomada plena dos atendimentos nessa unidade, já que após a determinação judicial expedida no início do mês os serviços oncológicos foram restabelecidos no ambulatório do HE, e não no HC.

Luta pela vida

Carla Barros, de 51 anos, uma das 30 pessoas que protestaram, é filha de uma mulher de 79 anos que luta contra câncer ósseo há três anos. A idosa foi diagnosticada com a doença em 2013 e fazia tratamento no Hospital do Câncer, mas diante da crise que suspendeu os atendimentos, foi transferida neste mês para o Hospital Evangélico.

“Nossa reivindicação é que o Centro desocupe o prédio e possamos ter os atendimentos todos concentrados ali como antes. O Hospital Evangélico administrativamente tem condições, porém, o atendimento no local é muito misturado, com pacientes de outras especialidades. O paciente de câncer precisa ter um atendimento especializado. Não é justo ter na cidade um prédio construído pelo povo e o povo não poder usar”, afirmou.

“Pacientes e familiares precisam ficar correndo de portaria em portaria até descobrir onde o atendimento será prestado. Passa o dia e muitas vezes não consegue resolver. É uma falta de respeito. Esquecem que estão lidando com vida. Nossa luta é pelo direito de usufruir do prédio. Se existe ali uma briga administrativa, que não interfira na vida do paciente. Não lutamos por administração A ou B”, desabafou a filha de uma dessas pessoas que no momento de luta contra o câncer enfrenta ainda dificuldades por causa de entraves no tratamento.