Para especialistas, é retrocesso apoiar mães que obrigam filhos a trabalhar
Antes de punição, mãe deve ser assistida
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Antes de punição, mãe deve ser assistida
É só colocar uma matéria no ar sobre punição a pais que colocam os filhos para fazer tarefas domésticas de forma obrigatória, ou como ‘castigo’, que a polêmica começa nas redes sociais. Foi assim nesta quinta-feira (23), quando o jornal Midiamax escreveu sobre uma mãe denunciada por obrigar os filhos de 2, 5 e 7 anos para limpar a casa três vezes ao dia, sob ameaças.
Entre os leitores, o mais comum são aqueles que defendem a ideia de que trabalhar em casa não faz mal, pelo contrário. “Melhor ensinar a trabalhar ou o mundo ensina a roubar e fazer o que não presta. …eu da minha parte comecei a trabalhar desde os meus 8 anos e achei muito bom (sic)”, diz uma delas.
“aff…tem q ficar na frente da TV ou então na rua aprendendo o q n presta essas leis são ridículas e só denigrem o valor da família (sic)”, diz outro comentário.
“Por isso que o mundo ta do jeito que tá. Ajudar em casa nao mata filhos não so ajuda no desenvolvimento deles aff tinha que pegar esse (a) denunciante e arrancar a língua Obs.depende do tipo da atividades que cada um estava fazendo se colocasse os filhos a perigo sou contra agora uma criança de 2 anos pode sim guarda os brinquedos levar assim por diante (sic)”, disse outro.
Para especialistas, o problema é bem maior do que o apresentado. A discussão entre acusadores x defensores da mãe mostra o retrocesso em termo de conceito de valores e métodos de educação familiar.
Há mais de 20 anos, atuando no combate à exploração do trabalho infantil, Angelo Motti, pontua que a forma de agir e as agressões cometidas pela mãe, não são apenas “castigos”, mas sim uma denuncia de auto-desorientação da genitora. “mais do que ser punida tem que ser assistida”, explica.
Angelo que também é o responsável pela criação do Programa Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Criança, ressalta que outro ponto problemático é a terceirização da educação familiar, para a escola, programas sociais, igreja e etc, em função da necessidade da busca financeira. Por outro lado, lembra que o papel da família não é só de formação e de valores, ele também é carregado de afeto.
“As pessoas estão querendo que as crianças tenham respostas de adulto existe também esse erro de análise, as pessoas estão querendo respostas próprias de pessoas adultas, das crianças, por exemplo, o senso de responsabilidade, sendo de compromisso, arcar com seu atos, e isso é coisa do mundo adulto. Então a família também está induzida a esse processo de cobranças de atitudes precoces. Isso reduz o nível de intolerância e a família se perde no processo educatico no uso da violência, pois só conhece métodos antigos, que é o castigo físico, restrição de lazer e a ameaça”, explica.
A psicóloga Suzi Lane, especialista em psicologia jurídica afima que cada pessoa opina de acordo com as experiências que ela tem. Porém a realidade atual, não pode ser comparada a vivências do passado. As crianças precisam ser protegidas e não torturadas.
“No passado não era visto como violência, pois as mães também não tratavam dessa forma, as mães ensinavam a fazer as obrigações. Os ‘castigos’ empregados por essa mãe, pelo Estatuto da Criança são classificados como tortura psicológica e física”, explica a especialista.
Por que a maioria da população apoia?
Para Angelo, a população em geral está sentindo a falta de governabilidade no processo educativo das crianças e adolescentes. Dessa forma a tendência é voltar no século 19, onde a disciplina é usada como forma de contenção.
“Essa mãe está usando uma forma de educação equivocada que ela recebeu. Como no processo educativo dela, ela não conseguiu experimentar nada melhor, ela dá para os filhos o que recebeu, só que piorado. O que pode resolver, é a mãe receber apoio para desenvolver capacidades, que nunca desenvolveu, no processo de relação com os filhos. Um fato desse, denuncia muito mais que a violência em si, mas a denuncia de que ela (mãe) também é uma vítima”, finalizou.
CASO
Através de denúncias, o Conselho Tutelar descobriu nesta quinta-feira (23) a situação de três irmãos que eram obrigados pela mãe, de 25 anos, a cuidar da casa onde moravam no Conjunto Habitacional Estrela D’alva. As crianças de 7, 5 e 2 anos limpavam a residência três vezes ao dia, lavavam a louça, o banheiro, cozinhavam e ainda eram submetidos a castigos, como ficar expostas ao frio apenas de roupas íntimas, ou no ‘cantinho da barata’.
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