Do desemprego à esperança: onde era um lixão nasce um loteamento
Grupo está no local há 10 dias e prefeitura prometeu liberar a área para loteamento
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Grupo está no local há 10 dias e prefeitura prometeu liberar a área para loteamento
A notícia de que a Prefeitura de Aquidauana, a 143 quilômetros de Campo Grande, garantiu a distribuição de lotes onde era instalado o antigo lixão da cidade, foi comemorada com trabalho pelas famílias que invadiram a área, há aproximadamente 10 dias. Logo após a marcha que fizeram na manhã desta terça-feira (7), até o sede do executivo, os invasores voltaram à ocupação e se dedicaram a erguer barracos e limpar a área lotada de lixo e de entulhos.
Na noite em que os termômetros marcaram 12 °C, famílias inteiras dormiram sob as lonas dos barracos que começam a ser erguidos. Entre morar de aluguel ou de favor, eles são unânimes em dizer que preferem a ocupação. A preocupação de quem está acampado e com o furto de lonas e o medo do lote já ocupado ser “desapropriado” por outro invasor. Os invasores afirmam que estão ali porque precisam que ninguém iria dormir naquele lugar se não fosse necessário. As mães dizem que com o dinheiro do aluguel que vão economizar vai para comida dos filhos.
Mesmo assim, é sabido que tem gente que tem casa e está pegando um lote. Os próprios invasores sabem que e quem no local. Durante a manhã, enquanto a maioria trabalhava na retirada do lixo, já houve confusão por causa de um dos lotes. Uma mulher e um homem discutiam sobre a quem pertencia o pedaço de terra ha cercado.
“Muita gente vem de carrão e de caminhonete. São pessoas que não precisam. Tem gente que tem lojinha, lanchonete e tem gente que está aí só para segurar o terreno. Tem gente que não precisa e está pegando o terreno. Sexta-feira a Prefeitura disse que vem ao para ver quem realmente precisa”, diz um invasor que prefere não se identificar.
O desemprego é apontado como o fator principal para a ocupação da área. Tanto pela prefeitura, já que o prefeito José Henrique Trindade (PDT) confirma que mais de 500 pessoas ficaram desempregadas nos últimos 4 meses com o fechamento de um frigorifico e também com as demissões de uma siderúrgica e da própria Prefeitura. Como entre os invasores, que dizem que além de a cidade não oferecer grandes oportunidades, muitos estão vivendo de “bicos” por conta do desemprego.
Carlos César da Silva, de 31 anos, é um destes desempregados. Ele conta que por causa da situação na cidade, a mulher foi trabalhar em Santa Catarina. Eles pagavam aluguel e não tinham condições de manter a casa, com um salário de R $ 700 e pagando 350 de aluguel. “Estávamos devendo água e luz. Não tinha como. Agora, ela vai voltar, ficou feliz quando soube. Vamos começar do zero, mas graças a Deus conseguimos”.
Sobre o desemprego em Aquidauana, ele diz estar difícil para a maioria das pessoas. “Muita gente foi para Três Lagoas. Muitas famílias já foram embora porque não tem emprego. Tem gente que foi para o Paraná trabalhar na colheita de Iva. Já sabem que aqui não tem emprego”.
Também desempregado, Agnaldo Gomes dos Santos conta que foi um dos primeiros a chegar na invasão. Ele diz fazer rondas suas vezes por dia para ninguém invadir os lotes que já estão demarcados. “Morava de favor, pediram a casa e eu vim para cá”. Ele e a mulher vivem com mais três pessoas no barraco e tem como fonte de renda apenas benefícios sociais. “Eu sou pedreiro, carpinteiro, mas estou desempregado. Sem renda nenhuma. Aqui é precário. Não tem indústria nenhuma. Está todo mundo se ajudando”.
Agnaldo diz que no local já foram registrados crimes como homicídios, latrocínios, além do descarte de lixo de animais. Para ele a invasão e o futuro bairro vão “dar cara ao local. Vai acabar com isso”. Segundo ele, os invasores estão se mobilizando para levantar uma igreja evangélica no local. Doações de lonas também são bem-vindas. Mais informações pelo telefone 9235 2169.
A vendedora Marizete Corrêa, de 31 anos, diz que passou anos na fila para conseguir uma casa própria em um programa habitacional. Mãe de três filhos, o mais velho com 14 e o mais novo de 7 anos, ela só pensa em se livrar do aluguel. “É um peso muito grande o aluguel. Seja o que Deus quiser agora. Já estou carpindo tudo com o mais velho. Tiramos o dia para isso”.
Desempregado, Afonso Nunes, de 40 anos, também vive de bicos e a renda da família é o salário da mulher, que é professora e estava desempregada até pouco tempo. “A gente morava de aluguel em um local que não tem condições, não passa nem ligeiro. Agora vamos esperar localizar os lotes para poder começar a levantar a casa”.
Aos 50 anos, Solange Ortiz sonha com um lote ou uma casa própria. Há dois anos foi atropelada, segundo ela, por um motorista bêbado e ainda andando de maletas, está aposentada por invalidez. Morando de favor na casa da irmã, ela vê na invasão uma chance de uma vida nova.
A dona de casa Lucimar dos Santos, de 27 anos, mora de favor em um bairro sem infraestrutura e viu na invasão um jeito de melhorar e vida. “Eu moro no Jardim São Francisco e lá vida uma lama só quando chove. Não dá nem para andar. Eu já tinha o cadastro na agência, mas nunca consegui a casa. Agora estou na esperança”.
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