Com o desemprego em alta, o aumento no número de pessoas passando e a maior inflação em quase 20 anos, estes temas se tornaram uma espécie de “calcanhar de Aquiles” de Bolsonaro, que evita o assunto em suas “lives” semanais e em postagens nas redes sociais. Na sexta-feira, 17, das quatro postagens publicadas no perfil de Lula no Telegram, três diziam respeito à economia. A comunicação do ex-presidente falou da alta dos preços, da perda de refeição por famílias pobres na pandemia e ainda afirmou não haver vacina contra a fome.

A estratégia de comunicação de Lula está sendo tocada, desde o meio do ano, pelo ex-ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social, 2007 a 2010). A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse ao Estadão que a prioridade dada à economia popular tem sido discutida pelo partido “faz tempo”.

Na avaliação de Gleisi, a lembrança do governo do ex-presidente, que deixou o cargo há 11 anos, ainda é presente na memória da população. E essa tem sido a tônica de algumas publicações nas redes sociais de Lula. Na segunda-feira, 20, o Twitter do petista perguntou a seus seguidores “em qual época o poder de compra da sua família era maior?”. A publicação foi ilustrada com um carrinho de compras cheio de alimentos e, ao lado, uma comparação entre Lula e Bolsonaro.

“As pessoas têm lembrança do legado do Lula, as pessoas lembram que era uma época que tinha emprego, renda, comida, oportunidade para as pessoas. Isso está vivo na memória do povo, de uma parte grande da população. O que nós temos hoje é uma economia totalmente acabada no Brasil, sem perspectiva, sem um projeto de desenvolvimento, que não responde às necessidades que estão aí”, afirmou Gleisi. “Mesmo quem está empregado perdeu renda. Teu poder de compra hoje é infinitamente menor do que há 2, 3 anos “

Segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada no início do mês, a economia é o principal problema enfrentado hoje pelo País na percepção dos brasileiros. O tema, que agrega desemprego e inflação, foi citado por 41% nas duas mil pessoas entrevistadas pelo instituto, à frente de pandemia (19%) e questões sociais (14%). A corrupção, que deu a tônica da eleição de 2018, foi lembrada por 10%.

De olho nos jovens

Outro público que tem sido acompanhado de perto pela equipe de Lula são os jovens. Em outubro, uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Cananéia (Ipec) apontou que apoiar a reeleição de Bolsonaro em 2022 está fora de cogitação para 45% dos eleitores entre 16 e 34 anos. Os entrevistados afirmaram preferir votar em qualquer outro candidato, independentemente de suas convicções partidárias. E os motivos não são apenas ideológicos, mas também econômicos. Aliadas aos efeitos da pandemia do mortal coronavírus, a inflação alta e a dificuldade em conseguir um emprego explicam a rejeição entre os jovens medida pela pesquisa

A ordem é que o tom da campanha seja o de “dar perspectiva” e “mostrar oportunidades” a eles. Na semana passada, Lula participou do 5º da Juventude do PT. “Nós temos que dizer para o jovem que ser rebelde é ter ação, é se movimentar. E se movimentar é escolher pessoas que tenham compromisso com o povo brasileiro para que a gente possa mudar definitivamente esse País”, afirmou o ex-presidente em seu discurso.

Em outro aceno para tentar conquistar eleitores dessa faixa etária, o ex-presidente foi entrevistado no início do mês no podcast Podpah, canal comandado por Igor Cavalari, o Igão, de 25 anos, e Thiago Marques, o Mítico, de 31. O Podpah, que costuma receber cantores e jogadores de futebol, tem 4,6 milhões de seguidores no YouTube e 80% de seu público é formado por pessoas com idades entre 18 e 34 anos. Segundo dados do próprio podcast, a conversa com o petista chegou a registrar, às 20h26, pico de 292.325 visualizações simultâneas, a maior audiência da história do canal.

A presença de Lula no podcast gerou ainda conteúdo para o ex-presidente levar à sua base. A equipe de comunicação produziu “cards” com frases que o petista havia dito a Igão e Mítico. “Eu quero ajudar a construir um outro país”, “Bota um metalúrgico lá para ver se não resolve” e “Não adianta o povo eleger um presidente progressista e eleger deputado direitoso” foram algumas das frases ditas por Lula no podcast.

O conteúdo produzido para as redes do petista também tem falado da importância do voto no Congresso Nacional. Segundo Gleisi Hoffmann, “existe uma preocupação de, com a campanha presidencial, estimular muito a eleição de deputados e senadores”. A esquerda hoje é minoria na Câmara e no Senado.

“As mudanças importantes, grande parte delas, passarão pelo Congresso. É preciso realmente ter gente que tenha compromisso com o projeto de País, de desenvolvimento e compromisso com essa economia do povo”, afirmou a presidente.