Vacina universal contra a gripe está mais perto de ser desenvolvida

Como vírus da gripe muda a cada ano, vacina atual tem que se adaptar

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Como vírus da gripe muda a cada ano, vacina atual tem que se adaptar

O vírus da gripe muda a cada ano e a vacina deve, portanto, se adaptar, mas dois estudos importantes publicados nesta segunda-feira (24) podem acelerar o desenvolvimento de uma vacina antigripal universal.

Verdadeiro “Graal” da pesquisa sobre o vírus Influenza, o desenvolvimento de uma única vacina que proteja contra todas as cepas do vírus da gripe, está sendo estudado há muitos anos, mas nenhuma vacina foi até agora testada em humanos.

Dois estudos distintos, publicados na revista científica britânica “Nature” e na americana “Science”, relatam ter demonstrado “a prova de conceito” de vacina universal em ratos, furões e macacos, um resultado muito bem recebido por vários especialistas que enfatizam, no entanto, que uma chegada nas farmácias da nova vacina não é para amanhã.

As duas equipes de pesquisadores concentraram sua pesquisa sobre a parte do vírus que é o principal alvo dos anticorpos: a hemaglutinina. Esta proteína, presente na superfície do vírus da gripe, permite a sua fixação às células do corpo.

No estudo publicado na revista “Nature”, os pesquisadores do Instituto Americano de Alergia e Doenças Infecciosas indicam que testaram com sucesso as suas vacinas em ratos e furões, animais que apresentam os mesmos sintomas que os seres humanos.

As vacinas tradicionais contra a gripe utilizam vírus inativos (injetáveis) ou atenuados (spray nasal) e, portanto, devem ser atualizadas a cada ano com base nas cepas circulantes no outro hemisfério.

 

Vírus que evoluem

Os vírus da gripe evoluem constantemente, graças a fenômenos de deriva antigênica (mutações genéticas que levam a pequenas modificações) e quebras (que causam alterações maiores).

Mas em vez de atacar a cabeça da hemaglutinina, em constante mutação, os estudiosos se concentraram no tronco desta proteína, muito mais estável.

Ao ligar esta base proveniente de um vírus A (H1N1) a nanopartículas e combinando-a com um adjuvante, eles conseguiram imunizar camundongos e furões antes de injetar neles doses letais do vírus A (H5N1).

Embora a vacinação não tenha conseguido neutralizar completamente o vírus H5N1, ela protegeu totalmente os ratos e parcialmente os furões.

“Esta descoberta é um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina universal contra a gripe”, indicou à AFP Gary Nabel, responsável pelo estudo, que acredita que os componentes da vacina não devem inicialmente substituir as vacinas tradicionais, mas apenas “completá-las”.

 

Resposta imunológica ampla e protetora

Em outro estudo publicado na revista “Science”, um grupo de pesquisadores liderados por Antoinette Impagliazzo do Instituto de Vacinas Crucell, um Instituto de Pesquisas do laboratório Janssen, relatou ter testado uma vacina que confere proteção completa para ratos e uma resposta imunológica considerável em macacos.

Eles também trabalham com base na hemaglutinina, esforçando-se para encontrar configurações capazes de se ligar aos anticorpos monoclonais de amplo espectro, atingindo várias cepas virais.

“O candidato final, chamado mini-HA, tem demonstrado uma capacidade única de induzir uma resposta imunológica ampla e protetora em camundongos e primatas não humanos”, ressaltam os pesquisadores, que estimam ter avançado em direção a uma vacina universal contra a gripe.

“Este é um avanço excitante”, considerou Sarah Gilbert, professora de imunologia da Universidade de Oxford. “Mas as novas vacinas ainda deverão passar por testes clínicos para ver como funcionam em seres humanos (…), o que poderá levar vários anos”, acrescentou.

“Para uma verdadeira proteção universal, será necessário garantir a proteção conferida por outras cepas virais”, afirmou, por sua vez, Garry Lynch, um especialista australiano.

Para o professor Bruno Lina, professor de virologia em Lyon e diretor do centro de referência francês para a gripe, “esta é uma interessante linha de trabalho”.

Mas ele também observou que os ratos têm resposta imune muito diferentes do humanos e que “não se pode dizer que seremos capazes de fazer rapidamente uma vacina para proteger os seres humanos.”

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