Empresa de marketing de Campo Grande está causando polêmica nas redes sociais ao produzir imagens usando a IA (inteligência artificial), simulando regiões da cidade alagadas. O post faz alusão à tragédia que acomete o Rio Grande do Sul e, na legenda, pede que as pessoas se questionem sobre o assunto e continuem ajudando a população atingida pelas enchentes.

Publicado na terça-feira (7), o post simula em imagens aéreas o Bioparque Pantanal e Parque das Nações Indígenas, Shopping Campo Grande na entrada de um dos restaurantes da unidade, e a Avenida Afonso Pena na esquina com a José Antônio, na região do Obelisco, além de área residencial.

Inteligência artificial

O post questiona ‘E se fosse aqui?’ e na legenda diz: “Pense nisso. Irá sim impactar nas nossas vidas e realidade, mas a força de uma nação pode ajudar a salvar vidas, e a manter a fé e a esperança! Siga doando, siga ajudando, siga fazendo o que você gostaria que fizessem por você e por quem você ama!”

A publicação traz, ainda, a hashtag ‘enchenters’. O post já tem mais de 970 curtidas e 118 comentários, mas a opinião se divide. Há quem dê seu relato de solidariedade ao povo gaúcho, mas a maioria não viu com bons olhos a ação com inteligência artificial. Muitos questionam ‘cadê a noção’ ou ‘querem lacrar em cima da tragédia’ e ainda se a ação é de bom tom.

Um dos comentários destaca ‘falta de noção’ da equipe. “Faltou respeito, faltou informação relevante de como ajudar quem de fato tá sofrendo na pele com essa tragédia”. Outra diz, ‘apaga que dá tempo’.

Em resposta, a agência comenta: “Agradecemos a sua opinião […], mas acreditamos que a percepção é individual e única, e a maioria de nós precisa sim ver como seria se fosse na nossa realidade. Deus está conosco, e com o RS!”

Desconectado da realidade

O que chama a atenção no post é que os pontos escolhidos para as simulações são centrais e os mais altos da cidade. Ou seja, em uma enchente real, a probabilidade de ficarem alagados é quase que remota, como apontado pelo Jornal Midiamax em relatório produzido pelo Ministério de Minas e Energia. Além disso, a equipe deixa de considerar regiões de risco de vulneráveis de Campo Grande, como as áreas próximas aos córregos.

Assim, a imagem gerada por inteligência artificial que mostra o obelisco, não considera que para alagar a região, seria preciso inundar dali até a Avenida Ricardo Brandão, onde passa um córrego. Há a mesma desconexão com o Shopping Campo Grande, por se localizar em uma das áreas mais altas da cidade.

De todas as imagens simuladas, em apenas uma há um carro quase que submerso e em nenhuma delas há pessoas.

Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, balanço da Defesa Civil aponta para 1.450.078 pessoas afetadas pelas enchentes, 158.992 desalojados, 95 mortos, 66.434 em abrigos e 128 desaparecidos.

Agência defende que intuito foi de sensibilizar população

Em nota enviada ao Jornal Midiamax, a agência em questão afirma que o post foi criado “com o propósito de conscientizar e promover a solidariedade diante da tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul. Ao correlacionar o evento com a realidade local, nosso objetivo foi destacar a importância de estarmos unidos em momentos de crise, e não explorar a situação para ganhos pessoais ou de imagem”.

A empresa ainda alega que 80% de sua diretoria é gaúcha e todos estão empenhados em auxiliar o Rio Grande do Sul, inclusive com a arrecadação e doação de mantimentos.

(Matéria atualizada às 12h57 para acréscimo do posicionamento da empresa)