Cabelos apreendidos pela Receita Federal em Mato Grosso do Sul estão virando perucas para resgatar a autoestima de pacientes em tratamento contra o câncer. A confecção é feita por presas do Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande.

De acordo com o delegado regional da Receita Federal, Zumilson Custódio da Silva, nos últimos anos o órgão identificou aumento expressivo na apreensão de cabelos, com crescimento de 800% em apenas um ano. Só em 2023, segundo a Receita Federal, foram quase 1.900 kg do material apreendido, contra 200 kg em 2022.

Silva explica que Mato Grosso do Sul serve como rota para cabelos contrabandeados da Ásia, destinados aos grandes centros do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro.

“Temos uma grande fronteira seca com o Paraguai e a Bolívia, é um produto fácil de ser transportado, com alto valor agregado e a cada dia mais demandado no mercado da beleza”, afirma Silva.

Com o projeto desenvolvido na penitenciária, o objetivo é produzir cerca de mil perucas com o material repassado. A distribuição das perucas é feita pela Receita Federal.

Além dos cabelos, outros insumos são necessários para a produção, como telas e linhas, custeados pela própria unidade prisional.

“Acreditamos que é uma ação muito positiva e de benefício mútuo, pois contribui diretamente com a sociedade e, ao mesmo tempo, oferece ocupação produtiva e ajuda a capacitar profissionalmente nossas custodiadas, além de incutir novos valores psicológicos e humanos”, defende Mari Jane, diretora do presídio feminino da Capital.

Dirce Ramos, artesã e instrutora voluntária ensina as detentas a confeccionarem as perucas. Segundo ela, as peças têm impacto importante na autoestima das pacientes em tratamento de quimioterapia.

“As perucas são recebidas com muita alegria, pois as pacientes elevam sua autoestima e saem de lá com muito mais confiança para continuar seu tratamento”, afirma Dirce, que há mais de oito anos atua em ações da Rede Feminina.

Uma das internas que participa da confecção compartilha sua experiência pessoal de enfrentar o câncer e perder os cabelos. Ela relata ter entrado em depressão quando perdeu seus cabelos, mas agora encontra gratificação em ajudar outros que passam pelo mesmo desafio.

“Quando fiquei careca, entrei em depressão, não tinha vontade de fazer nada, agora posso com meu trabalho ajudar quem está passando pelo que passei e isso é muito gratificante”, afirma. Além disso, ela acredita que a experiência adquirida é possibilidade de trabalho lícito após a liberdade.