Prontos-socorros repletos de gente buscando atendimento, sejam pediátricos ou adultos, na rede pública ou particular. A superlotação nos atendimentos de urgência é o atual cenário em que Campo Grande – que vive um surto generalizado de síndromes gripais – se encontra.

Para piorar, ainda estamos em abril, ou seja: os meses mais frios, quando ocorrem a maior parte das síndromes gripais, ainda estão por vir.

UPAs lotadas em Campo Grande (Henrique Arakaki, Midiamax)

Há diversas razões para esta situação caótica na Capital de Mato Grosso do Sul: desde a cultura de “fechar a janela” quando bate uma brisa mais fresca – o que aumenta a concentração viral em ambientes fechados -, à baixíssima imunização em Campo Grande, que tem apenas 14% do público-alvo imunizado contra a influenza.

A sobrecarga nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) de Campo Grande é tanta que houve até especulação sobre a possibilidade de suspender as aulas municipais, como tentativa de impedir a proliferação viral.

Mas, depois de mais de três anos imersos numa pandemia, extremamente recente, seria essa a melhor solução?

Chover no molhado

Uso de máscaras evita substancialmente risco de infecções durante surtos e em ambientes com aglomeração (Arquivo, Midiamax)

Suspensão de aulas para conter um surto de doença respiratória seria ineficaz e ainda iria expor problemas sociais mais complexos, tais como: quem cuidaria das crianças enquanto pais trabalham? Além disso, o maior legado da pandemia – a etiqueta respiratória – traria resultados mais efetivos.

É o que defende o médico nefrologista e clínico geral Marcelo Santana Silveira, que também preside o Sinmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul). Para ele, higienização, máscara e vacina formam o “combo” capaz de conter o avanço de viroses.

“A questão de suspender aulas é complexa. Se é para adotar alguma medida de isolamento social, teria que ser total, e não só nas escolas. Até porque são todas as faixas etárias que estão sofrendo com esses sintomas. Tanto os prontos-socorros adultos como pediátricos estão lotados. E além disso, onde ficariam essas crianças? Elas ficariam em casa? Iriam para o trabalho dos pais? Brinquedotecas? Creche? Não vejo como uma medida efetiva”, pontua o profissional.

O médico Marcelo Santana (Arquivo pessoal)

O especialista sugere como medida efetiva a etiqueta respiratória, associada à higiene pessoal, além de evitar ou proteger-se em aglomerações. Santana também recomenda que pessoas com sintomas respiratórios devem ficar isoladas em casa.

“O uso da máscara, principalmente no transporte coletivo, já reduz bastante o risco de contaminação. Isso, inclusive, mesmo antes da pandemia de Covid, já era tradicional em países asiáticos. Mas, mais importante é a questão da vacinação, é primordial. A gente consegue fazer um controle efetivo das pandemias, principalmente quando a gente adota uma imunização grande na população, que boa parte é feita pela vacinação e outra parte por quem teve contato com o vírus. E foi o que ocorreu na Covid: quando uma parte maior da população estava imunizada, vimos a situação melhorar”, destaca.

Procurar atendimento é necessário

Apesar da superlotação, Santana defende que procurar atendimento emergencial é importante, principalmente quando há alguns sintomas preocupantes, como febre e tosse, inclusive, produtiva. “Até porque ir ao médico nessa condição, constatada a infecção, o paciente será afastado e isso evitará a transmissão do vírus”, pontua.

Além de máscaras, higiene e imunização, a etiqueta respiratória também indica abrir as janelas. “É muito importante manter os ambientes arejados, bem ventilados. Álcool em gel e a lavagem das mãos com água e sabonete, sempre que possível, e evitar levar a mão na boca e nos olhos, também evita contaminação”, finaliza.

Vacinação e número de casos

Diferente do ano passado, quando houve uma explosão de casos graves, com internação, devido a síndromes respiratórias, este ano a maior alta é de casos moderados. Até o momento, não há espera por leitos de UTI pediátricos, mas a Sesau negocia a abertura de novos leitos infantis na Santa Casa.

Ainda conforme sistema de monitoramento da Sesau, entre março e abril foram registrados 164 casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em crianças com menos de 1 ano e outros 123 casos em crianças até 4 anos. Na prática, crianças até 4 anos representam 41,7% dos casos de SRAG registrados este ano, na rede pública de Campo Grande.

Quem pode se vacinar contra influenza

A vacina influenza aplicada na rede pública é trivalente, ou seja, apresenta três tipos de cepas de vírus em combinação – A (H1N1); A (H3N2) e B (linhagem B/Victoria) – protegendo contra os principais vírus em circulação no Brasil.

A vacina contra Influenza pode ser administrada na mesma ocasião de outros imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação. Em Mato Grosso do Sul, o público-alvo é composto por 1.148.407 pessoas.

  • Crianças de 6 meses a menores de 6 anos
  • Crianças indígenas de 6 meses a menores de 9 anos
  • Trabalhadores da Saúde
  • Gestantes
  • Puérperas
  • Professores dos ensinos básico e superior
  • Povos indígenas
  • Idosos com 60 anos ou mais
  • Pessoas em situação de rua
  • Profissionais das forças de segurança e de salvamento
  • Profissionais das Forças Armadas
  • Pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais (independentemente da idade)
  • Pessoas com deficiência permanente
  • Caminhoneiros
  • Trabalhadores do transporte rodoviário coletivo (urbano e de longo curso)
  • Trabalhadores portuários
  • Funcionários do sistema de privação de liberdade
  • População privada de liberdade, além de adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas (entre 12 e 21 anos)
  • Crianças que vão receber o imunizante pela primeira vez deverão tomar duas doses, com um intervalo de 30 dias