Patrola briga na Justiça para manter despejo contra irmã e cunhado de ex-prefeito

Apontado como laranja de políticos, ações reforçam laços de empreiteiro com a família Trad

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Empreiteiro Patrola tenta despejar parentes de ex-prefeito (Detalhe Patrola, Jornal Midiamax / Reprodução)
15/07/2024 – Gabriel Maymone

Apontado como laranja de políticos, o empreiteiro André Luiz dos Santos, o Patrola, move duas ações de despejo contra membros do ex-prefeito Marquinhos Trad, que reforçam laços que o empreiteiro possuía com a família e esquema de laranjas exposto pelo Jornal Midiamax em junho de 2023.

Investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) por operar esquemas de corrupção em contratos de cascalhamento e de locação de equipamentos com a Prefeitura de Campo Grande, Patrola move ações de despejo contra a irmã do ex-prefeito, Maria Thereza Trad Alves – Tetê Trad -, e contra o cunhado deles, o ex-secretário de saúde, Leandro Mazina.

Por enquanto, as duas ações tramitam na Justiça sem decisão favorável para Patrola. Na semana passada, o empreiteiro entrou com novo recurso para fazer valer decisão de despejo contra Tetê Trad, que conseguiu suspender na Justiça o despejo.

Os dois já contestaram as ações na Justiça combinando com pedido de reconvenção. Assim, defendem em cada ação que, na realidade, Patrola é quem teria débitos com cada um deles devido às taxas extras de condomínio e benfeitorias realizadas nos dois apartamentos localizados em um prédio na Rua Euclides da Cunha.

Juntos, Mazina e Tetê alegam que eles teriam uma compensação de crédito que soma R$ 666.857,67, enquanto a dívida dos dois com Patrola chega a R$ 397.454,11 (veja mais detalhes abaixo).

O advogado que representa Mazina e Tetê, Márcio de Ávila Martins Filho, foi procurado pela reportagem para comentar o andamento das ações, mas não respondeu aos questionamentos até esta publicação.

O defensor de Patrola nas ações, Fábio Melo Ferraz, também não emitiu posicionamento até a publicação desta reportagem.

O espaço segue aberto para manifestações das defesas.

Ex-secretário

O Midiamax mostrou que Patrola entrou com uma ação no ano passado contra o médico e ex-secretário Leandro Mazina Martins para cobrar uma dívida de R$ 183.390,87 referente a atrasos no pagamento do aluguel e de IPTU de um apartamento localizado em um prédio na Rua Euclides da Cunha. 

Em maio de 2019, foi celebrado o contrato de aluguel do apartamento no valor de R$ 5 mil, mas que poderia ter desconto de R$ 1 mil caso fosse pago em dia. Já os débitos cobrados são pela inadimplência do período de maio de 2022 a agosto de 2023.

Na contestação, o médico alegou que, na realidade, teria direito a uma compensação de crédito no valor de R$ 372.596,58. 

Esse valor seria R$ 93.072,65 referente a despesas extras lançadas na cobrança da taxa de condomínio, que seriam de responsabilidade do Patrola, e de R$ 279.523,93 sobre benfeitorias realizadas no imóvel.

Tetê Trad

Já em fevereiro deste ano, Patrola entrou com um processo sobre o mesmo tema contra Maria Thereza Trad Alves. A psicóloga reside no mesmo prédio que o ex-secretário municipal de saúde e também está devendo aluguel e IPTU. 

No caso da irmã do ex-prefeito, o débito cobrado por Patrola é de R$ 214.063,24, sendo R$ 114.372,39 referente aos aluguéis e R$ 99.690,85 sobre o IPTU.

No processo consta que um contrato foi firmado em maio de 2019 para tratar da locação do imóvel sob o valor de R$ 4,5 mil, mas que poderia ter desconto de R$ 1 mil caso fosse pago com pontualidade. Já os aluguéis cobrados são referentes a janeiro de 2022 a janeiro de 2024.

Na contestação, Tetê Trad apresenta argumentos semelhantes ao do cunhado e defende que Patrola teria débitos com a psicóloga referente a taxas extras de condomínio (R$ 93.072,65) e benfeitorias realizadas no apartamento (R$ 201.188,44), que somam R$ 294.261,09. 

“Pois bem, além das despesas extras pagas pela locatária, é correto afirmar que a Ré realizou diversas benfeitorias úteis ou necessárias no imóvel, quais sejam, marcenaria, instalação de novos ar condicionados e ambiente projetado na cozinha no quarto de casal que totalizaram em uma quantia atualizada de R$ 201.188,44”, alega a defesa.

Patrola é investigado

A primeira fase da Operação Cascalhos de Areia reuniu indícios que apontam para suposta rede de empreiteiras nas mãos de laranjas, a princípio comandadas por Patrola.

As empresas seriam supostamente usadas por uma quadrilha para desviar dinheiro da Prefeitura de Campo Grande com contratos firmados durante a gestão de Marquinhos Trad.

Entre os donos de empresas com contratos milionários, por exemplo, estava um vendedor de queijos. O homem disse que sequer sabia ter mais de R$ 200 milhões em contratos públicos numa empreiteira da qual é dono no papel.

Empresas com grandes contratos também foram vendidas a preço de banana. Assim, os indícios colocam André Luiz dos Santos, o Patrola, no foco da investigação. Ele é apontado como verdadeiro operador das empresas investigadas.

Segundo a denúncia anônima que deu início às apurações, Patrola supostamente seria sócio do ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD) no ‘esquema’. No entanto, o político nega.

Patrola também é suspeito de desmatamento criminoso no Pantanal. Ele teria destruído mais de 1,3 mil hectares após ser pago para construção de estradas na região pantaneira.

Além disso, as ‘armas’ do crime ambiental seriam as máquinas que uma das empresas dele, a André L. dos Santos Ltda, levou para a região com dinheiro de uma obra pública.