Condenado a 20 anos e dez meses de prisão por homicídio, o delegado da PCMS (Polícia Civil de Mato Grosso do Sul) Fernando Araújo da Cruz Júnior recebeu R$ 416,9 mil em salários desde que foi preso, em março de 2019. Ele é acusado de matar um cidadão boliviano dentro de uma ambulância.
O salário bruto do servidor público é de R$ 21,5 mil, segundo o Portal da Transparência. Com os descontos obrigatórios, ele recebe R$ 14,4 mil líquidos. A título de 13.º salário, Cruz Júnior recebeu R$ 29,4 mil entre 2019 e 2020.
Em abril de 2019, a Corregedoria da PCMS decidiu afastar o delegado das funções. Já em maio deste ano, Cruz Júnior pediu ao Conselho Superior da Polícia Civil que fosse reintegrado, mas o colegiado negou o pedido.
O Jornal Midiamax procurou a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) para questionar se o delegado respondeu a sindicância ou PAD (Processo Administrativo Disciplinar), o porquê continuou recebendo mesmo afastado e quando a demissão será formalizada, mas a assessoria da pasta informou que apenas a Polícia Civil poderia responder.
A PCMS informou em nota que o servidor responde a PAD que “está em uma fase bem adiantada”, além de ainda não ter sido informada oficialmente da sentença. A corporação confirmou que o delegado continua recebendo os salários, mas não esclareceu os motivos.
Histórico
À época titular da Daiji (Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e ao Idoso), Cruz Júnior interceptou a ambulância que transportava o boliviano Alfredo Rangel Weber, esfaqueado em uma festa em 23 de fevereiro de 2019, e o matou a tiros. Segundo a polícia, o delegado foi surpreendido ao ser informado pelo investigador Emmanuel Contis de que a irmã da vítima estava na ambulância e testemunhou o assassinato.
Em meio à trama do homicídio, testemunhas foram coagidas sendo uma delas o motorista da ambulância, que teve como advogada a mulher de Fernando. No entanto, o que o casal não esperava era que policiais bolivianos e até um promotor usassem de chantagem para extorquir os dois, com pedido de R$ 100 mil para que não implicassem o delegado ao assassinato.
Na tentativa de encobrir os rastros do crime, até execuções dos policiais e delegados que estavam investigando o caso foram arquitetadas por Cruz Júnior e Contis, que informava ao delegado todos os passos das investigações.
Os dois foram presos em 29 de março daquele ano em ação da DEH (Delegacia Especializada em Repressão a Homicídios) e Garras (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros). A nova denúncia de ameaças foi registrada em setembro de 2020, com o delegado já preso. Segundo as vítimas, mesmo detido ele teria tentado ordenar a execução dos colegas de trabalho.
O julgamento de Cruz Júnior chegou a ser agendado para abril de 2021, mas foi adiado para junho a pedido da defesa. Por fim, o juiz André Luiz Monteiro acolheu a decisão do júri e o condenou pelo crime.
“Agiu ardilosamente modificando o estado de coisas, bem como intimidou e coagiu testemunhas visando obter a sua impunidade quanto ao crime de homicídio praticado, o que reforça a incompatibilidade em permanecer exercendo o cargo para o qual foi nomeado”, pontuou o magistrado.