Testemunhas arroladas defesa do ex-deputado e servidor da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), Wilson Roberto Mariano, o Beto Mariano, serão ouvidas pelo juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, no dia 25 de fevereiro, às 14h.

Réu da Operação Lama asfáltica, o Fiscal de Obras da Agesul é acusado de integrar organização criminosa voltada ao desvio de recursos públicos, mediante esquema de fraude em licitações, superfaturamento de contratos, recebimento de propina e corrupção de servidores públicos.

Conforme as investigações da Polícia Federal, Receita Federal e CGU (Controladoria Geral da União), o ex-deputado seria o responsável pela confecção de boletins de medições de obras que nunca foram executadas, levando ao superfaturamento de contratos em benefício da Proteco, de João Amorim, em troca de propina.

Chamou a atenção dos investigadores a “considerável evolução patrimonial, manifestadamente incompatível com sua renda declarada”, caracterizada pela aquisição de apartamentos, terrenos, imóveis rurais e elevada quantia em dinheiro em espécie encontrada em sua residência.

Beto, em tese, usaria a esposa, filha e genro, como ‘laranjas’ para acobertar a real origem do dinheiro. Ele pediu ao juiz David Oliveira Gomes Filho a anulação das provas obtidas pela Polícia Federal – e compartilhadas com a Justiça Estadual pela Justiça Federal – alegando que elas foram obtidas de forma ilícita, mas o magistrado negou.

O fiscal de obras, assim como o ex-secretário de Obras, Edson Giroto, e o engenheiro João Afif Jorge, réus na mesma ação, pediu a realização de uma perícia para comprovar a legalidade dos recursos usados na aquisição dos bens, entre eles fazendas, mas o juiz também negou, sob a mesma argumentação usada no caso dos demais réus.

“Ocorre que existência de recursos financeiros para a aquisição de imóveis é fato de fácil verificação, já que se trata de números. Ou a pessoa tem recursos financeiros ou rendimentos suficientes para tanto ou a pessoa não tem. Não é preciso um perito para demonstrar isto”, sustentou ao negar a perícia.

Gomes Filho também afirmou, no despacho, que Beto terá a oportunidade de esclarecer os pontos e dizer como adquiriu os bens, provando sua legalidade, durante a audiência, agendada para o dia 25 de fevereiro, às 14h. Ele será o primeiro a ser ouvido, seguido de João Afifi Jorge, no dia 27 de fevereiro e Giroto, no dia seguinte.

‘Laranjas’

Beto Mariano é apontado pela investigação do Ministério Público como servidor que transferia dinheiro para as contas da esposa e da filha, em benefício de pessoas como Edson Giroto, ex-secretário estadual de obras durante a gestão de André Puccinelli (MDB) e João Afif Jorge, ex-coordenador da Agesul. Esses dois últimos dividiam fazendas com Mariane Mariano pelo Estado.

“Os recursos recebidos – e omitidos nas respectivas declarações de renda – por Beto, Giroto e Afif pagos em dinheiro em espécie, eram depositados na conta bancária de Mariane Mariano  e, posteriormente, destinados para a aquisição de fazendas e demais despesas da atividade agropecuária”. O genro, João Pedro Dornellas, é apontado como um dos responsáveis pela realização dos depósitos.

Durante fase da operação da Polícia Federal, foram encontrados R$ 25.338,00, U$ 10.828,00 e E$ 2.000,00 em espécie no apartamento do servidor público. Nos extratos analisados pela polícia, Mariano chegou a doar R$ 500 mil para a filha.

Em 2013, ficou comprovada uma movimentação financeira de R$ 3.582.576,01, equivalente a cerca de 17 vezes o total de rendimento declarados e, em 2014, a movimentação foi 21 vezes o total de rendimentos declarados (R$298.495,52), no montante de R$ 6.228.715,79.