A atuação sistemática de uma ‘contrainteligência’ no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, que revelaria falhas na administração da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), acendeu alerta entre deputados estaduais. As denúncias publicadas nesta semana pelo Jornal Midiamax estão sendo acompanhadas pela Assembleia Legislativa.

Integrante da Frente Parlamentar da Segurança Pública e do Sistema Penitenciário, João Henrique Catan (PL) disse ao Jornal Midiamax que ele e a Assembleia acompanham a situação.

“É impressionante, você evolui e os bandidos também evoluem. Precisamos estabelecer mecanismos ágeis que promovam intervenção rápida de maneira a tornar seguro o Mato Grosso do Sul”, disparou.

O parlamentar afirma que as conversas flagradas entre detentos da Máxima e que resultaram até em atentado com morte de dois adolescentes de 13 anos, no Jardim das Hortênsias, no último dia 3, na Capital, são ‘estarrecedoras’.

“Ficamos estarrecidos de ver, porque muitas vezes dentro das nossas casas, ou quando estamos perto de presídios, falha o sinal. Na nossa casa não chega o sinal contratado e lá parece que eles têm mais internet, mais acesso que a gente. Isso é uma revolta que chega a vamos ajudar a combater” disse.

A reportagem buscou declarações de outros deputados estaduais que compõem a frente parlamentar, mas a maioria não quis se manifestar, outros informaram que falarão sobre o assunto por meio da assessoria de imprensa.

O que diz a Agepen

Em nota, a Agepen informou que a administração não tem poupado esforços para coibir o uso de celulares pelos detentos.

A Agepen diz que já tomou as seguintes medidas:

Vistorias constantes nas celas pela Polícia Penal;
• Uso de Body Scan para revistas de visitantes, servidores e colaboradores;
• Utilização de aparelhos de raio-x para vistorias de pertences;
• Instalação de telas sobre os pavilhões e solários para conter arremessos e drones;
• Sistemas de câmeras para videomonitoramento 24 horas por dia;
• Outras tecnologias estão em estudo (algumas são utilizadas em sigilo por questões de segurança);

• Manutenção das lideranças nas Penitenciárias Estaduais de Regime Fechado da Gameleira I e II;
• Atuação conjunta com a Secretaria Nacional de Políticas Penitenciárias – SENAPPEN, através de diversas operações, dentre elas a MUTE, que em MS resultou na apreensão de 408 aparelhos celulares durante as quatro fases da Operação;
• Aumento gradual das vistorias realizadas em todas as unidades penais, que totalizaram 3.083 apreensões de aparelhos telefônicos em 2023 e 800 aparelhos no primeiro trimestre de 2024;
• Transferência de indivíduos relevantes no contexto criminal para as unidades do Complexo da Gameleira (PEMRFG I e II).

A respeito do bloqueio de sinal, a Agepen informa que os aparelhos adquiridos com esse fim já se mostraram ineficazes e ainda prejudicaram o serviço de telefonia de bairros vizinhos aos presídios. “O contrato que previa o funcionamento de bloqueadores foi suspenso, devido a comprovada ineficácia da tecnologia”.

Detentos da Máxima orientam bandidos em tempo real

Com acesso à comunicação garantida, os detentos do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande mantêm verdadeiro ‘serviço de contrainteligência’ para monitorar em tempo real investigações em andamento e orientar comparsas do lado de fora.

É o que mostram mensagens flagradas durante a busca pelos traficantes que executaram por engano duas crianças de 13 anos de idade no bairro Jardim das Hortênsias, em Campo Grande, no último dia 3.

No flagrante, o preso Kleverton Bibiano Apolinário, custodiado pela Agepen (Agência Estadual de Administração Penitenciária), e conhecido como ‘Pato Donald’, usa smartphone e aplicativos de comunicação instantânea nos aposentos da Máxima.

Nas mensagens, o detento orienta Nicollas Inácio Souza da Silva sobre como ‘escapar’ de ser preso pelo crime. ‘Pato Donald’ é apontado como um dos chefes do narcotráfico na região das Moreninhas, e estaria expandido as atividades para os bairros Aero Rancho e Jardim das Hortênsias.

Assim, como ‘dano colateral’ da disputa por território, mandou Nicollas matar outro traficante por dívida de droga. Foi quando os adolescentes Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de 13 anos, foram assassinados sem ter nada a ver com o rolo dos bandidos.

Arma usada para matar adolescentes foi ‘arrumada’ na Máxima

As execuções de Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de apenas 13 anos, chamaram a atenção para a guerra do tráfico de drogas em andamento nas ruas de Campo Grande. Além disso, revelam como o Presídio de Segurança Máxima da Agepen se tornou ‘escritório’ de onde traficantes comandam a bandidagem.

Os adolescentes foram assassinados em público por engano. De acordo com o apurado pelo Jornal Midiamax, um detento do presídio de Segurança Máxima de Campo Grande estaria implicado no ‘fornecimento’ da pistola usada para matar Aysla e Silas no Jardim Hortência.