A Câmara Municipal de Rio Brilhante vive uma situação tensa em uma denúncia envolvendo o vereador Carlos Roberto Segatto, o Tucura (PTB). Ele foi flagrado em uma conversa gravada na Casa articulando um suposto esquema de “rachadinha”, repasse de salários entre assessores.

No áudio, ao qual o Jornal Midiamax teve acesso, uma ex-assessora conversa com outro assessor e Tucura. Os três estavam em uma reunião definindo as atribuições de cada um.

Durante a conversa, foi proposta a divisão dos salários dela e de outro assessor, já que ambos trabalhariam em períodos diferentes. A mulher, que denunciou inicialmente o caso, alertou o vereador e o colega que a situação configuraria crime de peculato.

Em outro trecho da gravação, a ex-assessora negocia uma forma de fazer a “” sem despertar a atenção das autoridades. A ideia levantada é de entregar o dinheiro em espécie para “não deixar rastros”, ao que a mulher responde: “O de vocês, vocês não querem deixar na reta né? O meu também não vai ficar”.

Vereador denuncia na tribuna e diz que vai ao MPMS

O vereador Rodrigo Laboissier (PSDB) denunciou o caso na sessão desta semana da Câmara. Ele chama a atenção dos colegas e garante que vai levar os áudios ao (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul).

“Ouvi umas porcarias, que são crimes políticos! Se não levarmos para frente um processo de cassação, quero ver como vamos responder à nossa população de 40 mil pessoas”, discursou.

Laboissier relata ainda que três colegas já sabiam do caso e não teriam levado a denúncia ao público. Além disso, ele lamenta supostos comentários homofóbicos dos quais teria sido alvo. “Se as pessoas não têm coragem nessa Câmara, eu vou ter”, disparou. Assista ao discurso abaixo.

Vereadores de Rio Brilhante avaliam processo de cassação por suposta rachadinha

O vereador Éverton de Carvalho (União) disse ao Midiamax que pedirá abertura de investigação contra Tucura. “Nos reunimos ontem [quinta-feira, 2] com a presidência porque a Câmara não dispõe de um Código de Ética. Mas vai ter sim [a denúncia]”, afirmou.

Éverton avalia que o caso é de quebra de decoro parlamentar. “É a primeira vez que vejo esta situação aqui, porém pelos áudios vazados há elementos contratos de quebra de decoro, é nesta linha que temos que avaliar”, opinou.

O presidente da Casa, Paulo César Alves, o PC (MDB), afirmou que a Casa ainda não recebeu nenhum pedido de cassação, mas caso seja protocolado, será deliberado em plenário.

“Para abrir um processo, tem que ter um pedido de cassação protocolado na Câmara Municipal, que pode ser feito por qualquer pessoa residente no município. Por enquanto, ninguém protocolou nada, se porventura alguém protocolar, aí vai para sessão para ser votado. Se os vereadores acatarem a denúncia, aí tem que sortear uma comissão para avaliar e investigar o fato”, explicou.

PC disse não ter ouvido os áudios. “Até o momento não ouvi os áudios. E também até agora o vereador Tucura não conversou nada comigo ainda. A vai fazer o que a lei manda”, garantiu.

O que diz Tucura

Procurado pelo Jornal Midiamax, Tucura disse que a denunciante lhe procurou pedindo um cargo na Câmara, mas não poderia indicá-la. Assim, ela aceitou trabalhar de forma voluntária.

“Registrei um boletim de ocorrência. Há testemunhas, porque essas gravações, que são ilícitas, foram divulgadas em partes. Queremos que o MP apure e vamos provar nossa inocência”, afirmou.

Ele ainda se disse perseguido pelo prefeito Lucas Foroni (MDB). “É uma armação do Executivo, porque não conseguiram me cooptar. Essa mulher inclusive foi nomeada na prefeitura”, disparou.

Em resposta, Foroni negou a acusação e afirmou que Tucura deve responder pela denúncia e pela suposta fala homofóbica contra Laboissier.

“Acredito que é questão da Justiça e isso não interfere no trabalho do Executivo. Continuarei tendo que fazer meu trabalho e minha parte, e acredito que cada um deva responder pelos seus atos. O foco é ele responder sobre o caso de rachadinha e também sobre falar por mensagem que ‘os gays deveriam morrer', se referindo ao vereador Rodrigo, que provocou isso na Câmara”, pontuou.

O prefeito fez questão de criticar o vereador pela suposta homofobia. “O caso é terrível e as conversas sobre querer falar sobre ‘gay tem que morrer', acredito ser grave igual a isso [rachadinha]”, afirmou.

A reportagem voltou a procurar Tucura para comentar a acusação de homofobia, que disse não ter nada contra o público LGBTQIA+. “Jamais tive problemas com essa classe, um dos meus melhores amigos é homossexual. Apenas sou contra erotização de crianças. A vida de adultos não me diz respeito”, disse.