De primeira capital a decretar toque de recolher até o mesmo lugar em relação às que mais vacinam no Brasil. Campo Grande completa 122 anos nesta quinta-feira (26) e, apesar de tanta história e projetos para contar, após um ano e meio da pandemia de Covid-19, o assunto que ainda domina é o enfrentamento do período mais difícil do século.

Em entrevista especial pelos 122 anos da cidade, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) conta ao Jornal Midiamax como foi tomar decisões nas fases mais duras até chegar ao posto de Capital que mais vacina. “Mandei colocar o mapa da cidade e nele começamos a pontuar as unidades de saúde, peguei as sete regiões, os dois distritos. Hoje temos quase 77 pontos de vacinação. Além disso, abrimos os drives e os grandes ginásios”, cita.

Segundo ele, a organização começou antes mesmo do imunizante ser distribuído no Brasil. “Quanto mais lugares acessíveis com rapidez e conforto, mais estimula o cidadão a ir, porque ninguém gosta de esperar, de ficar na fila, de andar muito longe. Quando vê que é rápido, um conta para o outro”. Campo Grande chegou a 1 milhão de doses da vacina contra Covid-19 aplicadas, somando a primeira e segunda doses, além da dose única.

Não sabíamos lidar com a pandemia

Assim como o mundo todo, ninguém estava preparado para viver uma pandemia. Em termos de estrutura, então, o cenário era ainda pior em Campo Grande. “Constatamos que a gente nem tinha estrutura para comportar o tamanho do problema que a pandemia poderia ocasionar na nossa cidade. Uma coisa era fácil, contratar profissionais, a outra, muito difícil, era criar leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”.

Em 2017, a cidade tinha 116 leitos, conta o prefeito. “Praticamente um leito por ano que os gestores conseguiram abrir. E nós tivemos de fechar a cidade, em março, não com intuito de prejudicar a economia, mas como uma maneira que nós encontramos para que, nesses 15 dias, fizéssemos uma força tarefa para dar mais leitos de UTI”.

Atualmente, afirma, a cidade tem 335 leitos, 219 a mais, que precisaram ser abertos para atender pacientes na pandemia. “Um leito de UTI não é só uma cama com tubo de oxigênio, vindo pela parede. É você colocar três médicos intensivistas, aparelhar com bomba de infusão, oxigênio, é uma reforma que o hospital tem que passar, porque a estrutura elétrica não comportava”, lembra.

Não é só o prefeito

Marquinhos citou que todas as decisões tomadas desde o começo da pandemia foram em conjunto. “O sucesso da nossa cidade se deve às 30 pessoas [representantes do empresariado, da saúde, do governo, entre outros], não apenas ao prefeito. Eu tive a ideia de reuni-los. E assim a gente ouvia cada um colocando a sua fundamentação”. 

Enquanto o comércio queria se manter aberto e os restaurantes pediam mais tempo fora do toque de recolher, infectologistas diziam que o ideal era fechar por um período. “Medidas restritivas eram adotadas quando necessárias e as flexíveis quando a ciência nos autorizava, até chegar a vacina”.

Ele afirma que a economia em Campo Grande não sofreu ‘baque tão profundo quanto o restante do País’. “Porque nós não paramos com as obras e licitações. A cidade continuou evoluindo”. Em outubro passado, o município anunciou R$ 1,3 bilhão em obras que, desde então, ou estão em licitação, em andamento ou prestes a serem lançadas. A expectativa é criar 24 mil empregos — 8 mil já foram abertos.

O pior já passou?

Poucas pessoas conseguem dizer com segurança a frase de que ‘o pior já passou’. Mas, em dados, a situação em Campo Grande parece estar controlada, diante do número de vacinados, leitos disponíveis, queda nos números de casos confirmados e mortes. No dia da entrevista, Marquinhos disse que a expectativa era que, até começo de dezembro, a cidade voltasse a viver mais próximo do que era antes.

No entanto, no que se refere ao toque de recolher, a restrição foi extinta na segunda-feira (23). Bares, restaurantes e outros estabelecimentos podem funcionar sem limitação de horário. Até semana passada, até meia-noite, tudo tinha de estar fechado.