Entrevista: Delcídio diz que saiu ‘uma pessoa melhor’, após 3 meses de prisão
O petista ainda não conversou com Dilma e Lula
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O petista ainda não conversou com Dilma e Lula
Solto após quase três meses de prisão, o senador Delcídio do Amaral (PT) conversou hoje com a reportagem do Jornal Midiamax. Falou do que sentiu ao ficar em uma cela e quais são os planos para o futuro. Na entrevista, por telefone, falou da importância da família, da defesa que pretende fazer, da relação com os amigos e com colegas de partido.
Delcídio contou que aproveitou os dias para ler muito e se concentrar na defesa que pretende fazer, tanto no Senado quanto na Justiça. Apesar da dificuldade que passou no período, o senador se mostrou tranquilo e não fugiu de nenhuma pergunta sobre os dias da prisão e as acusações que sofre.
Apesar dos vários dias presos e com situações constrangedoras, como o afastamento do partido e votação esmagadora no Senado para que permanecesse preso, o senador afirmou que sai sem mágoa ou revanchismo. Ele também não descartou continuidade na vida política.
Midiamax: Como foram estes dias do senhor na prisão. O que o senhor sentiu e que conclusões tira, principalmente em relação ao comportamento das pessoas contigo?
Delcídio: Foi uma experiência difícil, mas saio pessoalmente muito melhor. Me surpreendi favoravelmente e desfavoravelmente. Não esperava muita compreensão e solidariedade que recebi intensamente de alguns. Outros que viviam comigo, pareciam estranhos, mas o que recebi de cartas de todo Estado, mensagens, bíblia. Uma coisa espontânea, bacana. Vou falar uma frase de Fernando Pessoa: “Quem questiona muito a vida, é sinal que não entende”, acho que estou entendendo um pouco.
Midiamax: O senhor se surpreendeu com a atitude de algumas pessoas? O senhor era líder de governo, em uma função que não é fácil. Ai aconteceu tudo isso. O senhor se sentiu traído, decepcionado?
Delcídio: Recebi o apoio de lideranças importantes do partido, do governo, assim como no dia-a-dia acontece. Pessoas que sempre achamos distante, em um momento como este mostra coragem, se aproxima e outros não. O partido reflete a vida da gente. Não fico mais preocupado. Saio (da prisão) sem revanchismo ou mágoa, mas olhando para frente.
Midiamax: Depois de tudo isso, caso consiga provar a inocência, o senhor pretende seguir com a carreira política?
Delcídio: Política é a única atividade no mundo em que você morre e ressuscita não sei quantas vezes. Tenho convicção no bom direito. A gravação foi ilegal, onde alguém se colocou na escuta, em uma conversa com terceiro. O próprio STF já tem jurisprudência. Um senador só pode ser preso em atentado terrorista ou tráfico. Nem na tentativa existiu crime. Parou na conversa.
Midiamax: Mas o senhor conversou sobre uma possível fuga. Não acha que neste caso houve quebra de decoro parlamentar?
Delcídio: Era uma conversa privada. Não de um senador, mas com alguém de uma família que conheço desde pequeno. Ai a conversa rola solta. Ele entendeu que só salvaria o pai dele se gravasse. Esperava que eu fosse falar de dinheiro e, pelo contrário, quando falou disse eu resolvi me afastar. Vou me defender. O que vai ser do futuro, se continuo ou não, só o tempo vai dizer. As coisas são muito dinâmicas.
Midiamax: O senhor acredita que pode ser absolvido no Senado?
Delcídio: A decisão no conselho é política. No final (da gravação) eu digo para ele que o melhor é não fugir e ficar no Brasil mesmo, mas isso ninguém fala. Não era uma conversa de senador, mas de amigo. Igual eu me envolver em uma acidente de trânsito doloso e ser cassado. O que tira do diálogo? Nada. O ministro não fala comigo. Não tem na minha agenda e nem dos ministros um encontro comigo. Agora, só o tempo vai dizer. É uma coisa de dia-a-dia. Só o tempo vai dizer. É um trabalho diário. Tenho uma boa relação com os senadores.
Midiamax: O senhor falou com a presidente Dilma Rousseff (PT) ou com o ex-presidente Lula (Luiz Inácio Lula da Silva)?
Delcídio: Não falei com nenhum dos dois. Estou começando a fazer alguns exames nesta semana e em alguns você fica meio grogue, passado. Vou ficar aqui até esta semana e na semana que vem vou para Campo Grande. Vou voltar para a minha casa, minha vida, meu Estado, minha cidade e trabalhar para continuar ajudando meu Estado.
Midiamax:O senhor, neste período, em algum momento chegou a pensar em delação premiada?
Delcídio:Sempre que acontece estas coisas aparece esta conversa. Não aconteceu isso. Vou continuar com o bom direito.
Midiamax: O senhor está afastado do partido. Pensa em deixar o PT?
Delcídio:Agora não estou discutindo estas coisas de partido. Com o tempo as coisas se ajustam. Estou preocupado com o conselho de ética.
Midiamax:Que lição o senhor tira de tudo o que viveu nestes últimos dias com a prisão e toda reviravolta na sua vida?
Delcídio:Primeiro: ouça mais e fale menos. Segundo: desconfie sempre. Neste momento você vê o quanto Deus é importante e a família, que foi heroica. O que eles fizeram ao longo destes dias foi espetacular. Eu, que sempre converso com Deus, agora mais ainda.
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