Ele estava suspenso da legenda desde que foi preso

O senador não vai se pronunciar sobre o conteúdo “bomba” do acordo de colaboração com a Operação Lava Jato, autorizado pelo ministro Teori Zawascki. A única decisão anunciada é que ele pediu desfiliação do partido, do qual estava suspenso desde que foi preso, em novembro.

O documento da delação premiada foi disponibilizado pelo STF e cita a presidente da República, o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), políticos da oposição, entre eles Aécio Neves (PSDB), e ainda personagens do poder em Mato Grosso do Sul, como o ex-governador André Puccinelli (PMDB).

Segundo a assessoria de imprensa de Delcídio no Estado, neste momento ele não tem “nada a declarar”. De acordo com a informação prestada, o senador só vai falar ao final do processo.

Delcídio ficou preso por quase três meses, sob acusação de tentar atrapalhar as investigações sobre o escândalo da Petrobras, e saiu da prisão no dia 19 de fevereiro, uma semana depois de firmar o acordo com a Lava Jato. Desde então, ainda não teve aparição pública. Sua volta ao Senado, onde é alvo de processo de cassação, estava prevista para a semana seguinte à soltura, mas o parlamentar pediu um atestado, primeiro de 15 dias e depois prorrogado.

A alegação para a licença foi que iria realizar exames médicos em São Paulo. Hoje, sua assessoria diz que ele permanece na capital paulista, fazendo tratamento para a diabetes, que teria se agravado no período de clausura.

A família de Delcídio, esposa e filhos, segundo a reportagem apurou, está em Florianópolis, onde ele também tem casa.

O QG político do senador em Campo Grande, na Rua Antonio Maria Coelho, no Jardim dos Estados, foi fechado em dezembro, após a prisão dele.

Escritório do senador em Campo Grande foi fechado em dezembro, após a prisão / Foto: Alex Barboza

 

Perfil

Delcídio do Amaral tem 61 anos, completados enquanto estava na prisão, em Brasília. Nascido em Corumbá, ele se formou em engenharia e trabalhou na Shell, na Europa, antes de voltar para o Brasil e atuar na Eletrosul. Sua biografia inclui participação na construção da usina de Tucuruí, no Pará.

Foi secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia em 1994 e ministro de Minas e Energia no governo de Itamar Franco, sucessor de Fernando Collor de Melo após o impeachment.

Na administração seguinte, de Fernando Henrique Cardoso, ocupou a diretoria de Gás e Energia da Petrobras, entre 2000 e 2001. Nesta época, trabalhou com Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, delatores da Operação Lava Jato.

Em 2001, ocorreu sua aproximação com o PT em Mato Grosso do Sul. Tornou-se secretário de Infra-estrutura na gestão de Zeca do PT e, no ano seguinte, em 2002, elegeu-se senador, com 73 mil votos. Antes do PT, há a informação de que foi filiado ao PSDB, mas o senador nunca colocou essa informação em seu perfil.

Passou a ter projeção nacional em 2005, quando presidiu a CPI dos Correios, que apurou o mensalão. No ano seguinte, foi derrotado na disputa pelo governo do Estado por André Puccinelli (PMDB).

Em 2014 foi novamente derrotado na disputa para o governo, mesmo sendo considerado favorito no início da campanha. O eleito foi Reinaldo Azambuja (PSDB)

Ocupou de abril do ano passado até a prisão, a liderança do Governo no Senado. Também presidia uma das principais comissões da Casa, a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), à qual renunciou logo após ser solto.

Hoje, Delcídio é declaradamente ‘inimigo' do Governo e do PT, partido que suspendeu sua filiação logo quando foi preso, primeiro por 60 dias, e depois por prazo indeterminado.