Senador é personagem de notícia que pode virar história

O Brasil acordou hoje com uma notícia daquelas com poder para mudar o curso da história, a capa da revista IstoÉ revelando o suposto acordo de delação premiada do senador sul-mato-grossense Delcídio do Amaral (PT). A revista diz que, no pacto com o MPF (Ministério Público Federal), Delcídio implica tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto a presidente Dilma Rousssef no escândalo conhecido como ‘Petrolão’, de desvio de dinheiro da maior empresa do país, a Petrobras.

Segundo o conteúdo divulgado, o senador afirma que Dilma tentou atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e Lula foi o mentor da conversa de Delcídio com Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras preso por envolvimento no esquema, na qual o petista tentou dissuadi-lo de contar o que sabia aos investigadores.

Quem tem mais de 30 anos e viveu a queda de Fernando Collor da presidência da República sentiu no ar um ‘cheiro’ de 1992. Ele decorre, entre outras coisas, da forma como a revista escolheu para dar a notícia: com o mesmo título com que a Veja, concorrente da IstoÉ, trouxe no dia 25 de maio daquele ano a entrevista de Pedro Collor, o irmão já falecido do ex-presidente alagoano. Acompanham as duas notícias fotos em close dos personagens e a chancela “exclusivo”.

Naquela capa, Pedro Collor também ‘contava tudo’. Assim como agora, consolidou a suspeita que era pública, mas não tinha confirmação efetiva, ao declarar que o também falecido Paulo César Farias era, na verdade, ‘testa-de-ferro’ de Fernando Collor de Melo. A República com dois eles ruiu. Não deu seis meses para Collor sofrer o processo de impeachmeant, no dia 29 de setembro de 1992, e ser substituído pelo vice-presidente, Itamar Franco, outro já morto.

A diferença entre as duas ‘capas’ é que na da Veja, da década de 1990, o ‘furo’ foi  exclusivo do trabalho de apuração da publicação, pois a revelação foi em uma entrevista, gravada em vídeo, ao jornalista Luis Costa Pinto, após meses de negociação. Agora, seguindo a tendência do jornalismo de hoje, a IstoÉ conseguiu também uma notícia histórica, mas por meio do vazamento de supostos documentos da força-tarefa da Lava-Jato.

Os impactos os próximos dias dirão. Veja abaixo as duas capas lado a lado.

 

Capa em que Delcídio 'conta tudo' tem 'cheiro' de 1992, o ano do impeachment