Justiça pede avaliação dos filhos de mulher que atuava como ‘laranja’ para ajudar marido em grupo criminoso
Esposa do empresário Rodney Gonçalves Medina está presa desde o último dia 15, alvo da segunda fase da Operação Snow
Lívia Bezerra –
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A Justiça pediu uma avaliação social dos filhos da mulher de 33 anos, acusada de atuar como ‘laranja’ para ajudar o marido Rodney Gonçalves Medina em organização criminosa investigada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na segunda fase da Operação Snow, em Campo Grande.
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A mulher está presa desde o último dia 15, quando foi alvo da operação por envolvimento com o grupo criminoso. Ela é uma das 21 pessoas denunciadas pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), por meio do Gaeco.
Logo após a prisão da mulher, a advogada Livia Roberta Monteiro entrou com pedido de prisão domiciliar, alegando que a cliente é mãe solteira de duas crianças, de 3 e 10 anos. No pedido, a advogada cita que os menores estão aos cuidados da avó materna, mas a mesma possui dificuldade de locomoção devido a um prótese no membro inferior e não pode ficar horas em pé.
“Insta salientar, com a maior objetividade possível a Vossa Excelência, a situação urgente que se trata o presente requerimento, visto que, a acusada é mãe de duas crianças que estavam sob seu total cuidado e zelo, podendo a prisão ora existente, gerar gravíssimos transtornos para a formação psicológica e educacional das crianças, que segundo relatos de familiares, estão sofrendo com a ausência da mãe”, argumenta a advogada.
E nessa terça-feira (28), a juíza de Direito, Eucelia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, determinou que seja feita uma avaliação das condições em que se encontram os filhos da mulher.
A magistrada ainda citou que um laudo foi elaborado no pedido de revogação da prisão preventiva, mas que o mesmo foi solicitado para constatar o vínculo de Rodney junto às crianças.
“A despeito de, naquele feito, a requerente ter constado como responsável pelos infantes, há registro neste feito de que seus filhos estariam sob cuidado da avó materna, razão pela qual entende o Juízo pela necessidade de novo estudo social, a fim de que se verifique se as condições dos filhos da requerente encontram-se atendidas sob ar esponsabilidade da avó materna”, diz trecho da decisão judicial.
Por fim, a juíza determinou que os autos sejam remetidos à uma equipe técnica para realizar o estudo social com as crianças para verificar a condição atual deles e o vínculo que possuem com a mulher. “Bem como descreverem que se encontram os infantes, que estão, segundo consta, sob a responsabilidade da avó materna”, acrescentou a magistrada.
Nesta quarta-feira (29), os autos foram encaminhados ao Núcleo Psicossocial. O prazo para a entrega do laudo é de dez dias.
Prisão
A mulher estava em casa, quando foi abordada por equipes do Gaeco, com apoio do Batalhão de Choque da PM (Polícia Militar). Na ocasião, os dois filhos do casal estavam no imóvel. Horas após a prisão, a defesa dela entrou com pedido de revogação. Isso porque o advogado Antonio Cesar Jesuino, que representa a defesa da mulher, alegou que ela é mãe de duas crianças, de 3 e 10 anos.
Funções dos investigados na organização criminosa
Entre os denunciados pelo MPMS após a segunda fase da Operação Snow, está um rapaz de 28 anos, que atuava no operacional da organização criminosa. O investigado levava os caminhões aos depósitos, providenciava a obtenção de veículos usados no transporte de drogas e participava da captação de motoristas para atuar na empreitada criminosa.
Já outro preso, de 34 anos, trabalha como coordenador de logística em uma empresa terceirizada dos Correios. Com isso, ele ficava responsável por organizar o transporte dos entorpecentes.
Ainda conforme a denúncia, um homem de 52 anos que trabalhava com técnica em rastreadores era responsável por desativar os aparelhos das companhias de transporte nos caminhões. Como os aparelhos emitem sinais de geolocalização, a ideia era impedir que o veículo fosse rastreado durante o transporte da droga. O criminoso também instalava GPS nos veículos para que o líder da organização pudesse acompanhar o trajeto.
Já o empresário Emerson e outro integrante de 35 anos atuavam como facilitadores. Emerson, inclusive, foi apontado como ‘financiador’ do tráfico. As investigações indicam que a dupla investiu altos valores em dinheiro para custear as cargas de drogas.
Enquanto isso, os dois advogados blindavam os integrantes da organização, de acordo com o MPMS. Além da prestação de serviços jurídicos, a dupla atuava na corrupção de agentes públicos para a obtenção de informações privilegiadas e monitoramento das cargas. Os advogados também eram conselheiros de outros assuntos sensíveis do grupo criminoso.
Por fim, os motoristas da organização criminosa eram seis, entre eles, o comerciante que foi preso na última quarta-feira (15) em casa no Portal Caiobá. Além de transportar os entorpecentes nos veículos, eles também atuavam como batedores.
Operação Snow
E em março do ano passado, foi deflagrada a primeira fase da Operação Snow para que os mandados fossem cumpridos. Na ocasião, Rodney Gonçalves Medina, Ademar Almeida Ribas e Joesley da Rosa foram presos.
Após a prisão de 21 investigados na primeira fase da Operação Snow, foi feita uma análise dos dados extraídos dos aparelhos celulares de Joesley e Rodney.
Com a análise, ficou demonstrado que o grupo é especializado no tráfico de drogas e integrado por 19 pessoas, as quais foram denunciadas após a segunda fase da operação.
Organização criminosa
Segundo o Gaeco, a organização criminosa é extremamente violenta, resolvendo muitas de suas pendências – especialmente as questões relacionadas à perda de cargas de drogas e outros desacertos do tráfico – com sequestros e execuções, muitas vezes de seus próprios integrantes.
O escoamento da droga, como regra da cocaína, era realizado por meio de empresas de transporte, inclusive, descobriu-se, agora, sobre empresas terceirizadas dos Correios.
Durante o transcorrer dos trabalhos foi possível identificar mais 2 toneladas de cocaína da organização criminosa apreendidas em ações policiais.
Trio de quadrilha que transportava cocaína em viaturas da polícia teve liberdade negada
O trio Rodney Gonçalves Medina, Ademar Almeida Ribas e Adriano Diogo Veríssimo teve a liberdade negada pela Justiça, em outubro do ano passado. O pedido foi negado pelo desembargador Luiz Cláudio Bonassini da Silva, tendo sua publicação no Diário da Justiça do dia 14 de outubro.
“Embora a defesa tenha argumentado sobre o tempo excessivo, a complexidade do caso, que envolve múltiplos réus e diversas investigações, justifica a continuidade da prisão preventiva”, diz parte da decisão.
Os advogados de defesa do trio alegaram constrangimento ilegal devido ao excesso de prazo na instrução criminal.
Viaturas eram alugadas por R$ 80 mil para o transporte da cocaína
As cargas de cocaína que eram transportadas pelos policiais civis Hugo César Benites e Anderson César dos Santos Gomes, de Ponta Porã para Campo Grande, eram desviadas de apreensões feitas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Polícia Civil. Cada investigador chegava a receber cerca de R$ 80 mil por transporte do entorpecente.
Hugo César Benites estava no Paraguai quando foi deflagrada a Operação Snow, no dia 26 de março de 2024. O investigador se entregou para não ser expulso do país vizinho. Anderson César já estava preso depois de ser flagrado transportando cocaína para o grupo, que, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), é altamente articulado e estruturado com logística sofisticada e divisão de tarefas delineadas.
Os policiais cooptados pela organização criminosa chegaram a receber, em 21 meses de ‘trabalhos’ para o grupo, o valor de R$ 960 mil, sendo R$ 480 mil para cada um. Ou seja, por transporte, eles chegavam a receber R$ 80 mil.
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