Justiça nega pedido de indenização de R$ 100 mil de vítima de falsa biomédica que sonhou com ‘bocão’

A Justiça negou o pedido de indenização no valor de R$ 100 mil de uma das vítimas da falsa biomédica que prometia o ‘bocão da Angelina Jolie’, em Campo Grande. A mulher teve o procedimento estético mal feito, lhe causando abscessos nos lábios e uma inflamação dos tecidos do rosto, no último dia 13 de setembro, e entrou com ação judicial nessa segunda-feira (21).

A ação indenizatória, assinada pelo advogado Igor José Casotti, que representa a defesa da vítima, é por danos materiais, morais e estéticos e tutela de urgência. A mulher, inclusive, chegou a realizar uma ‘galinhada’ no último sábado (19) para arrecadar recursos para realizar a cirurgia.

Após o laudo médico apontar a aplicação de silicone industrial no rosto da vítima – substância proibida e absolutamente inadequada para uso em procedimentos estéticos segundo a defesa – ela alega que a cirurgia necessária para remover o produto e tentar reparar os danos custará mais de R$ 35 mil, valor que ela não tem. 

Ainda conforme a ação, o procedimento deve ser realizado com urgência, pois ela corre risco de necrose e não pode ser realizado em Campo Grande devido à complexidade e falta de profissionais qualificados na região para remoção segura do silicone. Com isso, a vítima terá que se deslocar para outro estado e terá custos com passagens aéreas, hospedagem e demais despesas.

“Foi explicitado que o procedimento deve ser realizado com urgência, uma vez que a autora corre risco de necrose, conforme o documento apresentado, criando o caráter de urgência do caso que não pode ser ignorado, e o atraso na realização do procedimento coloca em risco a própria vida da autora”, alega a defesa. 

Caso a cirurgia demore para ser realizada, a mulher pode perder a funcionalidade dos tecidos do rosto, segundo explicou a defesa após indicação de especialistas. 

À reportagem do Jornal Midiamax, a vítima disse nesta terça (22) que luta por justiça. “Só quero justiça, pois ela não pode ficar impune”, desabafou.

Entre os pedidos da vítima estão: multa diária no valor de R$ 1 mil em caso de descumprimento injustificado caso as medidas sejam determinadas pelo magistrado e caso não seja deferida a tutela de urgência, que o valor do tratamento cirúrgico seja colocado nos danos materiais a serem pagos pela falsa biomédica.

O advogado Igor José Casotti também solicita que a mulher seja condenada a pagar R$ 522,14, gastos pela vítima com medicamentos e atendimentos emergenciais, pagamento de R$ 40 mil por danos estéticos e que a vítima seja indenizada no valor de R$ 100 mil devido à “degradação da saúde mental, dignidade e da qualidade de vida da autora, que sofreu com o abalo emocional resultante dos danos físicos e estéticos”, diz trecho da ação. 

A defesa da vítima também pede que a falsa biomédica seja condenada ao pagamento dos honorários advocatícios. Por fim, o advogado requer que os pedidos de custeio total e liminar do tratamento médico sejam concedidos imediatamente no prazo de 72 horas.

Os pedidos do advogado foram analisados pelo Juiz Atílio César de Oliveira Júnior no mesmo dia, mas a tutela de urgência foi negada. “A questão demanda dilação probatória, pois embora a autora aponte a urgência do pedido, não foram apresentados elementos probatórios suficientes que demonstrem a probabilidade do direito invocado. Ademais, trata-se de processo em fase inicial, sendo necessário um exame mais aprofundado dos fatos e produção de provas, especialmente porque se trata de demanda que busca aferir a responsabilidade civil”, determinou.

Com isso, o magistrado agendou uma audiência de tentativa de conciliação para as partes, a ser realizada no dia 22 de janeiro de 2025.

Laudo apontou silicone industrial colocado no rosto da vítima

O documento inicia com a indicação de “ácido hialurônico” na face, mas, realizada a avaliação, o laudo aponta que não é esta a substância, mas sim silicone ‘espalhado na boca, bochecha e em outras partes do rosto’. Além disso, fala que não é possível descartar “substância com veículo oleoso”.

“Este laudo foi um pedido médico. Ele precisava saber se era ácido ou não, precisava de um norte para começar o tratamento. Agora estou indo para Santa Casa, neste exato momento. Ela aplicou silicone e vou ter que passar por cirurgia para retirada, já que o produto espalhou o rosto”, lamentou a esteticista, de 26 anos.

Terceira vítima que sonhou com ‘bocão’ se escondeu em casa por vários dias

Última a ser atendida no dia 13 de setembro, em Campo Grande, a vendedora de 52 anos chegou em casa e de lá não saiu mais. No início, estranhou o ardor logo após o preenchimento labial com uma estudante de biomedicina, a qual alegava ser biomédica formada.

Depois, já consciente de tudo o que aconteceu, permaneceu reclusa, por quase uma semana, contando com a filha para entregar os produtos vendidos nas redes sociais e assim sobreviver.

“Eu fui atendida às 18h30 e, logo depois que cheguei em casa, mandei mensagem reclamando da dor. E ela respondeu tudo, diz estar dando suporte, está pagando medicação e buscou um médico alergista para mim, o qual só tem horário amanhã. O meu lábio e o rosto começou a inchar demais e hoje eu entendo que isso não é normal e só não saí de casa ainda por conta da situação que estou, mas, vou fazer a minha queixa também, não tem outro jeito”, argumentou a vendedora.

Por indicação da amiga, a vendedora marcou horário no mesmo dia e estava sonhando com o “bocão”.

“Eu investi R$ 500. Sei que é um valor menor, achei barato mesmo, mas, eu estava ali como paciente modelo, achei que daria certo. E já fiz outros procedimentos estéticos e nunca ocorreu nada disto. A gente que é mulher sonha em ter um bocão”, disse.

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