Militares lotados em , a 324 quilômetros de Campo Grande, estariam assinando um termo que proíbe revelar os acontecimentos no quartel após a morte do recruta Vinícius Ibanez Riquelme, de 19 anos, no sábado (27). 

Vinícius apresentou um possível quadro de desidratação, sendo encaminhado para hospital – ainda em Bela Vista -, e transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde morreu após um possível quadro de desidratação. O caso ocorreu em meio a onda de calor que eleva temperaturas em média 5ºC do normal em Mato Grosso do Sul, já anunciada antecipadamente pela meteorologia.

A reportagem do Jornal Midiamax teve acesso a conversas internas onde os militares relatam que assinaram um termo que os proíbe de revelar os acontecimentos no exército. Após isso, os soldados – principalmente aqueles que passaram mal depois do treinamento -, estão com medo de relatar até mesmo para os familiares. 

A 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada admitiu que 48 militares do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista buscaram atendimento médico após a realização de um exercício de campanha na cidade.

O recruta Vinícius foi submetido a realização de atividades físicas durante o treinamento com o grupo e, de acordo com informações, grave estado de desidratação teria afetado seus rins. 

Amigos e familiares do rapaz denunciam que, entre as principais causas da morte, além do possível quadro de desidratação, estão ‘esforços exaustivos durante os exercícios físicos', realizados em uma manobra militar.

As mães também denunciaram agressão e falta de água para os recrutas durante o treinamento de campo. 

Depois do treinamento, 48 militares procuraram atendimento médico com sintomas de infecção viral semelhantes, entre recrutas e militares da equipe de instrução. Destes, 24 estão sendo atendidos, sendo 20 recrutas e 4 integrantes da equipe de instrução. Dois deles estão em tratamento intensivo e estáveis, informou a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em nota.

Dos militares internados, 5 já receberam alta e outros quatro foram diagnosticados com Influenza após realização de exames. 

Um dos soldados teve de ser transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde está entubado, em coma induzido e com uma mancha no pulmão, segundo os médicos que o atenderam. “Entreguei meu filho saudável”, disse a mãe do militar que o acompanha no hospital.

Questionados se haverá mudanças nos treinamentos realizados pelo Exército após a morte de Vinícius Ibanez Riquelme, a Brigada Guaicurus limitou-se a dizer que um IPM (Inquérito Policial Militar) está sendo instaurado para apurar as circunstâncias do óbito.

O comando da 4ª Brigada também lamentou profundamente o falecimento de Vinícius, ocorrido no sábado (27) e disse que as medidas sanitárias para evitar que os casos de Influenza se tornem mais graves já foram tomadas.

O CMO também informou no sábado (27) que abrirá um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do ocorrido. Em nota, o comando lamenta o falecimento do soldado e afirma que está prestando suporte aos familiares do militar. 

“O soldado foi atendido pela equipe de saúde do Regimento na sexta-feira (26), encaminhado ao hospital de Bela Vista (MS) e, no mesmo dia, transferido para a Santa Casa de Campo Grande. Um inquérito policial militar será instaurado para apurar os fatos”, diz a nota.

Onda de calor

A morte do recruta aconteceu no dia em que Mato Grosso do Sul estava com alerta de onda de calor para todas as cidades.

A onda de calor que atinge o Estado segue até o feriado do Dia do Trabalhador, em 1° de maio, e neste período são esperadas temperaturas de 3°C a 5°C acima da média. O Estado está sob alerta de perigo para as altas temperaturas.

Apesar de altas temperaturas serem comuns ao longo do ano, a onda de calor tem elevado as temperaturas em pleno outono, quando o calor deveria estar mais ameno. Além disso, a baixa umidade relativa do ar, complica o cenário.

Manter a hidratação é a principal recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde). A nutricionista Jackeline Stacy de Alcântara explica que nos períodos de altas temperaturas o corpo segue a natureza de tentar regular a temperatura, sendo assim, esse processo exige mais do metabolismo, que precisa eliminar mais água para o controle.

Morte e internados

Vinícius Ibanez Riquelme foi submetido a realização de atividades físicas durante um treinamento de campo com o grupo do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista, a 324 quilômetros de Campo Grande. De acordo com informações, grave estado de desidratação teria afetado os rins dele.

O soldado morreu na manhã de sábado (27) na Santa Casa da Capital.

“Não acredito que entreguei meu filho vivo para o Exército e recebo ele dentro de um caixão. Não é justo, quero justiça, isso não pode ficar impune! O Vini era um menino muito educado, meu companheiro, minha vida, e agora como fica minha vida?”, disse Mariza, mãe de Vinícius.

Vinícius foi velado e sepultado nesse domingo (28) e o velório marcado pela comoção de familiares e amigos. Informações passadas ao Jornal Midiamax são de que os familiares estavam desmaiando quando chegavam ao local do velório.

Denúncias

Um colega do soldado relatou as atividades intensas sob sol forte e longos períodos sem beber água durante o treinamento. “Uns três tiveram problemas nos rins”, disse.

Uma mãe que mora em Nova Alvorada do Sul foi até Bela Vista para a formatura do filho no quartel, e quando chegou, encontrou o rapaz na guarita, debilitado, sem poder comer e sem tomar água

A mãe, então, pediu para que alguns militares a ajudassem a levar o filho para a enfermaria e, chegando lá, foi informada que a condição física do filho era considerada normal, já que o treinamento era para a sobrevivência.

O soldado acabou sendo levado para o hospital da cidade, mas teve de ser transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde está entubado, em coma induzido e com uma mancha no pulmão.

As mães também denunciam agressão e falta de água para os recrutas durante o treinamento de campo. Uma delas contou que o sonho do filho virou pesadelo. 

Ela conta que o filho tem 18 anos e ingressou no Exército no fim de fevereiro deste ano. Os soldados passaram cinco dias em treinamento de campo militar, sendo os dois últimos com mais dificuldades, conforme o relato da mãe. 

“Ele disse que nos últimos dois dias, tinham que procurar comida e água, chegaram a ficar 48 horas sem beber e comer”.

“Perguntei para ele o que aconteceu, ele disse que foi muito cansativo, não tinha água e nem comida. Ele contou que os recrutas eram agredidos, pois tinham uma corda amarrada no peito e eram puxados dessa forma. Alguns desmaiaram e eles continuaram sendo puxados”, relatou a mãe, que preferiu o anonimato.