A criminalidade em Mato Grosso do Sul teve um aumento recente nos crimes de homicídios: 22,9 casos estimados por 100 mil habitantes. 

Conforme explicado no Atlas da Violência, divulgado na terça-feira (18), de maneira geral nos estados nos últimos anos, o homicídio é a violência letal gerada pelo conflito armado resultante da expansão das facções criminosas Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital, de origem nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente. 

Os grupos vêm se aliando e cooptando gangues locais menores em busca do controle do tráfico de drogas nas grandes capitais e no interior. 

Mas por que Mato Grosso do Sul? A atuação dessas facções permeia desde a entrada da droga no país pelas regiões de fronteira.

MS é cenário de guerra entre facções

Autoridades públicas federais, conforme o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), apontam que cerca de 80% da cocaína e maconha que entram no país passam por esse território. E é justamente o controle pelo tráfico de drogas que gera conflitos entre as facções.

O aumento nos crimes de homicídios em MS, por exemplo, é por conta disso. No estado vizinho, Mato Grosso, por exemplo, os crimes tiveram maiores percentuais e ainda aumentaram. O Comando Vermelho ficou ameaçado com a entrada do PCC na região. O PCC, por sua vez, não tinha o domínio da rota rodoviária para escoar a droga para São Paulo e Paraná.

Com isso, devido aos conflitos, membros do CV deixaram a facção e criaram a Tropa Castelar, que se aliou ao PCC.

Na prática, esses conflitos no estado vizinho também são vistos em MS. No início deste ano, só nos primeiros três meses, 6 morreram durante a guerra entre facções em Sonora, cidade a 361 km de Campo Grande, e que faz divisa com Mato Grosso.

A pesquisa ainda mostra que, em 2022, MS teve o terceiro ano seguido de crescimento da taxa estadual do crime de homicídio. Ponta Porã (33,7), por exemplo, que faz fronteira com Paraguai, tem uma posição estratégica como entreposto do narcotráfico internacional de drogas. 

facções

Disputa na divisa com MT

Janeiro registrou morte de um empresário, por engano, após um atirador tentar matar o funcionário dele em briga por facção. Já em fevereiro, confronto com a polícia terminou com dois supostos integrantes do Comando Vermelho mortos na cidade.

Em março, atentado em ginásio de esportes deixou mais dois mortos e um ferido, também palco da disputa pelo tráfico na região. Dia 28 de março, Jose Augusto Pereira da Silva, de 28 anos, conhecido como ‘Da Leste’, morreu em confronto com a polícia

Em abril, Sabrina Machado, funcionária de uma boate, foi atingida por engano. O alvo era um adolescente, de 13 anos, membro de uma fação rival aos autores.

Facções tentam controlar narcotráfico em MS

Rota para o tráfico de drogas, Mato Grosso do Sul acabou virando palco para embates entre as duas facções criminosas: PCC (Primeiro Comando da Capital) – que historicamente domina o Estado há pelo menos 25 anos, onde criou uma subsede da facção – e o CV (Comando Vermelho) – que agora tenta ‘invadir’ e dominar o Estado gerando guerra entre as facções.

Para o promotor de Justiça do estado de São Paulo, Márcio Sérgio, autor do livro Laços de Sangue – A História Secreta do PCC, em entrevista para o Midiamax, este embate entre as duas facções no Estado está longe de acabar, já que para o CV o Estado tem um papel importante na saída de drogas, assim como para o PCC, que tenta manter a sua hegemonia usando Mato Grosso do Sul como subsede da facção.

Neste embate que passou a surgir em Sonora, o promotor fala da relação de oportunidade que o CV viu ao tentar entrar no Estado para expandir sua rota. “Uma questão estrutural, e que deverá eclodir novamente com mais disputas entre as facções”, fala Márcio.

Mesmo depois da situação controlada pelas forças policiais que deflagraram a Operação Divisa, contra a guerra de facções, o promotor paulista não descarta novos embates entre PCC e CV. “Em algum ponto vai eclodir novamente esta disputa”, falou.