“Não como, não durmo, não saio de casa. Estou com medo e à base de medicamentos e indo a psiquiatra”. Esse é o relato da servidora do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), que denunciou o chefe direto por assédio sexual. O crime foi registrado na última sexta-feira (24), na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), onde o caso é investigado.

A servidora – que não teve nome e idade divulgados – trabalha no órgão desde o começo de 2023 e tem um cargo comissionado. Em entrevista ao Jornal Midiamax, ela diz que os assédios começaram há aproximadamente seis meses, mas, no início, ela não percebia o comportamento do chefe.

“Eu achava que ele fosse muito gentil, mas com o tempo comecei a perceber que aquelas situações não eram normais”, afirma.

Segundo a servidora, a situação chamou a atenção de colegas de trabalho que a alertaram sobre o assédio. “No início ele me oferecia carona, eu achava que estava tudo bem e aceitava, mas começaram a dizer que ele iria cobrar essas caronas e, então, comecei a me atentar às brincadeiras que ele fazia”, relata.

Mudança de comportamento e acusação de fraude

A servidora conta que, ao perceber que o chefe se excedia nos comentários sobre ela, começou a evitar a proximidade e passou a negar as ofertas de carona. Depois disso, o chefe teria mudado de comportamento e passou a tratá-la de forma hostil.

Além da mudança no tratamento, o suspeito também teria acusado a servidora de fraude. “A gota d'água foi quando ele me acusou de ter fraudado o sistema. Ele disse que retirei restrições de placas, mas o sistema mostra que as exclusões foram realizadas com dados de acesso que não são meus. Usaram o meu computador, mas outro login e outra senha”, garante.

De acordo com os relatos, na sexta-feira a servidora teve o acesso ao sistema bloqueado, sendo impedida de trabalhar. No mesmo dia, ela teria procurado à Delegacia e registrado no boletim de ocorrência. No dia seguinte, ela foi chamada para prestar depoimento sobre o caso que permanece em investigação.

O chefe acusado de assédio é servidor da Sejusp-MS (Secretaria de Justiça e de ) e está lotado no órgão estadual de trânsito.

Procurada pela equipe de reportagem do Jornal Midiamax, a Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul disse que se pronunciaria por meio da assessoria de comunicação da Polícia Civil, que emitiu a seguinte resposta: “O caso será investigado tanto pela DEAM quanto pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil. Sobre o eventual afastamento do delegado, trata-se de uma deliberação de competência do Corregedor-Geral da Polícia Civil”, explica.

A delegada AnaLu Lacerda, que está à frente das investigações, também foi procurada pela equipe de reportagem, mas não se pronunciou sobre o caso. Já o limitou-se a dizer que “as demandas relacionadas ao tema serão tratadas pela Polícia Civil”.