Ainda sem acreditar por tudo que passou, a adolescente assediada sexualmente por um funcionário do Instituto Mirim, em Campo Grande, falou da ‘destruição’ do seu sonho quando começaram os assédios, em dezembro de 2021. Este é o segundo registro policial contra o funcionário, que está no instituto desde 2002. A direção do Instituto alega que só tomou conhecimento do caso agora pela imprensa, mas a mãe da aluna conta que procurou a diretoria do Instituto Mirim para denunciar os crimes ainda em 2021.

A mãe da garota registrou um boletim de ocorrência nessa segunda-feira (10) depois que outro caso veio à tona envolvendo abusos a uma aluna de 15 anos. A mãe disse que não procurou a polícia na época dos crimes porque foi informada pelo instituto que “providências seriam tomadas”. Na época, a filha dela foi transferida de setor para não ter mais contato com o agressor.

A menina revelou detalhes do pesadelo que viveu. Os abusos aconteceram de dezembro de 2021 até agosto de 2022, quando ela resolveu sair do Instituto Mirim, depois de ficar com depressão e ansiedade causadas pela situação que estava passando. Ao Jornal Midiamax, ela disse que era um sonho entrar para a Mirim.

“Era meu sonho, queria aprender, que alguém me ensinasse”, lamenta. 

Mas, o que era para ser a realização de um projeto de início da carreira profissional se transformou em assédio sexual, perseguição e humilhações por parte do funcionário, que não teve as investidas aceitas pela aluna. Ela conta que o funcionário a chamava na sala dizendo que era para tratar de assuntos profissionais.

“Se era profissional por que ele trancava a porta da sala dele?”, questionou a adolescente, que afirmou que ele sempre se sentava ao seu lado e ficava passando as mãos em suas costas, pernas e chegou a dizer em uma das ocasiões: “Como posso ter uma morena tão linda assim aqui”.

Ela contou que mesmo negando as investidas do homem, recebia mensagens dele no WhatsApp. O funcionário do instituto trocou a função da adolescente e passou a persegui-la dizendo que ela “não servia” e a xingando na frente de outros alunos. 

A adolescente ainda revelou que o funcionário apelidava outros alunos de forma pejorativa, “tinha um menino negro que ele chamava de azul”, falou a garota. Outra aluna era chamada de “burra” na frente de todos e que não ‘prestava para nada’. 

Em uma das idas até a sala do funcionário, a adolescente contou que ele afirmou ser o responsável pelas notas dos alunos e que era uma pessoa muito nervosa. Ele ainda teria revelado ter uma coleção de armas guardadas na chácara de um familiar e que seria capaz de matar uma pessoa. 

Hoje, a adolescente está em tratamento psicológico no Caps Juvenil. “Só queria alguém que me ensinasse e não xingasse ou assediasse”, falou.

Segundo a mãe da adolescente, o caso foi levado para a direção do Instituto Mirim, que pediu para que ela deixasse que tudo se resolveria “dentro do instituto”, desestimulando que o caso fosse levado à polícia. Ainda segundo a mulher, foi dito que providências seriam tomadas, mas nada foi feito. 

(Foto: Reprodução/ Prefeitura de Campo Grande)

Outro caso

A mãe de uma garota procurou a DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) para registrar um boletim de ocorrência nessa segunda-feira (10).

Segundo a mãe da adolescente, a filha está no Instituto Mirim desde novembro de 2022. Desde então, o funcionário teria começado a assediar a menina, a chamando todos os dias para conversar no WhatsApp, informou a mãe da garota.

Ainda segundo o registro, o funcionário sempre sentava muito perto da menina e chegou a passar as mãos em suas pernas. Ele ainda obrigava que a adolescente mandasse sempre ‘bom dia’ e ‘boa noite’ para ele, e caso, não respondesse às mensagens, o homem ligava insistentemente até que a adolescente respondesse.

Na delegacia, a mãe pediu por medidas protetivas contra o autor. A adolescente passou por depoimento especial. Segundo a página do Instituto Mirim, no Facebook, o funcionário trabalha no local desde 2002. 

O que diz o Instituto Mirim

O Jornal Midiamax entrou em contato com o Instituto Mirim para saber sobre as medidas que estão sendo tomadas em relação ao caso, e em resposta foi informado que a questão foi levada para a assessoria jurídica. Confira a nota, na íntegra:

“Informamos que tomamos conhecimento da denúncia por meio desta mídia  e já estamos levantando as informações junto à assessoria jurídica do Instituto Mirim  para que sejam tomadas as providências legais cabíveis.”

Diante do relato da mãe de mais uma aluna vítima do funcionário de que o caso foi levado ao conhecimento da direção em 2021, a reportagem questionou mais uma vez o Instituto Mirim sobre os assédios, e aguarda retorno.