O advogado Bruno Ghizzi, ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e preso durante a deflagração da Operação Courrier, pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), entrou com pedido de suspeição dos promotores do MPMS alegando ‘gravações clandestinas’.

A defesa do advogado entrou com pedido de suspeição no dia 3 deste mês alegando que os promotores do MP, após uma audiência por videoconferência, não teriam desligado as câmeras, quando foi pedido pela defesa para conversar com o magistrado Márcio Alexandre Wust.

“Ao se findar a audiência, e descumprimento de ordem direta em relação a ser desconectar da sala, toda gravação clandestina dos membros do Ministério Público caracteriza crime. A atuação ilegal dos membros do Ministério Público não se limitam somente aos réus, mas sim contra o Magistrado e o próprio processo, pois, os mesmo de forma deliberada ‘vazam’, provas de processos que tramitam em segredo de justiça, pois o processo em si, não trouxeram nenhuma prova que que corroborem sua acusação, e precisa na influência da mídia local, para controlar a narrativa, e criar falso perigo na liberdade dos réus”, fala a defesa.

De acordo com a defesa, os promotores fizeram ‘gravação clandestina’ enquanto o magistrado conversava com os advogados do réu. Assim, foi pedido pela suspeição dos promotores. “Ante de todo o exposto, requer o recebimento do presente pedido, que o Juiz reconheça a suspeição dos membros do Ministério Público e caso não entenda pela suspeição que o Magistrado remeta os autos para o Eg. Tribunal”, finaliza.

Já o MPMS afirma que a acusação de ‘gravação clandestina’ se refere a trecho da audiência de instrução. “Restou esclarecido que a audiência se consumava em sistema misto, pois havia advogados presentes na sala de audiência juntamente com o juiz que presidia o ato, ao mesmo passo que outros advogados, réus e membros do Ministério Público participavam em meio virtual, via transmissão da plataforma.” 

“Frente ao exposto, os membros integrantes deste Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado GAECO entendem não estarem suspeitos para permanência no polo ativo das ações penais decorrentes da Operação ‘Courrier’”, finaliza o parecer do MPMS.

O defensor público Helkis Clark Ghizzi, pai do advogado Bruno Ghizzi, se tornou réu no âmbito da Operação Courrier, que apurou a chamada Sintonia dos Gravatas, conseguiu liberdade provisória, após pagar fiança de mais de R$ 39 mil, no dia 17 deste mês.

Courrier e filho de defensor público

Peça-chave das investigações da Força-Tarefa da Polícia Civil e do Gaeco sobre a Sintonia dos Gravatas do PCC, Bruno Ghizzi tinha fontes para conseguir dados sigilosos. O advogado é filho do defensor público afastado de suas funções e depois preso na última fase da operação. 

Com servidores da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul e até funcionária de empresa de telefonia, ele obtinha informações privilegiadas que beneficiavam as ações em que atuava. Assessor jurídico na Defensoria em MS, citado em relatório do Gaeco, opinava a respeito de valores cobrados pelo escritório do advogado, para prestação de serviços, e inclusive elaborava documentos e procurações.

Ele também fazia consultas a cadastros públicos, como o CADSUS, sistema interno do local onde trabalha. O servidor não era concursado e, segundo a Defensoria Pública de MS informou à reportagem, foi desligado logo após a Operação Courrier. A exoneração foi publicada oficialmente no dia 30 de março.

Conforme o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Bruno também conseguia informações sigilosas de empresas de telefonia celular através de uma funcionária do setor administrativo, que conforme consultado em página pessoal, atua há mais de 10 anos no mesmo local.

Através dela, o filho do defensor público de MS conseguia números de telefone e cadastros de pessoas físicas. Outro servidor da Defensoria Pública de MS apontado no relatório do Gaeco fazia consultas ao banco de dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) para o investigado.

É esclarecido que o advogado, com “auxílio de terceiros, sistematicamente violaria o sigilo de dados de pessoas diversas, no Estado de Mato Grosso do Sul, para atender interesses pessoais”.

O Midiamax também já noticiou que um policial penal auxiliava Bruno Ghizzi. Em uma das ações, o servidor público teria agido a favor do advogado e do cliente, que estava preso.

O policial penal teria articulado em exame criminológico — de progressão de regime — a obtenção de um parecer favorável para livramento condicional do preso. Assim que conseguiu sair, o preso foi jantar e tomar um chopp com o policial penal e o advogado.