Defensor público é afastado em nova fase de operação contra ‘Gravatas’ do PCC

Mandados de busca foram cumpridos em Campo Grande, além de medidas cautelares

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Foto: Henrique Arakaki/Arquivo Midiamax

Nesta quarta-feira (1º), foi deflagrada nova fase da Operação Courrier, a ‘Maître’, que significa Mestre. Ao todo foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão, além de aplicação de medidas cautelares diversas da prisão. Um defensor público teve as funções suspensas.

Conforme as informações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), as medidas cautelares aplicadas foram de proibição de manter contato por qualquer meio com investigados da “Courrier”, além da proibição de acesso a órgãos públicos e seus sistemas, sobretudo à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, salvo quando intimado.

Nesta fase da operação, são apurados crimes de associação criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e violação de sigilo funcional qualificada. Esses crimes são atribuídos a um advogado apontado como “gravata” do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Tal advogado já está preso preventivamente. Também são alvos da ação o defensor público e o ex-assessor, também advogado. Ao todo, participaram da operação quatro promotores de Justiça, além de 20 policiais do Gaeco.

As diligências também foram acompanhadas pela Defensoria-Geral, pela Corregedoria-Geral da Defensoria Pública e pela Comissão de Defesa e Assistências das Prerrogativas dos Advogados.

O nome da operação faz alusão à forma pela qual os integrantes da associação criminosa referiam-se ao defensor público, denominando-o “Mestre”. Maître, em francês, que é tratamento conferido aos operadores do Direito.

Filho de defensor público de MS e apoio de servidores da Defensoria

Peça-chave das investigações da Força-Tarefa da Polícia Civil e do Gaeco sobre a Sintonia dos Gravatas do PCC, Bruno Ghizzi tinha fontes para conseguir dados sigilosos.

Com servidores da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul e até funcionária de empresa de telefonia, ele obtinha informações privilegiadas que beneficiavam as ações em que atuava.

Assessor jurídico na Defensoria em MS, citado em relatório do Gaeco, opinava a respeito de valores cobrados pelo escritório do advogado, para prestação de serviços, e inclusive elaborava documentos e procurações.

Ele também fazia consultas a cadastros públicos, como o CADSUS, sistema interno do local onde trabalha.

O servidor não era concursado e, segundo a Defensoria Pública de MS informou à reportagem, foi desligado logo após a Operação Courrier. A exoneração foi publicada oficialmente no dia 30 de março.

Conforme o Gaeco, Bruno também conseguia informações sigilosas de empresas de telefonia celular através de uma funcionária do setor administrativo, que conforme consultado em página pessoal, atua há mais de 10 anos no mesmo local.

Através dela, o filho do defensor público de MS conseguia números de telefone e cadastros de pessoas físicas.

Outro servidor da Defensoria Pública de MS apontado no relatório do Gaeco fazia consultas ao banco de dados do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) para o investigado.

É esclarecido que o advogado, com “auxílio de terceiros, sistematicamente violaria o sigilo de dados de pessoas diversas, no Estado de Mato Grosso do Sul, para atender interesses pessoais”.

O Midiamax também já noticiou que um policial penal auxiliava Bruno Ghizzi. Em uma das ações, o servidor público teria agido a favor do advogado e o cliente, que estava preso. O policial penal teria articulado, em exame criminológico — de progressão de regime — a obtenção de um parecer favorável para livramento condicional do preso.

Assim que conseguiu sair, o preso foi jantar e tomar um chopp com o policial penal e o advogado.

Operação Courrier

A ação, denominada Courrier — correspondência —, cumpriu ao todo 38 mandados judiciais. Conforme o Gaeco, a operação mira o núcleo Sintonia dos Gravatas, célula em que advogados usam de suas funções para transmitir recados aos faccionados presos, daí o nome da operação.

Ainda de acordo com o Gaeco, o grupo criminoso estaria articulando atentados contra a vida de agentes públicos, entre eles promotor do Gaeco e um juiz de Direito de Campo Grande. Garras, Batalhão de Choque, Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) também atuaram na operação.

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