No dia 22 de maio de 2011 a mãe de Marielly Barbosa Rodrigues, 19 anos, procurou a Polícia Civil em para registrar o desaparecimento da jovem. Três semanas depois, o corpo de Marielly foi encontrado já em estado inicial de mumificação, na área rural de , a 70 quilômetros, o que deu início à investigação que levou à descoberta do caso de aborto clandestino.

O então enfermeiro Jodimar Ximenes Gomes, de 51 anos, e o cunhado de Marielly, Hugleice da Silva, de 39 anos, foram denunciados e pronunciados pelo aborto e ocultação de cadáver da jovem. Nesta quinta-feira (15), eles vão a julgamento pelos crimes, em Sidrolândia, cidade onde teria acontecido a morte da vítima.

A denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e o inquérito policial, com os laudos periciais, apontam que Marielly teria morrido no mesmo dia em que a mãe procurou a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro para relatar o desaparecimento da filha. A jovem saiu de casa no dia 21 e não foi mais vista.

Traição, gravidez indesejada e aborto

A investigação policial aponta que Marielly teve relação com o próprio cunhado, Hugleice. Dessa relação extraconjugal, resultou uma indesejada da jovem, comprovada por meio de um exame feito em fevereiro de 2011. No mês seguinte, em março, Marielly conheceu um rapaz com quem começou a namorar.

A gravidez era mantida em sigilo, mas a jovem chegou a confidenciar para uma amiga, dizendo que “se a criança nascesse seria uma ‘bomba' para a família”. Foi então que ela e o cunhado teriam optado pelo aborto. Hugleice então conhece Jodimar, que morava na época em Sidrolândia.

No dia 19 de maio, conforme identificado pela perícia no celular de Hugleice, ele teria passado o dia em Sidrolândia. Já no dia 20, Hugleice e Marielly trocaram um total de 18 ligações telefônicas. No dia seguinte, em que a jovem desapareceu, eles foram até Sidrolândia na casa de Jodimar, também conforme apontado pelo MPMS e Polícia Civil.

Na residência, o então enfermeiro teria feito o procedimento de aborto na jovem. Uma prima de Jodimar que teria ficado ali para fazer a limpeza do local relatou que viu a vítima passando mal. O que se apurou é que Marielly, logo após o aborto, passou mal e faleceu. Ali, Hugleice e Jodimar colocaram o corpo da jovem na camionete do cunhado e levaram até a área de mata nas margens da rodovia MS-162, onde o corpo foi desovado.

Trecho da denúncia – Reprodução

Corpo de Marielly é encontrado

Foram três semanas do desaparecimento até o corpo de Marielly ser encontrado. O corpo já estava em estado inicial de mumificação, irreconhecível, sendo identificado pelos exames periciais. No dia do reconhecimento, Hugleice não teria olhado para o corpo, estava nervoso e saiu dizendo que não era Marielly.

No entanto, foi identificado que se tratava da jovem. A Perícia também identificou que Marielly já não tinha mais o feto, ou seja, o que para o MPMS comprova o aborto. A causa da morte não foi identificada, mas o indício é de que ela tenha sofrido uma hemorragia aguda, inclusive sendo identificado sangue perto da área pélvica do corpo da vítima.

A partir daí, sendo ouvidas testemunhas do caso, Hugleice teria confessado o crime, depois ainda tendo dito que teria sofrido violência psicológica da polícia. O MPMS pontuou que ele esteve com a presença do advogado em todas as vezes que foi ouvido, sendo impossível que o profissional permitiria tal fato.

Já Jodimar não chegou a confessar. Ele manteve a afirmação de que não conhecia Marielly, nem teria provocado o aborto. Os dois acusados foram denunciados em agosto de 2011 e pronunciados só em março de 2019, já 8 anos após a morte da jovem.

Condenado por tentar matar irmã de Marielly

Hugleice foi condenado em 2020 a 12 anos e 3 meses de por tentar matar a esposa, irmã mais velha de Marielly. O crime aconteceu em 2018, quando ele teria flagrado mensagens no celular da esposa e esfaqueado ela no pescoço. Ele ainda teria amarrado a vítima depois de esfaqueá-la.

Na época de sua prisão, ele teria dito que estava arrependido do crime. Hugleice acabou preso em pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) na BR-163. Estava foragido após a tentativa de feminicídio no Mato Grosso.

Confusão da Justiça e liberdade

Em setembro de 2020, Hugleice acabou solto por uma confusão da Justiça de Mato Grosso. Mas, após ser solto, Hugleice se apresentou à Justiça. Ele estava preso pela tentativa de feminicídio. A confusão seria por causa de outro processo que ele responde e teve a prisão revogada, que seria por conta do aborto que acabou na morte de Marielly.