Nesta quinta-feira (18), a ex-promotora do Ministério Público de e agora candidata a deputada federal Gabriela Manssur esteve com exclusividade nos estúdios do Jornal Midiamax. Especialista em violência contra a mulher, ela veio a para ouvir mulheres que a procuraram, relatando terem sido vítimas de assédio sexual por parte do candidato ao governo estadual Marquinhos Trad (PSD).

Assista à entrevista na íntegra no fim da reportagem.

Então no cargo de promotora, Gabriela atuou no caso emblemático de João de Deus, que se dizia médium curandeiro e se aproveitava da situação de vulnerabilidade de mulheres que o procuravam para cometer atos de estupro e abuso sexual. João de Deus chegou a ser preso, mas atualmente responde aos crimes em prisão domiciliar.

Gabriela Manssur (@justicadesaia) é fundadora do Instituto Justiça de Saia – acesse o site do instituto NESTE LINK -, que já atendeu mais de 11 mil mulheres pelo Brasil.

Procurada por mulheres que relataram terem sido vítimas de assédio sexual por parte de Marquinhos Trad, Gabriela veio a Campo Grande para ouvi-las. “Os relatos são ruins. São graves”, disse.

Ouviu vítimas que denunciaram assédio

Ao Midiamax, Gabriela contou que não teve acesso aos autos das denúncias contra Marquinhos Trad, já que a investigação é sigilosa. “Desconheço a acusação formal, porém sei que existe o inquérito policial”, disse. Ela ainda relata que conversou com mulheres que a procuraram e relataram os assédios.

“Acusações graves que, em tese, podem ser consideradas assédio sexual no trabalho, importunação sexual, estupro”, afirmou. A ex-promotora ainda pontua que o candidato teria se valido da vulnerabilidade social dessas mulheres para cometer o ato. “Conversei com várias vítimas, os relatos são ruins. São graves”, disse.

O que Gabriela diz ter percebido ao ouvir as vítimas é que o candidato trocava os favores sexuais, algumas vezes contra a vontade das vítimas, por benefícios, se valendo da vulnerabilidade dessas mulheres. Ela também esteve com a delegada atuante no caso, Maíra Pacheco, da Deam ( Especializada de Atendimento à Mulher).

Não acredita em jogo político

Questionada sobre o momento em que as denúncias contra Marquinhos Trad surgiram, uma vez que são casos ocorridos em anos anteriores, Gabriela afirma: “Se eu tivesse visto algum tipo de armação ou jogo político, eu não estaria aqui”. Ela relata que as denúncias teriam surgido justamente porque as vítimas estão inconformadas.

“Inconformadas como uma pessoa como essa pode ser candidata a um cargo tão importante”, disse. Sendo assim, as vítimas acabaram decidindo denunciar. “Ninguém está acima da lei e ninguém pode se valer do poder para abusar sexualmente de mulheres. Uma hora a casa cai”, afirmou ainda a ex-promotora.

Gabriela ainda lembra que as mulheres que estão procurando a polícia e denunciam terem sido também vítimas de Marquinhos acabam se unindo e dando apoio às outras. Questionada sobre possíveis ameaças que tenha recebido, Gabriela finaliza: “Já recebi muita ameaça na minha vida. Quem já conseguiu processar alguém que se diz acima de Deus sabe o peso do exercício dessa missão e dessa profissão que eu escolhi”.

João de Deus condenado

João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, já foi condenado por alguns dos crimes sexuais dos quais foi acusado. As penas já somam mais de 100 anos de prisão. Condenado por abusar sexualmente de mulheres durante atendimentos espirituais, João de Deus acumula sentenças por estupro, violação sexual mediante fraude e porte ilegal de armas.

Ele ficou preso entre dezembro de 2018 e março de 2020 no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, mas deixou o presídio para cumprir pena em regime domiciliar por pertencer ao em caso de contágio pela covid-19. Desde então, é obrigado a usar tornozeleira eletrônica e está proibido de manter contato com testemunhas e vítimas.

Denúncias de assédio sexual

Mais de 10 mulheres já procuraram a Deam alegando ter sido vítimas de assédio supostamente cometido por Marquinhos Trad. O último caso noticiado pelo Midiamax foi de uma servidora, que foi perseguida pelo então deputado após pedir formalmente um ‘favor', enquanto servidora, algo que seria benefício para a categoria.

Ela procurou o então deputado junto com um colega e, a partir daquele dia, passou a ser importunada por mensagens no WhatsApp. Na época, o namorado da vítima, também público, sequer acreditou que a vítima estava sendo perseguida sem ‘dar brecha', o que também a desencorajou a denunciar, além de se sentir coagida pelo poder que Marquinhos já exercia naquela época, em meados de 2015.

Após as primeiras vítimas procurarem a delegacia e o caso repercutir, a servidora criou coragem para denunciar. Ela apresentou prints das conversas que mostram o assédio e a perseguição por parte do parlamentar.