Perseguidos por opinião política, servidores da segurança pública viram alvo em todo país
Expor a opinião política em redes sociais tem ficado cada dia mais complicado para servidores da segurança pública, já que isso pode terminar em demissão da corporação por ‘transgressão disciplinar de natureza grave’. Muitos militares e policiais civis de Mato Grosso do Sul acabam virando alvos quando se expões nas redes sociais, como foi o […]
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Expor a opinião política em redes sociais tem ficado cada dia mais complicado para servidores da segurança pública, já que isso pode terminar em demissão da corporação por ‘transgressão disciplinar de natureza grave’. Muitos militares e policiais civis de Mato Grosso do Sul acabam virando alvos quando se expões nas redes sociais, como foi o caso do investigador Tiago Henrique Vargas.
No Rio de Janeiro, o soldado ‘bolsonarista’ da Polícia Militar, Gabriel Monteiro, acabou expulso da corporação, nesta terça-feira (4) por ‘transgressão disciplinar de natureza grave’ por tratar de forma desrespeitosa o ex-comandante da Polícia Militar. De acordo com o presidente da Associação de Praças da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Eduardo Ferreira dos Santos, existem muitos processos administrativos em aberto contra militares que acabaram expondo suas opiniões em redes sociais.
“Muitos militares acabam perseguidos por expor opiniões sobre a má gestão do Governo, as péssimas condições de trabalho, o que acaba indignando os policiais que nestes tempos de pandemia se utilizam das redes sociais para expor o descontentamento”, falou o presidente.
Ele ainda afirmou que muitos militares acabam sofrendo estas perseguições e muitos casos terminam em afastamento por problemas psicológicos e nos mais graves em suicídio. “Em tese, nós temos o direito de expressão, mas sabemos que nos bastidores as coisas são bem diferentes”, alegou Eduardo Ferreira. Ainda de acordo com Eduardo até o fim do ano um código de ética deve ser implementado para humanizar as relações dentro da instituição.
O Sinpol (Sindicado dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul) na época da demissão do investigador Tiago, classificou a atitude como um ato covarde e de perseguição do Governo. Tiago costumava criticar atos do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) nas suas redes sociais. O presidente do Sinpol, Pablo Rodrigo Teixeira, afirmou que todo servidor acaba sendo perseguido por fazer críticas, o que é inadmissível, “Policiais também tem direito de mostrar sua opinião”, concluiu.
A demissão do investigador foi publicada no Diário Oficial do dia 17 de julho. No dia 21 de julho, o juiz Ricardo Galbiati decidiu por negar a suspensão dos efeitos da penalidade de demissão ao ex-investigador Tiago Henrique Vargas, que fez críticas ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), por já existir ação semelhante em tramitação. Por isso, a Justiça também condenou o ex-policial a arcar com os custos do processo.
Tiago atuava como investigador da Polícia Civil e era lotado na cidade de Pedro Gomes, a cerca de 310 km de Campo Grande. Ele ficou em evidência quando envolveu-se em polêmica por criticar, em suas redes sociais, o deputado federal Eliseu Dionísio (PSDB), no ano de 2017. Depois disso, o investigador foi transferido, à revelia, de Campo Grande para o município de Pedro Gomes.
Vídeo
Em um vídeo divulgado por Tiago em suas redes sociais ele fala da demissão injusta e manda um recado para o governador, Reinaldo Azambuja. O policial conta que chegava de uma missão quando o delegado avisou a ele sobre a demissão. Tiago era investigador da Polícia Judiciária e já tinha se envolvido em polêmicas por expor nas redes sua opinião política. Além disso, teria inclusive sido transferido de Campo Grande para Pedro Gomes já como uma forma de punição.
Assim, no vídeo ele afirma que não está sendo demitido por ser corrupto, ou por crimes de extorsão e descaminho, além de nunca ter tido desvio de conduta. Também chega a dizer que não está sendo demitido pelo “desvio de mais de R$ 65 milhões em notas frias”, uma referência ao recente indiciamento de Reinaldo Azambuja pela Polícia Federal.
Também na gravação, o investigador lembra que era um sonho de infância ser policial civil e que passou dois anos estudando até conseguir ingressar na instituição. “Ia fazer 6 anos que estava na Polícia Civil e por minhas opiniões puramente políticas, minhas críticas voltadas a políticos e, especificamente ao governador Reinaldo Azambuja, hoje saiu a minha demissão”, lamenta.
Ao final do vídeo, Tiago manda uma mensagem a Azambuja e diz “De coração, que Deus abençoe sua vida. Não desejo mal a você ou a seus familiares, mas desejo que Deus faça justiça”.
Soldado ‘bolsonarista’
O youtuber, Gabriel Monteiro., foi expulso da Polícia Militar do Rio por deserção. A decisão foi publicada no boletim da PM de terça-feira (04). Segundo informações obtidas pelo Globo, Gabriel era lotado no 34º BPM (Bangu) e faltou o serviço para o qual foi escalado no dia 22 de julho deste ano. O youtuber permaneceu até o dia 31 sem dar qualquer satisfação sobre seu paradeiro à corporação e completou mais de oito dias de ausência, o que configura o crime de deserção previsto no artigo 187 do Código Penal Militar.
Gabriel já respondia a um processo administrativo disciplinar desde março deste ano, ocasião em que teve o porte de arma suspenso. O soldado, que tem mais de três milhões de seguidores nas redes sociais e é conhecido por defender o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), cometeu uma “transgressão disciplinar de natureza grave”, de acordo com a corregedoria da PM, ao tratar “de forma desrespeitosa” o ex-comandante geral da PM coronel Ibis Silva Pereira. O processo administrativo também poderia levar à expulsão de Gabriel.
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