A família de Luiz Fernando Duarte Franco, de 41 anos, morto por policiais militares em frente de casa, no Jardim Noroeste, diz que testemunhas desmentem a versão da guarnição envolvida na abordagem que resultou na morte do motoentregador, na noite do sábado (4).

Segundo o registro oficial, Luiz teria sido alvejado após fugir e supostamente disparar contra a guarnição. Quem viu o episódio, no entanto, relata que o homem estacionou em frente de casa  e, quando os policiais abriram a porta, já caiu do carro imóvel, desarmado.

O caso é o segundo em menos de 30 dias, que implica equipes da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul com suspeita de excessos ou erro tático.

No dia 5 de abril, uma guarnição do Choque abriu fogo contra um colega de farda na Via Morena. Ele foi atingido com vários tiros, ao invés do ‘double tap’, dois tiros usualmente usados para conter suspeitos em abordagens, mas escapou com vida. Nesse caso, segundo a polícia, o soldado estaria embrigado e foi baleado ao ser flagrando atirando na rua. O caso está na Corregedoria da PMMS.

Já o motoentregador, que trabalhava havia 3 anos na mesma empresa e se tornou avô na semana passada, não teve a mesma sorte. No velório de Luiz Fernando nesta manhã de segunda-feira (6), familiares e amigos reclamaram da ação policial desastrosa e cobraram justiça.

Versão dos PMs: fuga e até disparos

Segundo o Boletim de Ocorrência registrado pelos policiais militares que estavam na guarnição envolvida, Luiz Fernando teria supostamente recebido a ordem de parada ao sair de uma estrada de chão próximo à Uniderp Agrárias em alta velocidade, mas teria ignorado e fugido no sentido do Anel Viário.

Ao realizar uma conversão à esquerda, ainda conforme os policiais envolvidos relataram, ele teria efetuado disparos em direção à viatura, momento em que os policiais teriam revidado. Após os primeiros disparos, ele ainda teria descido do veículo, na rua Ferreira Viana, com a arma em mãos.

Ao ser atingido, na versão dos policiais, ele teria soltado a arma e caído. Os PMs não informam quantos tiros foram disparados contra o motoentregador e alegam que não sabem devido à ‘rapidez dos fatos’. A equipe ainda registra que prestou socorro no local e levou a vítima para Santa Casa.

Na versão dos policiais militares, a Perícia ainda teria sido acionada e uma arma calibre 12, teria sido encontrada com 5 munições deflagradas.

‘Abriram a porta e ele caiu, imóvel’

No entanto, segundo familiares e amigos, Luiz Fernando nunca sequer teria tido arma de fogo. Ele não tinha passagens policiais e é apontado como ‘funcionário exemplar, honesto e educado’ pelo patrão e colegas da empresa onde trabalhava havia 3 anos.

A esposa, Solange Aparecida, de 40 anos, ainda questionou a informação oficial de que teria sido realizada perícia no local da morte. “Não teve perícia, os policiais mesmos recolheram as cápsulas do chão e já levaram ele (Luiz) morto para a Santa Casa”, relata. No hospital, a viúva teria tentado conseguir informações, mas sem sucesso.

Luis Fernando conheceu o neto recém-nascido, na semana passada. “Ficou um grande vazio na família”, chora Solange. “A polícia não deu defesa, ele morreu na porta de casa”, lamenta.

Ainda segundo ela, vizinhos teriam presenciado quando os militares, que estavam na perseguição, alcançaram o Ford Fiesta conduzido por Luiz, que parou em frente de casa. Eles deram ordem de saída do carro para Luiz, mas, como ele não reagia, os policiais teriam descido da viatura e, ao abrirem a porta do veículo, o motoentregador já caiu no chão, imóvel.

Testemunhas teriam ainda afirmado que ouviram mais três disparos contra o solo, e suspeitam que os tiros tenham a ver com uma tentativa de ‘encobrir’ o suposto erro na abordagem e perseguição desastrosa. O motoentregador foi colocado na própria viatura e levado para a Santa Casa, sem esperar equipes de resgate.

Cena não foi preservada

As cápsulas deflagradas teriam sido todas recolhidas pelos militares, e o veículo da vítima também foi levado do local. Segundo a família, o celular de Luiz Fernando sumiu e há dificuldade para conseguir informações na delegacia de Polícia Civil.

“Ele nunca se envolveu em uma briga, não tinha passagens, foi um ato de covardia da polícia”, conclui Solange.

O patrão de Luiz, contou que o funcionário estava na empresa há 6 anos, e era um funcionário exemplar, e muito honesto. A família disse que vai denunciar o crime. Um familiar que não quis se identificar resumiu como fica a imagem da PM apos abordagens que terminam mal: “Trata-se de uma patrulha despreparada, medrosa, inapta e incompetente para a segurança pública de Mato Grosso do Sul”, reclamou.

A Sejusp e a PM ainda não se manifestaram oficialmente sobre o episódio.