‘Ele ameaçou minha família e eu fiquei cego’, diz sobrinho que matou agiota a tiros

Miguel Arcanjo Camilo Júnior, 32 anos, foi interrogado na tarde desta segunda-feira (16) sobre o assassinato de Oswaldo Foglia, em julho deste ano, em Campo Grande. “Ele falou que ia atrás da minha família, ameaçou matar minha esposa e minha filha, aí quando ele virou as costas, eu fiquei cego”, relatou Miguel. O acusado também […]

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Miguel é acusado de matar o tio em julho deste ano / Foto: Midiamax
Miguel é acusado de matar o tio em julho deste ano / Foto: Midiamax

Miguel Arcanjo Camilo Júnior, 32 anos, foi interrogado na tarde desta segunda-feira (16) sobre o assassinato de Oswaldo Foglia, em julho deste ano, em Campo Grande. “Ele falou que ia atrás da minha família, ameaçou matar minha esposa e minha filha, aí quando ele virou as costas, eu fiquei cego”, relatou Miguel. O acusado também contou sobre a relação que tinha com o tio, negócios envolvendo dinheiro e a cobrança de R$ 150 mil, que Oswaldo afirmava que teria que receber do sobrinho.

A relação com o tio foi saudável por cerca de dois anos, até março deste ano, quando a esposa de Miguel encontrou uma mala com documentos no estabelecimento do casal. “Havíamos adquirido há pouco tempo e ela foi limpar. Ele [Oswaldo] ia viajar, me pediu para deixar a mala lá e escondeu em um armário de arquivos. Eu já nem lembrava dessa mala”, conta. Ao encontrar a mala com cadeado, a esposa de Miguel teria cortado, acreditando que seria do antigo dono do estabelecimento.

Na mala, a mulher encontrou documentos da esposa de Oswaldo. “Ela viu que conhecia o dono, levou para casa e não mexeu mais. Na curiosidade, eu abri e descobri vários documentos que comprovavam que ele trabalhava com agiotagem”, revela Miguel. Quando Oswaldo chegou de viagem, o sobrinho contou que a esposa teria aberto a mala. “Ele ficou transtornado, falava que a gente estava armando contra ele”, diz.

Miguel que é proprietário de um estabelecimento de frios, assumiu que tinha vários negócios com o tio, até imóveis no qual Oswaldo colocava em seu nome e afirmou que chegou a ganhar dinheiro com isso. No entanto, revelou que após descobrir que o tio era agiota, pediu para que não fizessem mais negócios juntos. “Falei para ele, vamos parar por aqui”, afirma.

Dívida e cobranças

Para ‘acalmar’ uma cobrança do tio, Miguel fez três cheques de R$ 50 mil. Isso porque passou a ser ameaçado para assumir uma dívida que não era dele. O pagamento deveria ser feito por um fornecedor de queijos de Miguel, que também prestou depoimento nesta tarde.

O fornecedor contou que conheceu Oswaldo através de Miguel e o teria contratado para cobrar uma dívida de R$ 350 mil. “O combinado era que se o devedor pagasse, o Oswaldo receberia 30% do valor”, contou o fornecedor. No entanto, o método usado por Oswaldo não agradou o homem. “O cara que me devia me ligou e disse que o Oswaldo estava ameaçando a família dele de morte, foi aí que eu liguei para ele e disse que não queria mais o serviços dele”, contou o fornecedor.

O homem então teria questionado o valor que cobraria pelo que já tinha gasto, quando Oswaldo cobrou R$ 2 mil, que foi pago pelo fornecedor de queijos. “Depois disso ele me ligava para perguntar da cobrança, e eu dizia que daquele jeito eu não queria”, disse. “Se passou cerca de um ano e meio, quando encontrei ele [Oswaldo] na loja do Miguel, quando ele passou a me cobrar, queria receber R$ 300 mil”, revela o fornecedor.

Isso porque antes a esse fato, o fornecedor teria contratado uma empresa para fazer a cobrança, que recebeu o dinheiro e desapareceu. “Eles receberam do cara que me devia, mas desapareceram, cheguei a registrar o boletim de ocorrência de estelionato”.

No entanto, Oswaldo acreditava que o fornecedor teria recebido a quantia e exigia a parte dele. “Foi a meia hora mais tensa da minha vida. Ele fazia uma pressão tão forte em cima de mim, ameaçava minha família”, disse o fornecedor. Foi então que em uma discussão, Miguel teria oferecido três cheques de R$ 50 mil, totalizando R$ 150 mil. “Eu não tinha cheque na hora e o Miguel se dispôs ao ceder o dele, que eu assinei atrás”, contou.

Miguel e o fornecedor acreditavam que os cheques acalmariam Oswaldo. O fornecedor chegou a mudar de cidade após as ameaças constantes que sofria.

Mas, o dia de vencer o cheque, o tio de Miguel afirmou que queria receber. Ele teria pressionado o sobrinho para fazer o pagamento no lugar do fornecedor, e quando ele negou, passou a então ser ameaçado. “Eu disse que era um problema dele, apesar de ter dado o cheque, eu não devia ninguém”, disse Miguel.

Dia do crime

No dia do crime, 16 de julho de 2019, o dia do vencimento do cheque, Oswaldo foi até a loja de Miguel por volta das 13h. O tio teria feito diversas ameaças e dizia que iria receber naquele dia. “Ele falava ‘eu vou receber esse dinheiro hoje’, chegou até fazer cavalinho de pau na rua”, disse Miguel.

Nesse dia, Miguel chegou em sua loja no final da tarde. “Uns 40 minutos depois ele chegou, começou a me ameaçar, eu nem discutia, só ouvia. Quando eu disse que não pagaria, ele falou que ia atrás da minha família, que ia matar a minha filha. A hora que ele virou as costas eu fiquei cego e atirei”, contou o acusado.

Miguel afirma que agiu para defender a família. “Foi o dia inteiro me ameaçando, quando ele falou que ia atrás da minha família, pensei agora ele vai fazer”.

Também prestaram depoimento funcionários da loja de Miguel, que confirmaram as ameaças que Oswaldo fazia constantemente.

O empresário que devia os R$ 350 mil e uma funcionária dele, também prestaram depoimento por videoconferência e confirmaram várias ameaças. “Primeiro era o próprio credor que fazia, depois só eram ligações, de ameaças de morte, de que estavam na frente da minha casa e iam me matar”, disse o devedor. O homem revelou que fez o pagamento a outro homem que se identificou como ‘Adilson’, que sumiu com o pagamento e não teria repassado a quantia ao fornecedor de queijos.

Foram ouvidas nesta segunda-feira (16), sete testemunhas de defesa, uma de acusação e uma de defesa e acusação. Miguel foi interrogado após todas as testemunhas serem ouvidas. Foi dado prazo para as alegações finais e agora cabe ao juiz, Aluízio Pereira dos Santos decidir se o acusado será pronunciado pelo crime de homicídio qualificado.

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