PM abre investigações internas sobre ações que, em 3 dias, deixaram 5 mortos

Militares foram afastados até avaliação psicológica

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Militares foram afastados até avaliação psicológica

A intervenção de policiais militares resultou em cinco mortes em três ocorrências registradas entre a véspera de Natal e esta segunda-feira (28). Em todos os casos, a ação se deu em casos envolvendo suspeitos de crimes, porém, um deles, resultou na morte de um jovem que passava de carro pelo local. Em todos os casos, segundo a PM (Polícia Militar) haverá investigação interna.

De acordo com o coronel Marcos Paulo, comandante do Batalhão de Polícia Militar de Choque, unidade à qual percentem a maioria dos policiais envolvidos nas ações, quando há dúvidas sobre a ação militar, os procedimentos são analisados em etapas e, por fim, se considerado necessário, os casos são julgados pelo Poder Judiciário.

“Primeiro é preciso entender que toda ocorrência militar – onde existe intervenção ativa dos policiais – resulta em abertura de inquérito policial. Feito isso, todos os policiais envolvidos são afastados imediatamente de suas atividades até resultado de uma avaliação psicológica”, explica o comandante.

A partir da abertura de inquérito, o Codigo de Processo Penal dá prazo de 60 dias para a conclusão das investigações. “O inquérito visa esclarecer as circunstâncias da ocorrência e definir se havia outra alternativa para o policial. O encarregado encaminha os dados finais para o Comandante, que estabelece o parecer. Depois, o caso é encaminhado para a Corregedoria da Polícia Militar, responsável pela correção e controle das ações militares, e avaliar se o relatório está completo”, complementa Marcos Paulo.

Por fim, o comandante explica que ao parecer final é dado pelo Ministério Público Estado. “ É ele quem vai avaliar se acata a denúncia, arquiva o caso ou se pede novas medidas para complemento do relatório”, completou.

Treinamento

Ainda conforme o comandante, toda ação militar deve ser baseada em três princípio básicos: necessidade, legalidade e proporcionalidade. “Os policiais recebem treinamento para isso, mas cabe a análise do Judiciário avaliar cada ação. Nos casos ocorridos nestes últimos dias, embora diferentes, envolviam atuação de bandidos e, talvez por isso, no momento da ação, os militares avaliaram como a saída mais cabível”, explica Marcos Paulo.

Outro fato relevante atribuído ao treinamento da Polícia Militar é quanto ao disparo de arma de fogo. “O procedimento manda mirar na altura do abdômen quando o infrator coloca vidas em risco. O risco da ação ser letal é grande. O importante é o policial saber exatamente quando agir desta forma. No caso que envolveu faca, por exemplo, o acusado feriu um militar com faca, e na percepção deles, caracterizou legítima defesa”, avalia o comandante.

No caso da morte do jovem inocente, o comandante acredita que o fato se trata de fatalidade, mas confirma que a ação do policial está sendo investigada. Segundo ele, todos os militares envolvidos serão afastados até resultado da avaliação psicológica.

A equipe do Midiamax tentou contato com a Comissão de Direitos Humanos da (OAB/MS) Ordem dos Advogados de Mato Grosso do Sul), mas não obteve retorno. O intuito era saber se o órgão acompanha ou estabelece intervenção nestes casos, especialmente no que envolveu o jovem inocente.

Relembre os casos: 

Assalto conveniência

Por volta das 22h30 de quinta-feira (24), um policial de folga matou um assaltante e acabou ferindo um motorista que passava pela Avenida Coronel Antonino, próximo ao terminal de ônibus General Osório, em frente a uma conveniência, em Campo Grande. O homem foi identificado como Fernando Trindade Gonçalves, de 30 anos. Ele foi atingido com 3 tiros, dois nas pernas e um nas costas.

O outro jovem ferido foi identificado como Wendel Lucas dos Santos, de 23 anos. Ele levou um tiro na nuca, quando passava de carro pela região, não resistiu ao ferimento e morreu no dia seguinte. Wendel estava com a namorada a caminho da festa de família, que acabou não acontecendo.

A ocorrência foi registrada na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro, como homicídio simples, lesão corporal culposa, roubo majorado pelo concurso de pessoas e roubo majorado pelo uso de arma. Na Polícia Militar, um inquérito foi aberto para apurar a atuação do policial, o soldado Flavio Luis Galioto dos Santos, de 33 anos, lotado no Batalhão de Choque da Corporação.

 

Ocorrência Bom Retiro

O jovem Rafael Vicente Canto, 22 anos, morreu com um tiro no abdômen após ferir um policial com uma faca no início da manhã da sexta-feira (25), dia de Natal. O fato ocorreu por volta das 5h30, no Bairro Bom Retiro, região norte de Campo Grande.Delegado Enilton Pires Zalla que registrou à ocorrência (Marithê Lopes)

Segundo as informações da Polícia Civil, a PM (Polícia Militar) foi acionada por moradores que reclamavam que havia um rapaz fazendo algazarra na Rua Dulcimar Martins Galvão. Quando os militares chegaram ao local, conforme o boletim de ocorrência, o jovem investiu contra os PMs com uma faca. Ele conseguiu atingir um dos três policiais no braço e abdômen.

Um segundo policial, que foi contê-lo, também foi ameaçado e quando Rafael foi investir contra ele, o militar efetuou dois disparos e um dos tiros atingiu o abdômen do rapaz e o outro o próprio pé do PM.

O caso foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro como resistência, homicídio e lesão corporal. De acordo com o delegado plantonista, Enilton Pires Zalla, Rafael tinha várias passagens pela polícia, era considerado um rapaz problemático e pode ser que ele estava sob efeito de drogas quando atacou os militares.

Roubo de carro

Dois assaltantes foram mortos durante troca de tiros, que aconteceu por volta da 1h da manhã desta segunda-feira (28), nas proximidades do lixão no Bairro Dom Antônio Barbosa, região sudoeste de Campo Grande. A dupla havia roubado o veículo na tarde do domingo (27).

De acordo com o subcomandante do Batalhão de Choque, major Pollete, os dois roubaram uma picape Fiat Strada vermelha após abordar uma idosa, de 69 anos, na Vila Belo Horizonte neste domingo (27), por volta das 16 horas.

No começo da madrugada de hoje, por volta da 1 hora, policiais do Batalhão de Choque receberam a informação de que a picape estava em um posto de combustíveis na saída para São Paulo, sendo abastecida. A polícia já suspeitando que o veículo fosse levado para o Paraguai montou uma barreira no macroanel, próximo do Bairro Dom Antônio Barbosa.

Major Pollete do Batalhão do Choque contou como foi o confronto com os ladrões (Arlindo Florentino)Meia hora após montar a barreira, o carro foi avistado seguindo em sentido a Sidrolândia. Foi dada ordem de parada e sinal de alerta, mas o condutor não obedeceu e acelerou na tentativa de fuga.

Os policiais desferiram tiros como advertência, mas como não pararam os policiais atiraram no pneu. O condutor da picape teve que parar e os dois ocupantes ao descerem, começaram a atirar nos policiais.

Houve troca de tiros e os dois foram atingidos no peito. Eles foram socorridos com vida e encaminhados para o Hospital Regional, mas não resistiram. Um deles foi identificado como Douglas Rocha Cavalcante, 21 anos, com passagem por roubo majorado, furto e receptação. (Texto sob supervisão de Marta Ferreira)

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