Falta diálogo: Campo Grande já registrou 285 fugas de adolescentes neste ano

Quase um caso por dia chega à polícia

De acordo com dados da Polícia Civil, 285 adolescentes abandonaram as casas e a família de janeiro até outubro de 2015. Dá quase um caso por dia, e todos foram acompanhados pela Depca (Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e ao Adolescente). Na maioria, a principal causa é a falta de diálogo entre pais e filhos, segundo a polícia.

Segundo o delegado Paulo Sérgio Lauretto, titular da Depca, quando os adolescentes fogem de casa, os pais costumam registrar um boletim de ocorrência por desaparecimento, mas depois é constatado que se trata de abandono do lar. Ainda segundo o delegado, na maioria dos casos os jovens deixam a casa por livre e espontânea vontade, principalmente por causa de conflitos com os familiares.

Abandono do lar

No dia 14, sábado, a adolescente de 14 anos, moradora do Jardim Montevidéu, foi tida como desaparecida pelo pai. A jovem morava com a mãe e o padrasto, mas em 2014 foi vítima de abuso sexual por parte do homem e passou a morar só com o pai.

Segundo o delegado Lauretto, na sexta-feira (13), o pai deixou a adolescente no colégio e decidiu conversar com a coordenadora, para saber como estava o desempenho da filha na escola. Segundo o relato do pai, ele ficou surpreso ao saber que o desempenho da menina era fraco. Então, ele foi orientado pela coordenadora a falar com a jovem para que ela fizesse aulas de reforço e acompanhamento psicológico e pedagógico para saber o que estava acontecendo.

Ainda conforme o delegado, o pai aceitou que a adolescente fizesse o acompanhamento e, depois que ele foi embora, a coordenadora conversou com a menina, explicou os fatos e contou que o pai estava sabendo do mau desempenho e que achava importante que a adolescente conversasse com a psicóloga. Porém, por medo da reação do pai, a menina acabou fugindo. Quando o homem foi buscar a filha na escola, deu conta que ela não estava mais lá e procurou a polícia para relatar o desaparecimento.

Na noite de terça-feira (17), a adolescente decidiu telefonar para um tio e contar que estava na abrigada em uma casa, também no Jardim Montevidéu. Ele a buscou e a jovem ainda deve comparecer na Depca para prestar esclarecimentos sobre o abandono do lar.

Constrangimento

Segundo Lauretto, todos os casos de desaparecimento de adolescentes são compartilhados com todas as forças policiais. Portanto, quando o caso vai para a Depca, tanto Polícia Militar quanto Polícia Civil são informadas e, se o adolescente é encontrado, ele é diretamente encaminhado para a delegacia.

Sendo assim, o jovem pode acabar passando pelo constrangimento de ser colocado na viatura policial e também levado para a delegacia para prestar depoimento. Além disso, a pessoa que abriga um jovem que foge de casa, pode responder judicialmente. Segundo Paulo Sérgio Lauretto, quando o pai nota que o filho chega com um amigo em casa, dizendo que o colega passará alguns dias, deve entrar em contato com a família para saber o que está acontecendo, ou diretamente com a polícia.

A pessoa que abriga um adolescente que foge de casa, sem informar os pais ou a polícia, pode responder por sonegação de incapaz e cumprir pena de 1 mês a 1 ano de detenção.

Falta de diálogo

Para o delegado Lauretto, o principal motivo para os adolescentes fugirem de casa é a falta de diálogo com os pais. Além disso, com a correria do dia a dia, os pais saem para trabalhar e os filhos acabam se envolvendo com pessoas de fora do convívio familiar e recebem influências que podem acarretar no desejo de fugir de casa.

Para o delegado, os pais devem sempre observar o comportamento dos filhos, pois a decisão de fugir de casa não acontece de uma hora para outra. O adolescente normalmente ‘prepara o terreno’, então os pais devem acompanhar possíveis sinais dos filhos que pretendem abandonar os lares.