Estudo de operadora de saúde liga cloroquina à redução de internações

Um estudo divulgado ontem pela operadora de saúde Prevent Senior aponta que o uso de hidroxicloroquina associado ao antibiótico azitromicina, em pacientes com quadros suspeitos de covid-19 e algum fator de risco, reduziu o número de internações pela doença. A pesquisa ainda não foi publicada em periódicos científicos e, segundo os autores e outros pesquisadores, […]

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Um estudo divulgado ontem pela operadora de saúde Prevent Senior aponta que o uso de hidroxicloroquina associado ao antibiótico azitromicina, em pacientes com quadros suspeitos de covid-19 e algum fator de risco, reduziu o número de internações pela doença. A pesquisa ainda não foi publicada em periódicos científicos e, segundo os autores e outros pesquisadores, apresenta limitações na metodologia que impedem considerar o resultado evidência definitiva da eficácia da hidroxicloroquina contra a infecção pelo coronavírus.

O estudo foi realizado por pesquisadores da operadora com pacientes, em sua maioria idosos e doentes crônicos. Para participar, o voluntário tinha de apresentar sintomas de síndrome gripal, como febre e tosse, e possuir algum fator de risco para complicação da doença, como idade acima de 60 anos, hipertensão ou diabete. Foram incluídos pacientes que, embora dos grupos de risco, tinham sintomas brandos, o que tornou possível que fossem monitorados a distância.

Participaram do ensaio clínico 636 pacientes, dos quais 412 fizeram uso da medicação e os outros 224 optaram por não fazer o tratamento. A opção de utilização ou não foi dada ao paciente, que assinou termo de consentimento e foi alertado sobre a falta de evidências. Aos que aceitaram se submeter à terapia, a hidroxicloroquina foi administrada durante sete dias e a azitromicina, por cinco dias. Entre o grupo que usou a combinação de hidroxicloroquina com azitromicina, 1,9% dos pacientes evoluiu para um quadro mais grave e foi hospitalizado. No grupo que não fez o tratamento, o índice de internados foi maior, de 5,4%.

Segundo os pesquisadores, o resultado indica que a combinação de drogas pode atuar contra a replicação viral nas células, o que reduziria o risco de complicações pela doença. “A ideia desse modelo de tratamento surgiu ao percebermos entre os pacientes internados que aqueles que tomavam a hidroxicloroquina quando já estavam muito graves não apresentavam grande melhora. Já entre os que faziam o tratamento nos primeiros dias os resultados eram melhores. O medicamento parece ter uma resposta melhor no período de infecção pelo vírus e não tanto depois que já se instalou um quadro inflamatório grave”, afirma Rodrigo Esper, médico e pesquisador da Prevent Senior e líder da pesquisa.

Ele destaca, porém, que novas pesquisas são necessárias para avaliar a ação do remédio. “Não é um estudo definitivo sobre o tema, mas é uma luz que traz uma possibilidade de tratamento. Mas é preciso ser responsável. Na pesquisa, os pacientes tiveram a indicação da medicação por serem do grupo de risco e após avaliação médica. Tiveram monitoramento diário. Não pode haver uma histeria coletiva atrás da hidroxicloroquina”, ressaltou.

Um dos riscos do uso indiscriminado são possíveis efeitos colaterais da medicação, como problemas cardíacos e na visão. Por isso, foram impedidos de participar do estudo pacientes com doenças relacionadas. De acordo com os pesquisadores, não foram notados efeitos colaterais graves entre os participantes. Duas mortes foram registradas no grupo que fez o tratamento, mas, de acordo com os autores, elas não estão relacionadas ao remédio.

Limitações

Para pesquisadores de outras instituições ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, embora o estudo seja importante para trazer mais pistas sobre a ação da hidroxicloroquina, ele tem limitações que não permitem afirmar que o resultado observado tenha sido causado exclusivamente por ação do medicamento. Os principais problemas, dizem os cientistas, são os fatos de o estudo não ser randomizado, ou seja, não ter tido uma escolha aleatória de pacientes que comporiam cada grupo, e a falta de confirmação do diagnóstico de covid-19 entre os participantes.

“É louvável a iniciativa da Prevent Senior de estudar o tema e criar conhecimento. Mas eles próprios reconhecem como limitação a ausência de randomização. É fato que você tem características diferentes no grupo que toma e no que não toma e isso pode influenciar o resultado. A pessoa que não tomou, por exemplo, pode ficar mais insegura diante de um agravamento de sintomas e procurar mais o hospital e uma internação do que o que está fazendo o tratamento. Pode até ser que esses resultados estejam relacionados somente ao remédio, mas pode ser que eles tenham impacto de outros fatores também, por isso precisamos de estudos randomizados”, afirma Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de pesquisa do Hospital do Coração (Hcor).

A médica Rachel Riera, coordenadora do Núcleo de Avaliação de Tecnologia em Saúde do Hospital Sírio Libanês e professora de medicina baseada em evidências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), concorda que a falta de randomização é um problema e acrescenta que outra limitação é o fato de o estudo ser aberto, situação em que pesquisadores, pacientes e avaliadores sabem qual paciente faz parte de cada grupo. “Quem definiu a alocação dos participantes em cada grupo foram os próprios pacientes, que decidiram ou não se tomariam o remédio. Isso é bem crítico porque pode haver diferenças de cuidado com a saúde entre o grupo que decidiu fazer uso do medicamento e o que não quis”, destaca.

Os pesquisadores da Prevent Senior reconhecem as limitações, mas dizem que o estudo foi feito dentro das condições possíveis em um cenário atípico de pandemia e com falta de testes. “Os resultados demoravam de cinco a sete dias. É um tempo que não podíamos esperar porque é o período em que os sintomas se agravam”, afirmou Pedro Batista, médico e diretor executivo da Prevent.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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