12 marcas e 600.000 funcionários no mundo

Após o escândalo dos motores a diesel com softwares que manipulavam os resultados de testes de emissões de poluentes, a admitiu esta semana novas mentiras, intensificando a crise na montadora alemã, que teve a nota rebaixada pela Moody's, e gerando nova queda expressiva na Bolsa.

Com suas 12 marcas e 600.000 funcionários no mundo, a VW reconheceu nesta quarta-feira novas “irregularidades” no controle de emissões de gases de outros 800.000 carros em todo o planeta, incluídos, pela primeira vez, cerca de 98.000 veículos com o motor a gasolina, segundo o ministro alemão dos Transportes, Alexander Dobrindt.

A agência de classificação de risco Moody's rebaixou nesta quarta-feira a nota da empresa, alegando que sua reputação e seus ganhos estão em risco com as crescentes denúncias envolvendo a adulterações de dados poluentes dos motores a diesel.

Segundo a Moody's, o escândalo – que não para de crescer – “coloca em risco a reputação da Volkswagen, o futuro das vendas e as receitas”.

O governo alemão considerou “sérias” essas novas revelações e lembrou ao grupo sobre o seu dever de esclarecer as informações de forma “transparente e completa”. A Comissão Europeia pediu ao grupo que acelere sua investigação interna.

Ao mesmo tempo, a sanção foi imediata nesta quarta-feira na Bolsa de Frankfurt, onde a ação da VW perdeu valor até atingir uma queda de 9,50% no fechamento, a 100,45 euros, com uma desvalorização de aproximadamente 40% em seis semanas.

Concretamente, veículos da marca VW, Skoda, Audi e Seat, com motores a diesel e a gasolina, emitem mais CO2 – determinante no aquecimento global – do que promete a Volkswagen.

O jornal alemão FAZ, que cita documentos internos dos serviços que se ocupam dessas “irregularidades”, deu como exemplo o modelo Golf Blue Motion da VW, que emitiria mais de 100 gramas de CO2 por quilômetro, em vez dos 90 g/km prometidos pela fabricante. A tecnologia “Blue Motion” deve supostamente garantir que esses veículos são particularmente respeitosos com o meio ambiente.

O ‘teto' imposto pelas normas europeias é de 130 g/km, e deve baixar progressivamente até 2020 a 95 g/km.

“Não é surpreendente que as emissões de CO2 nos transportes se mantenham elevadas (…) se somente em teoria os automóveis são cada vez mais limpos”, reagiu nesta sexta-feira o Greenpeace, que denuncia as “mentiras do setor automobilístico”.

A Volkswagen e sua marca Audi suspenderam a venda de automóveis a diesel nos Estados Unidos, após novas acusações por parte das autoridades no caso de carros equipados com motores adulterados.

A decisão de suspender a venda desses carros, tanto novos como usados, foi tomada um dia depois de a Porsche, outra marca de luxo do grupo, ter feito o mesmo com os Cayenne a diesel.

Neste caso os automóveis cuja venda será suspensa são: Audi A6, Audi A7 e Audi A8 e A8L, modelos de 2014 e 2016, informou à AFP um porta-voz da empresa. Os 4X4 Q5 e Q7 também estão implicados.

A Volkswagen deixará de vender a SUV Touareg 2014-2016, segundo a porta-voz. Touareg e Porsche Cayenne são modelos construídos na mesma plataforma.

Essas decisões também afectan veículos usados de modelos de 2013.

“Decidimos incluir os modelos que não foram questionados pela EPA porque eles são equipados com um motor idêntico ao instalado nos veículos apontados (pela agência)”, disse à AFP Bradley Sterz, porta-voz da Audi.

A nova mentira da Volkswagen foi descoberta graças a uma investigação interna no grupo, onde o novo presidente, Matthias Müller, prometeu uma absoluta transparência.

A Volkswagen, que presume um volume de negócios anual de 200 bilhões de euros, confessou em setembro que equipou 11 milhões de carros em todo o mundo com um software capaz de falsificar os resultados dos testes antipoluição.

Todos esses veículos devem agora sofrer um recall para ficarem adequados às normas, o que custará bilhões de dólares à Volkswagen. O grupo deve ainda enfrentar sanções financeiras, e será objeto de vários processos por parte de clientes e de acionistas, que perderam muito dinheiro pela queda no valor das ações VW desde o início do escândalo.

“Uma estimativa inicial coloca o risco financeiro do novo caso em dois bilhões de euros”, afirmou a Volkswagen em comunicado.

As revelações sobre o CO2 só chegaram um dia depois de a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) ter acusado o grupo alemão de violar as normas também com motores a diesel de três litros das marcas de luxo Audi e Porsche, e não só em motores menores, como se sabia até agora.

A Volkswagen desmentiu a instalação nesses casos de um programa fraudulento, mas, como comentou o editorial do FAZ, “quem mente uma vez deixa de ser confiável”.

Outro problema para o grupo alemão é que Müller, que assumiu em meio ao escândalo, era antes presidente da Porsche e “deve ter tido conhecimento do problema, embora isso ainda esteja por ser demonstrado”, disse o analista.

“Tudo isso causa um dano, é algo muito desagradável” comentou nesta quarta-feira no Handelsblatt Stephan Weil, o chefe de governo do Estado da Baixa Saxônia, que é acionista da Volkswagen e membro do Conselho de Vigilância. “Agora tudo deve ser posto sobre a mesa”, alegou.