Após câncer, britânica lamenta anos de ‘vício’ em bronzeamento artificial
Britânica usou câmaras de bronzeamento durante dez anos
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Britânica usou câmaras de bronzeamento durante dez anos
A britânica Laura May McMullan passou anos usando câmaras de bronzeamento artificial e até admite que era “viciada em bronzeamento”.
“Ser morena era ser eu mesma. Se eu não estivesse bronzeada, então eu não pareceria ‘comigo’”, contou ela à BBC.
“Bobagem, eu sei, mas era o jeito que me sentia. Estar bronzeada me fazia sentir melhor comigo mesma, eu costumava dizer que era um ‘tônico’ – fazia me sentir mais confiante e mais saudável”, disse.
Mas, em 2014, ela foi diagnosticada com câncer de pele e percebeu que o “desejo irresistível pelo bronzeamento não poderia ser mais doentio”.
Laura diz que não sabe de onde veio este desejo e que não tem uma personalidade propensa ao vício. Sabe apenas que não gosta de sua pele pálida.
“Achava que as câmaras de bronzeamento tinham o ‘poder’ de fazer você se sentir bem. E sei que a serotonina – o ‘hormônio da felicidade’ – pode ser liberado quando seu corpo é exposto ao sol.”
No Brasil, o uso das câmaras com o objetivo estético de bronzeamento foi proibido em 2009 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Segundo uma nota da agência, a medida “foi motivada pelo surgimento de novos indícios de agravos à saúde relacionados com o uso das câmaras de bronzeamento”.
“Um grupo de trabalho da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, ligada à Organização Mundial da Saúde, noticiou a inclusão da exposição às radiações ultravioleta na lista de práticas e produtos carcinogênicos para humanos”, dizia a nota.
Adolescência
Laura conta que começou a usar as câmaras de bronzeamento artificial aos 16 anos. Primeiro, apenas uma vez por semana. Depois, ela chegou a usar o aparelho todos os dias.
“Meus pais tentaram me dizer que eu estava danificando minha pele, mas nunca pensei nas consequências. Usei (câmaras de bronzeamento) por cerca de dez anos, indo a uma série de salões e também contratando o serviço em casa.”
“Foi minha escolha e não culpo ninguém pelo que aconteceu comigo. Mas naqueles dez anos nenhum funcionário de salão me deu qualquer conselho sobre minha pele ou sobre o nível seguro de exposição aos (raios) UV (ultravioleta).”
O vício de Laura em bronzeamento – artificial ou natural – até se transformou em piada entre os amigos e muitos também tentaram alertá-la. Colegas de trabalho sempre perguntavam qual a cor de pele que ela queria alcançar durante as férias, geralmente de seis semanas e envolvendo muita exposição ao sol, e ela sempre respondia: “mogno”.
Mudança
Laura diz que parou de usar as câmaras de bronzeamento artificial há cerca de 12 anos, pois começou a perceber um aumento de rugas na pele. E, em 2014, ela recebeu a notícia de que estava com câncer de pele.
“Minha vida mudou para sempre quando, no dia 5 de fevereiro de 2014, recebi a notícia do câncer. Meu noivo e eu estávamos passando duas semanas de férias em Fuerteventura (ilhas Canárias) e estávamos prestes a sentar na varanda com uma bebida refrescante depois de um dia lindo ao sol.”
“Recebi uma mensagem de texto me pedindo para ligar para o dermatologista, que tinha feito uma biópsia um mês antes em uma pintinha vermelha na parte de trás da minha perna.”
Laura tinha notado, pela primeira vez em julho de 2013, a marca avermelhada que parecia uma picada de inseto, mas sem coceira ou dor.
Quando veio a notícia de que a pinta era um melanoma, ela disse que ficou “enjoada, do fundo do estômago”.
“Fiquei abalada, mas sou uma pessoa extremamente positiva e tinha que acreditar que eu ia ficar bem. Estava nas mãos de alguns dos melhores especialistas em melanoma do mundo – e sabia que estava recebendo o melhor tratamento possível do meu médico e sua equipe no hospital em Manchester.”
No final de fevereiro de 2014, Laura fez a retirada do melanoma e também uma biópsia em um gânglio linfático, pois o câncer havia se espalhado. A britânica teve que retirar gânglios da virilha direita e optou pela retirada preventiva de outros na região pélvica.
Impacto
Em junho de 2014, Laura recebeu a notícia de que não tinha mais melanoma.
“Abracei o médico e pensei ‘é isso – posso tocar minha vida’. Eu deveria estar pulando de alegria, mas foi quando me toquei de meu corpo já não era mais o mesmo e de que eu não sabia o que estava acontecendo dentro dele”.
Laura lembra que perdeu totalmente a confiança, não conseguia ficar sozinha e, em alguns momentos, não conseguia andar direito e nem mesmo entrar em uma banheira.
“Não conseguia dirigir e, durante semanas, tinha um dreno preso à minha perna e tinha que me injetar (com medicamentos) todo dia para evitar coágulos”, disse.
A britânica começou a sofrer de depressão e a se perguntar se estaria viva em seis meses, no próximo aniversário, ou no Natal.
Ela também teve de lidar com os problemas decorrentes da retirada dos gânglios linfáticos da virilha, como o acúmulo de fluidos, que causou inchaço nas pernas.
“Posso viver com uma perna maior. Tenho que massageá-la duas vezes por dia, usar gaze de compressão e evitar qualquer picada de inseto e arranhões de animais. Não posso raspar minha perna.”
“Não quero que ninguém passe por toda esta dor – preocupação e trauma que eu e minha família passamos – só para ter a pele bronzeada.”
Laura contou sua experiência para um documentário da BBC e conseguiu convencer uma jovem a parar de usar as câmaras de bronzeamento artificial.
A britânica sempre pensa sobre a doença, mas conseguiu recuperar parte de sua confiança e até voltou a viajar para outros países mais ensolarados.
“Foi um grande teste, mas depois de superar meu medo inicial, consegui relaxar. Agora coloco um bloqueador fator 50 e saio; me cubro da cabeça aos pés. Francamente, quem se preocupa com minha aparência?”
Ela evita o sol do meio-dia, fica na sombra e usa apenas sprays que imitam a cor do bronzeado, pois ainda tem algumas dificuldades em aceitar a pele branca.
“Não tem como voltar a me deitar no sol de novo. Tenho que aceitar quem sou e minha aparência”, afirmou.
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